2009/11/29


wireless with strings attached: o contínuo e persistente vexame do wifi público em São Paulo

É pública e notória a antipatia que carrego pela Vex, empresa que oferece, aqui em São Paulo e outras cidades, um serviço de colocar pontos de wi-fi em estabelecimentos comerciais.

Meu problema não é tão contra a empresa. Me parecem ser bastante competentes, e oferecem um serviço interessante. Eles são a princípio flexíveis, mas a forma como foram "absorvidos" pelo mercado é que me dá raiva. Portanto que fique claro desde o início: a culpa no final recai é sobre os empresários que contratam o vex, e sobre os próprios usuários.

2009/10/24


Bastardos Inglórios

Acabei de assistir ao Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds), novo filme de Quentin Tarantino. Excelente filme!

Tem tudo o que há de melhor em filmes do Tarantino. O roteiro é excelente, com personagens muito marcantes. Bem escrito, atuado e dirigido. E a história é complexa, envolve dois "núcleos" se alternando... Eu fiquei com impressão, pelos anúncios, que o filme era realmente focado nos tais Inglorious Basterds do título, como se fosse tipo um Comando Delta. O filme não é isso! Essa impressão é só a infeliz incapacidade, até impossibilidade, de se divulgar com facilidade um filme desses contando exatamente como ele é em toda sua profundidade. Não existe por exemplo a hitória da criação do grupo de extermínio. Quando eles aparecem no filme, eles já estão formados e prontos para a ação. E existem vários outros personagens relevantes além do grupo.

Portanto, se você é um admirador do trabalho do Tarantino, e devido às propagandas bobas estava com medo de ser um filme menos elaborado do que todos seus anteriores, pode ir ver sem preocupação, porque trata-se de fato de mais uma pérola na coleção.

2009/09/14


Brazil, oil and hybrids

A little letter I sent to The Week Ahead, a podcast from The Economist...

2009/09/09


Nomes de redes wi-fi por aí

Este é um post com uma lista de nomes de redes wi-fi que coletei andando por São Paulo.

2009/09/01


Nokia N900 versus Apple Iphone 3gs

Lista de comparações do novo celular Nokia N900, que roda o sistema Maemo, com o iPhone 3GS. Baseado nesta mensagem.

Processador: É basicamente o mesmo em ambos, ARM Cortex-A8 a 600MHz, com ainda umas paradas gráficas (PowerVR SGX)...

Memória RAM: 256MB em ambos, mas o N900 ainda completa 1GB com memória virtual (tem a ver com o multitasking, veja à frente).

2009/08/23


Porco por lebre

Outro dia me foi entregue um panfleto informativo lá na melhor universidade da América Latina que começava explicando: “A gripe Influenza A (H1N1) é causada por um novo tipo de virus.”

Novo tipo de virus?!? Uma nova cepa, talvez? De onde tiraram isso daí de falar em novo tipo de virus?

As pessoas tentam ser chique, posar como sério, mas são muito mais bem sucedidos na aparência do que no conteúdo. É muita forma pra pouca função.


2009/08/15


Arraste-me para o inferno

Excelente o filme Drag me to hell do Sam Raimi. Cinco estrelas e dez caverinhas. Bem-feito em todos quesitos, aterrorizante e substancial.

O filme é maravilhosamente old school, mas atual. Fiquei muito feliz de não ter nenhum fantasma de 'frame drop'. Mata a pau e a facão todos filmes de terror dos últimos 666 meses.

2009/08/11


Fixing msmtp to send mails via gmail

Today I was going to send an e-mail using mutt, and received this boring message:

msmtp: TLS certificate verification failed: the certificate hasn't got a known issuer
msmtp: could not send mail (account default from /home/nwerneck/.msmtprc)



Yeah, it seems Google changed certificates again.

2009/07/31


Código e Fonte

Um post especial sobre mais uma qualidade do N800 que não mencionei na última listinha de 10 pontos.

Nossos leitores provavelmente já conhecem nossa preocupação com a questão da tipografia, um assunto relativamente recorrente por aqui nos últimos tempos. A vantagem que queria mencionar no N800, é tipográfica!

2009/07/28


Sobre meu N800

Meu tablete de Internete Nokia N800 chegou há quase uma semana. Ainda não sei se juntei experiência o bastante pra escrever um grande review matador, mas pretendo no futuro.

Mas existem algumas particularidades dele que eu não tinha me dado muita conta antes de começar a usar, e que chamam ou que deveriam chamar a atenção das pessoas. Aqui vai uma lista de 10 "pontos" a respeito do referido tablete, o que ele faz e não faz, pra ajudar as pessoas entenderem melhor do que se trata, e talvez me dizerem menos que "eu deveria ter comprado isso ou aquilo".

1_ Ele tem wi-fi. A idéia é ficar ligado na Internet o tempo inteiro, e por wi-fi que geralmente é rápido e barato se vc frequentar os lugares certos. O futuro não é mais apenas "mobile", é "mobile" e "always on". Celulares são "always on", esse produto, assim como outros da Nokia, pretendem explorar o "always on" que foi desbravado meio que inadvertidamente pelos celulares, e curiosamente não é um celular!...

2_ Não é um celular. Poisé, que pena. Muitas passoas se espantam porque estão seguindo esse novo paradigma de que é legal ter um celular cebolão. Eu sou contra, quero um celular mínimo. Por exemplo, não quero que o uso do celular em uma ligação telefônica me atrapalhe em minhas outras atividades com o dispositivo, e pra isso o certo é que o celular seja um dispositivo independente mesmo.

3_ Tem Bluetooth. Isso quer dizer, por exmplo, que vc pode usar um celular violento pra entrar na Internet através dele, se vc precisar muuuito entrar na Internet por celular. Dá pra fazer tudo mais que é possível com bluetooth tb. Usar teclados blutute, usar GPS por bluturfe, trocar pequenos arquivos, isso tudo aí...

4_ Continuando nas conectividades, ele tem uma portinha USB que, além de te permitir ligar como dispositivo escravo no computador (normal...) tem uma gambi que faz funcionar como porta tipo "host", te permitindo ligar todas coisas USBs. Não sei o quão bem isso funciona, mas se aguentar ligar qqr tipo de coisa, como joysticks e o escambau, isso é beeem interessante.

5_ Ele tem zilhões de aplicações, e tem uma tela enorme. É tipo um computadorzinho. Minha impressão é de que não é um celular que quer virar um computador, mas sim um mini computadorzinho, um netbook desidratado. Mas acho q não tem tantas aplicações quanto um iPhone da vida. Não posso julgar, não conheço o mundo os handhelds...

6_ Ele tem um verdadeiro "desktop" quando vc liga. O funcionamento da interface é muito como de uma interface gráfica de computador mesmo, adaptado pra tela touchscreen, com menos restrições do que interfaces de celulares. Celular é muito modal...

7_ Esse ponto é importante. O N800 é multi tarefa, vc pode rodar x aplicativos ao mesmo tempo (a memória é meio pequena, mas dá pra fazer muita coisa). Tem "copiar" e "colar". Vc pode entrar num browser, copiar algo, mandar prum amigo via IM, e depois copiar a resposta dele e jogar num blogger da vida, sei lá. Dá pra ouvir música fazendo outras coisas numa boa. Ouvi dizer que tem telefones e outros handhelds por aí que não funcionam assim. Como viver sem isso??? Deve ser uma vida completamente diferente. E por isso ser algo tão diferente, a comparação do N800 com esses outros aparelhos começa até a perder o sentido.

8_ O browser, baseado em mozilla, tem java e flash. Dá pra tocar vídeo no youtube. E também tem suporte a OGG, e outros aplicativos que só existem porque é uma plataforma de desenvolvimento bastante aberta. O dispositivo meio que caiu nas graças do público a queem era mesmo destinado: gente que curte Linux, e tem perfil de desenvolvedor. É gente que não se importa muito se um certo aplicativo não está funcionando direito, e gente que vai eventualmente resolver problema se ajudar toda a comunidade publicando a solução. Ou seja, ao mesmo tempo tem um pouco de "não é pra quem quer, é pra quem pode", e também "é pra quem quer coisas malucas que você vai ter que fazer pra vc mesmo".

9_ Ainda sobre o universo de desenvolvimento e disponibilidade de aplicativos. Não existem polêmicas sobre o que alguém vai deixar ou não fazerem pra ele. E tem muitas bibliotecas similares ao que existe em desktops. É uma plataforma de desenvolvimento quase tão aberta e convencional quanto em computadores pessoais.

10_ Pra completar 10... Nunca usei celulares "cebolão" nem maçãzão, não sei bem como é a experiência de ir usando ali o touchscreen com diferentes programas... mas estou muito feliz com a idéia de botarem os botões da esquerda ali. Tem o "d-pad", tem um botão que vai pro desktop, tem um botão pra abrir o menu do aplicativo e outros. Ajuda muito. Ah, e não vamos esquecer o suporte que te deixa apoiar o telefone numa mesa a 45 ou a 67.5 graus ((180-45)/2 = 67.5). Outra coisa que não poderia viver sem!!...

Por hoje é só. Vou viajar hoje e aposto q vou passar a noite toda mexendo nele até acabar a pilha!!

2009/07/27


Formatos de arquivo e memórias flash

(Um artigo meio extenso e pouco elaborado sobre formatos de sistema de arquivo e memórias flash. Pode ter uma ou outra informação interessante que eu não soube explorar com a melhor habilidade narrativa possível!...)

Já se estabeleceu em nosso cotidiano o uso de memórias flash para armazenar arquivos. Pequenas e econômicas --- e caras --- elas estão em câmeras digitais, celulares, pendrives, palmtops, e mesmo netbooks. Dá até pra usar simplesmente como um disquetinho, se você tiver leitor de cartão em sua máquina.

Assim como disquetes, fitas e discos rígidos, a memória é antes de mais nada um simples "depósito de bits". Existe um mecanismo de endereçamento que permite a você ler e gravar dados com certas restrições. Mas ninguém lida com essa coisas direto, geralmente as pessoas querem usar são os serviços ofereceidos pelos sistemas operacionais. Os SOs criam arquivos com nome e data e permissões, apagam os arquivos, gerenciam o espaço livre no dispositivo, e ainda tomam algum cuidado pra ver se houve corrupção da memória, e lidam com esses erros.

Para fazer isso tudo é preciso antes decidir qual vai ser o sistema de arquivos utilizado na memória. Quando a gente formata uma partição está fazendo é isso, decidindo o formato, e eventualmente tomando as medidas necessárias pra inicializar essa memória, colocando lá algumas estruturas de dados iniciais pro SO trabalhar com aquele formato.

Diferentes formatos de sistema de arquivos possuem diferentes características, e podem também ser mais adaptados para mídias com diferentes restrições. Alguns vão ser melhores para arquivos maiores ou menores, por exemplo, ou mais ou menos velozes e mais ou menos seguros. As características também incluem limitações aos tamanhos de arquivos e da mídia, e ainda aos nomes dos arquivos (número e tipo de caracteres.)

Essa tabela na Wikipedia compara vários formatos diferentes. Entre eles existem alguns famosos, a começar pelo FAT, programado com contribuições do próprio Bill Gates e utilizado por produtos da Microsoft desde então, além de inúmeras outras empresas.

Um exemplo de como a formatação pode influenciar no espaço livre para armazenamento, veja essa outra tabela. Compare os discos de 90mm... Uma primeira curiosidade é que inicialmente a Apple utilizava controle de velocidade, permitindo um melhor aproveitamento da mídia magnética, ao contrário dos outros leitores de disquete que utilizavam velocidade angular constante. Mas isso é outra história...

Repare como que os disquetes de 90mm (3.5 polegadas) de alta densidade possuem tamanhos diferentes. O mais comum é 1440kB, mas o Amiga conseguia guardar 1760kB. No IBM-PC tb existia um macete pra conseguir 1680kB e 1720kB, que algumas empresas utilizavam pra distribuir seus programas e dificultar a cópia destes. Essa diferença de tamanho não é por causa de algo físico, como variação de velocidade de gravação, mas sim diferença na formatação dos discos. Um disco de 90mm não-formatado consegue guardar até uns 2000kB, dizem.

Discos flexíveis são geralmente tosquinhos, e ninguém espera uma formatação sofisticada neles. Se puder haver mais espaço e velocidade, ótimo... No caso de discos rígidos pode ser mais desejável uma formatação que permita mais segurança. Quando a gente faz RAID, por exemplo, está indo atrás de redundância e confiabilidade (e velocidade, às vezes), e não espaço de armazenamento. É um comprometimento.

A formatação FAT não oferece nada demais. Uma tabela centralizada localizada no início da partição anota a alocão de clusters de tamanho fixo para os diferentes arquivos. FAT possui alguns problemas conhecidos, em especial a fragmentação excessiva.

Existem muitos formatinhos simples --- ainda piores do que o FAT --- por aí, utilizados em aplicações específicas. Um exemplo é o iso9660, ou CDFS, utilizado em CDs de dados.

Um exemplo de formato mais moderno são os que fazem _jounaling_. Nestes formatos cada mudança aos arquivos é antes anotada em um diário. Se houver uma pane, a chance de você causar um erro sério ao seu sistema é bastante reduzida. Pode haver registro apenas de modificações aos meta-dados (nome de arquivos, etc), quanto dos próprios dados. O NTFS, por exemplo, é um formato que faz esse tipo de coisa. A principal diferença entre ext2 e ext3 também é o journaling.

Existe também uma família de formatos chamados log-structured que funcionam de forma bastante peculiar. Eles podem manter "vivas" versões mais antigas dos arquivos, que só vão se perdendo quando o espaço na memória acaba, e os dados antigos precisam dar lugar aos novos. Um formato baseado nesta idéia é o recente UDF, utilizado em DVDs e em discos óticos regraváveis (CD-RW). No mundo BSD também surgiu um tal LFS que segue a idéia. Existe ainda um conjuntos de formatos dessa família dedicados desenvolvidos especificamente para memórias flash: jffs2 e yaffs.

***

Agora chegamos ao assunto que na verdade me atraiu pra falar isso tudo. Comprei um cartão de memória (SD), e estou decidindo como vou formatá-lo. Eles vem geralmente formatados com FAT só porque as indústrias querem agradar os consumidores, permitindo a eles utilizar os cartões sem se preocupar com o assunto. E como a maioria das pessoas usa produtos da micros~1, eles formatam para eles. E o Windions suporta apenas o tal NTFS quando muito, e o arcaico FAT, recauchutado para permitir, por exemplo, nomes com mais de 8.3 caracteres...

Mas parece que pra usar NTFS tem que dar dinheiro pra microshort, e o formato tb nem é tão popular quanto o FAT, que acaba sendo então a escolha. Mas os problemas não terminam aí, porque a empresa de Redmond resolveu que vai capitalizar em cima do formato!

Como não tenho muita necessidade em ser compatível com windows (uma pequena partição FAT16 provavelmente vai atender minha necessidade de ter que copiar arquivos da máquina dos outros de vez em quando...), estou decidido a não utilizar o VFAT com que minha memória veio formatada. A pergunta agora é: qual seria o melhor formato pra escolher?

Os tais jffs2 e yaffs me parecerem a princípio ser a escolha ideal. Existe até um outro formato sendo desenvolvido pela Nokia, ubifs, também dedicado pra memórias flash. Só que aparentemente eles são direcionados apenas a memórias flash "internas", e não pra cartões... Cartões são desenvolvidos para se comportarem de maneira mais parecida com discos rígidos, e os formatos de escolha devem ser os que se usam neles. (Mas ainda estou confirmando a lógica disso.)

Uma das características que um jffs2 teria seria gastar a memória por igual ao longo do tempo. Acontece que memórias flash vão se degradando conforme você vai escrevendo em um certo ponto, então é bom fazer esse gasto espalhado por toda a memória, evitando ficar escrevendo sobre um mesmo local, modificando um mesmo arquivo, por exemplo.

Quando seu dispositivo é uma memória flash pura, o sistema operacional precisa vigiar esse tipo de coisa. Mas em um cartão de memória parece que existe um contrle interno que faz isso automaticamente, dispensando portanto o uso desses formatos de arquivo dedicados.

Não seria portanto indicado utilizar formatos como jffs2 em cartões SD. Eu li inclusive que o jffs2 pode ser bem mais lento do que, por exemplo, ext2, além de ser pior pra mídias muito grandes.

Outra característica de memória flash é que o problema da fragmentação não é tão terrível quanto em discos, já que não exist euma agulha que vai andando e lendo as coisas... Seria então um motivo a menos pra não utilizar FAT!

A escolha fica portanto entre ext2, ext3, fat, hfs+, udf, ntfs, reiserfs, lfs... E as considerações principais devem ser velocidade e leitura, eficiência de uso do espaço e segurança, considerando que o cenário é uma mídia removível de estado sólido, onde fragmentação nãodeve ser problema, e a questão de realziar um gasto homogênio da mídia também não seria problema porque o cartão já cuida disso sozinho.

Algo que podemos argumentar é que sistemas com journaling de dados vão fazer muito mais gravações do que os mais simples, e portanto vão gastar mais a memória. Mas talvez haja um ganho... Todos conhecem o problema de poder corromper o cartão se remover antes de tomar os cuidados necessários. Talvez o journaling ajude nisso.

Acho que vou fazer um teste, portanto. Criar umas 3 partições, fat ext3 e UDF e ver o que acontece ao longo do tempo!... Reporto daqui a um ano. :]

2009/07/01


Porque São Paulo é inadequada para a ciência

A cidade de são paulo é ruim para fazer ciência. Porque?

Dinheiro tem às pampas. Mas de que serve dinheiro? Dinheiro pra virar produto, pra dar resultado, tem que ser bem administrado e bem gasto. São Paulo, Sampa, a cidade de São Paulo, capital do estado homônimo, é entretanto cheia de gente louca. Gente louca não administra bem dinheiro, recursos e outras gentes loucas sob seu comando, e assim o tal dinheiro não é gasto onde deve.

Vamos começar do básico. A cidade é uma charada logística sem solução. O transporte é podre. Deslocar-se na cidade é uma tarefa hercúlea. Você tem que se ligar em coisas como horário do rodízio e estratégias pra evitar sequestro relâmpago. Tem ainda dois rios que cortam a cidade o que não ajuda em nada, além de avacalhar os caminhos possíveis, ainda fedem.

Façamos justiça ao metrô, faixas exclusivas e ao recente bilhete único, mas o fato de haverem coisas boas não significa que o resultado geral já é bom. Dizem, inclusive, que pela teoria o metrô paulistano já deveria ser bem maior do que é, porque senão a cidade ficaria desse jeito que é. Vamos ver se as obras aí desafogam. Quanto aos ônibus, São paulo continua tendo na minha opinião o 27o melhor sistema de ônibus dentre todas as capitais brasileiras.

O que isso tem a ver com ciência? Qualquer trabalho do tipo precisa que as pessoas possam "se distrair" um pouco. E precisa que haja um local onde haja um "ambiente de trabalho". Se você consegue morar do lado do seu ambiente, ou se torna sua própria casa nele, excelente. Não sei quem são os felizardos nessa cidade, talvez os vizinhos da favela São Remo. A região do portão 3 é tipo um gueto onde todos alunos da USP que vem de outras cidades são praticaemtne obrigados a irem morar. Se for o caso, e quem mora lá consegue ir e vir sem ficar irritado com as pequenas coisas estúpidas relativas ao transporte na cidade, então sou eu o louco por não ter entendido o recado e decidido vir morar no centro...

Poisé, o que mata são as pequenas coisas estúpidas. Um bom exemplo de fenômeno pequeno e estúpido que enche a paciência, e que vejo acontecer aqui em São Paulo com mais frequencia do que outras cidades que conheci é interrupção de serviços como águas, luz, gás e telefone. Não dá pra ser feliz... O pesquisador que tem que passar seus dias preocupado com pequenos incidentes do dia-a-dia como isso daí tem uma taxa de tempo distraído maior do que outros, não pode ser que não tenha um significativo impacto negativo.

Olha, eu era bastante zen antes de vir pra cá, capaz de ficar impassível frente a contínuas evidências cotidianas da estupidez humana. Mas perdi meus poderes mágicos. Agora eu vejo as filas que se formam pra pegar ônibus na frente da estação Marechal do metrô, e não consigo continuar pensando no meu problema da vez. Acontece que é um problema tão gritante que está aconetcendo na minha cara que é muito difícil negar e voltar ao problema que eu me havia proposto no meu trabalho. Tipo me liga um sinal de emergência assim: "Nicolau, esse seu problema é insignificante, não tem aplicação, não vai judar ninguém. Quem precisa de ajuda são essas 500 pessoas aqui na sua frente que estão tentando andar mas estão paradas."

Porque é assim o trânsito de São Paulo. As pessoas dizem que é uma "loucura", que é "caos", mas não é isso não. É letárgico, é tudo parado, inerte. Não é como água saindo de um esguicho de regar grama, nem o fluxo laminar que desejaríamos. É tipo uma gosma pegajosa fluindo em um cano tortuoso e flexível.

Enfim, o tempo do dia que você leva se deslocando pro trabalho e pra casa já é então uma "viagem perdida" que desanima trabalhar...

Aí vem o trabalho. As pessoas com quem você trabalha são um bando de loucos. Povo viciado em burocracia estúpida. Criam regras sem sentido só pra que existam relações de poder, sem se preocupar com a produção. O motivo das pessoas estarem juntas trabalhando é obedecerem umas às outras, é seguirem as regras.

As incessantes greves de funcionários tem a ver com isso. Eu já vi muita greve em universidade sim, conheço bem no mínimo a UFMG e UNICAMP onde estudei. Mas nunca vi lá greves como aqui. O clima da greve, os discursos... É tudo mais focado em política, em discutir quem é obrigado a fazer o que, em querer mandar nos outros, do que em falar sobre trabalho.

As greves são assim não é só por causa dos funcionários que organizam as rgeves não. Os chefes são uns loucos também. A comunicação é tortuosa. Os superiores são metidos e arrogantes. Eu li uma vez um texto acho que de Trotski falando sobre como a Índia havia conseguido fazeer a revolução que os libertou dos ingleses, mas não conseguira fazer a revolução que acabasse com o sistema da castas, e isso atrasava muito a vida deles. Não entendo nada da Índia (não tou acompanhando a novela), mas talvez a situação aqui em Sampa tenha a ver. A coisa não anda pra frente aqui porque tem tanta preocupação com poder, com determinar que casta manda em quem, quem são os bons quem são os que sobram. Santo deus, até as discussões sobre futebol aqui são diferentes do resto do Brasil. O jeito como os times vencedores menosprezam os perdedores aqui é diferente. Juro que é.

(Pode ser paranóia, mas esse texto é senão sobre minha percepção do mundo, você tire suas conclusões. Mesmo que seja verdade, eu viver essa fantasia é nocivo pro meu trabalho, e é no final o meu problema. Se viver aqui me faz pensar isso, então a culpa é da cidade do mesmo jeito.)

As coisas que eu já tive que passar aqui pra ter condições de trabalho... Você tem que "se virar" e "correr atrás" de tudo. Brigar pra deixarem você trabalhar. Comprar equipamento tem mais a ver com esbanjar sua grana do que com cumprir uma meta de trabalho. Eu já vi isso em outras universidades sim, mas acredito que este fenômeno tenha uma concentração especialemnte alta por aqui.

Laboratórios não procuram pessoas boas que possam ocupar suas vagas e produzir o máximo que aquele equipamento e pessoa podem. Não, são oásis em que se entra a convite do dono, ou boites exclusivas em que o fato de estar lá dentro é mais importante do que o que você realmente faz lá. Aquelas boites que lá dentro só vende assim vodka ruim a preço caro, tem música ruim e instalações ruins, mas como tá na moda você se acha o máximo porque entrou. Não é uma diversão "honesta", é só um lugar que você vai achando o máximo porque o número da boite no último ranking das melhores boites do mundo falou que aquela é a melhor da América Latina, ou então porque aquele é o lugar com a maior nota da revista Veja... E só marketing.

E a bagunça é tão generalizada que além dos problemas logísticos, e além do relacionamento difícil com seus colegas de trabalho, você ainda tem problemas pra se divertir!!

Sim, eu só estou escrevendo esse monte de coisa porque, além dos meus recentes problemas com luz, energia e telefone, e além da constante raiva com transporte, eu até hoje não me conformo com a dificuldade de tomar um bom cafezinho.

Nos finais de semana eu vou sim em alguns bons cafés. Mas perto do meu trabalho e da minha casa eu não consigo me satisfazer... Acho que jamais vou viver como nos meus tempos em Campinas, onde passava horas por dia lendo (e escrevendo) em diferentes cafés, num ambiente ideal. Eu não me sinto igualmente bem pra fazer esse trabalho nem em meus laboratórios, nem em casa. Tem que haver esse terceiro lugar. E aqui eu não acho.

Hoje tava lá numa padaria aqui perto de casa. Jantei e pedi um espresso. Tanto a xícara quanto o copinho d'água que vieram juntos (eu vou lá porque servem aguinha, então notem: não é qualquer botecão) estavam transbordando de alguma forma, tudo molhado. Assim como o choppinho que tomei. Mas tudo bem, que bobagem se preocupar com isso, né? Tava zen, numa boa, esbanjando meu dinheiro emprestado e vivendo minha burguesia reacionária e em recesssão na esperança de conseguir desenvolver finalmente na minha cabeça o cenpario completo do trabalho que preciso desenvolver nos próximos dias. Sim, estou aqui perdendo um tempo precioso tentando exorcisar esse assunto da minha cabeça agora e voltar pro trabalho...

Estava lá tomando café, sentado no balcão, conseguindo trabalhar mesmo apesar das conversas histéricas paralelas, da minha crise financeira pessoal e do serviço nem tão satisfatório. Aí vem um garçom / copeiro da padaria e pega meu copinho de água e joga dentro da minha xícara pra tirar, achando que tava vazio!!!...

Saiu voando café pra fora da xícara, fazendo do pires uma piscina negra. O cara diz assim "ah, achei que não tinha café mais. Ainda tinha?" Como assim "ainda tinha?"??? Claro que tinha, imbecil!

Já tinha flagrado esse idiota. Fica gritando merda o tempo todo, atira objetos do balcão pra dentro da cozinha. Todo nervozinho. O que é isso, stress pra voltar pra casa? Tem que buscar a mãe na zona antes do horário do rodízio, ou do estacionamento?

Eu já vi muito desses garçons que atendem demais os clientes sim... Tem restaurantes que eu vou, em BH inclusive, que os garçons vem a cada 5 minutos checar se a sua lata de refrigerante já acabou. É bem chato sim, mas não se compara. Eu estava no balcão, e o cara não simplesmente checou meu café e devolveu. Não, ele jogou a porcaria do copinho (que também estava cheio pela metade) dentro da maldita xícara, que fez um chafariz sombrio e escaldante quase tão aterrador quanto o ódio que transbordou de meu coração.

Pra que isso? Pra que jogar a droga do copinho dentro da xícara? Minha mãe, paulista, me ensinou que fazer esse tipo de coisa é falta de educação. Vai ver que assim como ela, os outros paulistas que sabiam disso deixaram também a cidade. Sobrou só gente que pensa o oposto.

O que esse cara tá fazendo lá? O que essa padaria pretende ser? Qual é a idéia de "tomar um cafezinho" dessa gente? Se a idéia é ser esse lugar que você não pode ficar 1 minuto parado, é só pra entrar comer e sair, faz logo um drive-thru com copinho descartável. Não faça esse simulacro de local agradável.

Ao meu lado, no alto do balcão, uma TV fica passava um anúncio: "Padaria, como é bom estar aqui." E a ironia estava completa.

O cara me ofereceu outro café. Eu não quis, eu só qui sair daquele lugar. Eu não quero comprar um café, eu quero comprar sossego. Da mesma forma que o que eu quero na escola não é conseguir ter o equipamento que eu quero. Não é questão de quais recursos eu tenho direito (como o café a que eu tinha direito). A questão é que eles sejam confiados a mim da maneira apropriada. Isso é o cerne da sociedade. Os fins dela, o que você ganha e dá após cada iteração, são um aspecto pessoal da coisa, é outro problema.

Por hoje chega, vai.

2009/06/30


Encontrando juros de parcelas iguais usando o Wolfram|alpha

Mais ou menos desde o Plano Real, se não me engano, foi que se tornou bastante comum no Brasil comprar coisas a prazo com parcelas iguais. O inferno desta prática é que os comerciantes tem mania de omitir o valor da taxa de juros cobrada. Eles anunciam apenas o valor da parcela, número de parcelas e, quando muito, o valor à vista.

Às vezes ainda falam que a parcela é um tanto e que à vista ainda tem um "desconto", o que é um papo furado danado porque na prática é o mesmo: um certo valor à vista, ou um certo valor a prazo que implica em uma determinada taxa de juros. Hoje em dia ainda tenho visto até gente anunciando coisas falando só o valor da parcela, não dizem nem quantas são! É bem verdade que são variáveis ligadas a dois planejamentos diferentes: um é de mais curto prazo: se você "dá conta" de pagar cada mês. O outro é de longo prazo: se vai ser estratégico ficar tantos meses com aquele dinheiro comprometido... Mas é sacanagem mesmo assim anunciar focando só no curto prazo.

Bom, se você vai comprar algo a prazo é muitas vezes bom saber o valor da taxa de juros ofertada, porque pode ser que valha a pena você comprar algo pegando um dinheiro emprestado de outro lugar, por exemplo, ou escolhendo outro vendedor. Você pode até mesmo simplesmente desistir de uma compra só porque a taxa de juros seria obscena!...

Acontece que, como já disse, é raro um anunciante dizer o valor da taxa de juros quando está anunciando o valor de parcelas iguais. Como fazer então pra descobrir o valor?

Infelizmente não é nada fácil. Mas qualquer engenheiro empolgado pode ajudar você, se precisar! Vou discutir aqui algumas simplificações possíveis de serem feitas, e no final mostrar como você pode calcular rigorosamente utilizando o maravilhoso Wolfram Alpha!

***

No limite de valores de juros relativamente elevados, e para um número grande de parcelas (como é o cenário vergonhoso do meu cartão de crédito, por exemplo) a gente pode fazer uma aproximação. O valor da taxa de juros é aproximadamente o valor de uma parcela dividido pelo montante (o valor à vista) subtraído do valor da parcela.

Notem como esta conta é parecida com uma outra: se o valor da taxa de juros fosse apenas o valor da parcela dividido pelo montante, isto significaria que você está pagando a cada mês apenas o valor dos juros do período, sem jamais caminhar na direção de quitar a dívida. Seriam infinitas parcelas.

Se você usar essa simplificação em outros casos (poucas parcelas, juros razoáveis...) pode terminar com um valor superestimado da taxa de juros. E quando a taxa é bem pequena existe outra aproximação que dá pra fazer, mas agora não estou podendo deduzir... Fica como exercício para o leitor. O que importa é o macete pra calcular o valor perfeito no Wolfram Alpha!

***

A solução ideal é uma conta meio complicada. Dá um polinômio sobre o valor dos juros de uma ordem tão grande quanto o número de parcelas. Pra deduzir você precisa utilizar a famosa conta da "soma de uma PG", uma amiga que sempre nos alegra rever...

Apesar da elevada ordem, esse polinômio possui apenas poucos termos, o que torna fácil de calcular, por exemplo, utilizando réguas de cálculo. Taí então um bom exemplo do tipo de conta que se realiza em matemática financeira que tornava tão comum o uso de tabelas de logaritmos e de réguas de cálculo nas antigas.

Hoje é possível pegar esse valores e jogar num computador pra fazer a conta sem se preocupar com nenhum detalhe dos processos. Em poucos segundos você recupera até mesmo as raízes imaginárias do polinômio, usando algum algoritmo sinistro de encontrar raízes, e ainda pode rodar tudo via Internet nas máquinas do Stephen Wolfram, utilizando o incrível Wolfram|alpha.

Sem mais delongas então, o que você precisa é entrar neste link. Ele possui uma conta de exemplo que eu realizei aqui pra descobrir os juros cobrados pelo Mercado Pago pra comprar a prazo um Nokia N800 usado. O número de parcelas é a primeira variável que eu defino, 'n'. O valor à vista é 'M' e o valor de cada parcela é 'p'. Substitua estes parâmetros pro caso que quiser e você vai ter na solução o valor, em porcentagem, da taxa de juros. Pura magia...

Ah, o Wolfram|alpha é tão fodão que ele deve ser até capaz de te dar os valores das outras variáveis também. Por exemplo, você pode dizer quanto é o valor de 'j' e tirar o 'n' da lista, e então descobrir em quantos pagamentos você pode comprar algo pagando um certo tanto ao mês... Isso pode ser bem útil na hora de pedir um empréstimo no banco, onde existe um limite do valor da parcela, e limites de número de parcelas dadas diferentes taxas. Você pode otimizar um empréstimo para pagar uma taxa menor, por exemplo.

O W|a pode ainda fazer gráficos muito loucos, etc. É uma potência esse bicho... Tá aí um excelente exemplo de uma conta que a calculadorazinha do Google não faz, pra quem gosta de comparar os dois sites

Agora, achei no Google foi este site que faz a mesma conta, e ele tem uma interface bonitinha pra quem estiver com preguiça de editar minha string lá...

Por hoje é só. Boas compras! Ou economias, porque você pode usar a mesma conta pra ir juntando uma certa quantidade de grana por mês em um fundo de investimento até dar um certo valor desejado, por exemplo. Um dia eu chego lá... Fica como exercício par ao leitor. ;)

2009/06/25


Perdi meu emprego por causa da greve da greve

Eu sou o bobo-alegre segurando o cartaz nessa foto do UOL.

Passeata anti-greve na USP muda de trajeto por temer violência de grevistas

É impressionante a capacidade dos fotógrafos jornalísticos de te flagrar no único segundo que você sorri em todo um evento. Sorte que eu não botei o dedo no nariz ou bocejei, porque eles iam adorar tb.

Vou contar a história desse slogan que alguns aparecem ter gostado, mas sem entender direito. Em primeiro lugar, é uma variação de uma piada muita antiga, que não tenho certeza se aprendi na MAD, mas foi em algum lugar parecido. A um tempo atrás havia um slogan, que é usado até hoje: "Vá ao teatro." Como campanhas teatrais podem às vezes ser um pouco insistentes chatas e radicais demais, algum engraçadinho inventou um dia de subverter o slogan: "Vá ao teatro, mas não me chame." Eu só reaproveitei adaptando pro contexto atual...

Eu pensei em fazer esse meu cartazinho A4 "SMS" depois de pensar em muitos outros slogans. Um era: "democracia é respeitar as minorias". Cansei de ouvir em conversas sobre quem que é a maioria ou minoria. Pessoas debatem sobre se a maioria quer ou não a greve. Discutem sobre quem foi a maioria em assembléias... Isso não interessa tanto. Democracia não é a famosa "ditadura da maioria", democracia é uma situação onde minorias são respeitadas apesar de serem-nas.

Interessante comparar isso com aquele período da revolução russa em que a maioria "bolshevik" deixou de fora do poder a minoria "menshevik". Varreram-nos para a lixeira da história. Isso não é bonito não. Tem que deixar os chatos da minoria lá com suas manias...

Democracia é tolerar a existência de seus dissidentes, e até mesmo a necessidade de conviver com eles.

Então é isso. Eu não tenho nada contra o teatro. Eu até gosto de ir de vez em quando sim. Mas me deixa em paz, pô!

Não sou contra a greve não. Não gosto da reitoria, e sei que a greve não está ocorrendo à toa. Mas se eu ainda não me convenci que eu devo parar, me deixa trabalhar.

Meu protesto não é contra os trabalhadores em greve na USP hoje, e os alunos e professores apoiando-os. É antes contra a cultura do que assassinaram Trotski.

A propósito, fiz este pequeno cartaz usando o Inkscape, e a fonte é a DejaVu Sans, com as proporções levemente distorcidas.

2009/06/24


A diferença entre a tartaruga, o navio e os hackers

Existe um famoso texto que meio explica a idéia da cultura do software livre, acho que escrito pelo Eric S Raymond, chamado "A catedral e o bazar". Não pode ser dito um texto "fundador" do movimento, igual poderia ser dito para o princípio do Linux do famoso e-mail do Linus brigando com o Tannembaum, mas é um texto legal, bastante conhecido e citado...

Por causa deste e outros textos, e pela ação de muitos outros porta-vozes do movimento, hoje temos um número significativo de pessoas que se dizem aderentes desta filosofia, e reconhecem a diferença entre as duas culturas (da catedral e do bazar).

Tem gente hoje que meio se considera de uma "tribo dos fãs de produtos livres", o que inclui software e ainda arte de vários tipos, ou a Wikipédia e tal. E um fenômeno interessante que está havendo é que cada vez mais pessoas desta tribo não fazem parte de uma outra tribo muito relevante, os hackers.

Hackers e sua cultura estiveram no centro do desenvolvimento do software livre. Stallman RMS é um super hackerzão, e o mesmo vale pro ESR. Qualquer programador de compiladores e de coisas próximas ao sistema operacional, como drivers, são hackers queiram ou não, pela natureza destes programas... Funcionam numa área do sistema muito distante daquelas ilusões que hipnotizam os usuários.

Hackers sabem que telas de CRT são na verdade uma grande lâmpada que pisca a cada x segundos. Mais especificamente um pontinho de luz que vai correndo pela tela e mudando de cor. Eles não só sabem, como qualquer pessoa mais culta precisa saber, como ainda tem as manhas de vez ou outra se aproveitar disso pra fazer um dia algum programa que resolve um problema...

Hackers conhecem a fundo o detalhe de funcionamento das coisas, e exploram esse conhecimento para realizar às vezes proezas não imaginadas pelos usuários habituais, e por vezes nem mesmo pelos projetistas dos sistemas. Isso pode significar desde criar verdadeiras funcionalidades novas num sistema, até encontrar infelizes falhas de segurança. A ação de hacker de moral mais "flexível" explorando este tipo de falha de segurança encontrada rendeu à classe uma má reputação entre os leigos.

Mas como eu dizia, no princípio da cultura do software livre (e nem tanto das coisas livres em geral) boa parte dos usuários eram hackers. Programadores trocando entre si códigos hackers que faziam coisas hackers e permitiam aos usuários fazer coisas hackers. Isto significa, por exemplo, distribuir códigos-fonte e organizar os sistemas de uma forma "aberta", facilitando aos usuários hackers criar programas que saem por aí interagindo de maneira automática com outros programas dando origem a aplicações muito interessantes, às vezes até inusitadas ou inúteis, mas que muitas vezes exercitam os limites da tecnologia.

Mas aí tivemos coisas como o Setembro sem-fim. A tecnologia começou a ficar mais e mais acessível e a atrair mais e mais o interesse de pessoas nem tão hackers assim, seja por falta de perícia técnica, ou seja por não ver mesmo a graça no jeito hacker de ser.

Hoje temos um movimento software livre que é largamente povoado por não-hackers. Isso é a realização, até certo ponto, daquele sonho que muitos tinham de que o Linux "dominasse o desktop", se tornasse um sistema sendo utilizado por usuários comuns que geralmente usavam apenas o rwind0ws que vem "da fábrica". (Aliás outro fenômeno que começou a ter depois ali de 1993, isso das máquinas já virem da loja com o sistema operacional instalado, e eventualmente se tornar algo impossível você comprar uma máquina sem comprar um M1krozofd Wintous instalado ao mesmo tempo.)

O Linux dominou o desktop, pois. Não está sendo um domínio de larga escala, como eu mesmo achei que fosse ser. O que está havendo é essa criação de uma terceira cultura. É gente que não é hacker, mas que não usa wirdlowz. São talvez um pouco mais bem-informados do que a maioria dos usuários de Uimdols sim. Mas não acham legal ser hacker. Não acham legal "hackear" nada.

Uma marca pra mim que separa o hacker dos usuários não-hackers de Linux e FLOSS, é o Ubuntu. Quase todo usuário de Ubuntu que eu vejo São esses jovens que ignoram a noção de "hackear", e chegam até a se preocupam em se afastar da cultura hacker, porque sabem que são muitas vezes identificados como criminosos. Alguns até ACHAM isso. Mas aí querem se afastar porque isso atrapalha a grande "luta" deles de realizar lá o tal sonho de dominar o desktop.

Eu fico puto. Quer dizer, ficava, porque no começo achava que era uma coisa só: ser hacker e usar FLOSS. Hoje fui obrigado a entender que não. Os neófitos vieram, meio que tomaram a causa FLOSS pra eles das mãos de quem se preocupava com a causa, e jogaram os hackers na lixeira da história (se é que eles já não estavam chafurdando por lá esse tempo todo.)

Quem estava pouco se lixando pruma grande causa FLOSS continua sem se importar, tá lá escovando seus bits. Quem estava prevendo isso aí mesmo está batendo palmas. Eu sou de uma terceira categoria. Eu tive a ilusão por um tempo, e hoje vejo como era algo muito errado, de que a tal dominação do desktop seria uma conversão de toda a humanidade para se tornarem hackers cyberpunks malucos electro-hippies tipo o Stallman assim. Mas não!

A dominação vem dessa forma aí, formação de um público ciente da diferença entre FLOSS pra coisas como o Weird-OS dos Will Grates, mas que não é hacker não. Não tem as manhas e não ligam.

O motivo porque eu vim aqui hoje finalmente escrever esse texto, que já tava matutando há algum tempo, é que entrei aqui no site do FISL querendo ouvir a rádio do evento. O que eu queria? Entrar fácil no site, de preferência via elinks, meu browser favorito que funciona no console, achar rapidamente o URL pro stream da rádio, copiar e colar numa linha de comando e ouvir com o mplayer.

O que houve? Entrei no site via Firefox (só porque tava aberto!), cliquei num link que achei lá da rádio, e o que aconteceu? Primeiro um popup de alguma coisa que me pareceu ser um applet de Java perguntando alguma coisa que eu não li, oferecendo um checkbox que não sabia se era pra checar ou não, com dois botões. Aí apertei um dos botãozinho lá pra deixar ele feliz, e então apareceu dentro do browser um maldito playerzinho lá tocando a droga da rádio.

Ô diacho! Não é possível!! Me dá o stream!!! Hacker quer o URL do stream, pra abrir com o programa que quiser, de preferência um programa bem bizarro, que redireciona o stream entre várias coisas difíceis de explicar e justificar.

Mas não, não achei em lugar nenhum.

Sei lá, de repente eu que sou burro e não vi onde tava escrito, procurei no lugar errado. Mas isso não interessa. Se eles pensassem como eu o link estaria escrito num lugar que eu teria visto.

Situação? Hoje é mais fácil pra mim ouvir a CBN, de que eu descobri uma vez o URL usando engenharia reversa no site deles, do que a rádio do FISL. Eu até tentei rapidamente olhar o código fonte do site deles pra tentar descobrir o URL, não consegui. Logo, o FISL é tão hacker quanto a Rádio Globo. O nível de domínio técnico do pessoal do FISL é tão grande quanto o da Daniela Braun do IDG now.

Isso é ruim? Claro que não. Só tou falando, oras.

O mundo é feito de Daniela Brauns, oras. Eu já aprendi minha lição, no dia em que acabou minha adolescência: eu vivo no rabo da gaussiana, sou um outlier, e tenho que me conformar e deixar de ser chato.

Hoje gente como eu e o Stallman e sei lá mais quem (provavelmente muitos leitores deste blog) são conhecidos como "tards", de "retard" com ênfase em ser alguém do passado. Ubuntu é "legal" e Debian é "coisa de tard", que os retardados perdem tempo fazendo "errado" e os descolados "consertam" pra fazer o Ubuntu e tantos outras distribuições que "consertam" o Debian de alguma forma.

Essa visão tem muito a ver com a que eu mesmo tinha, mas agora adquiri uma perspectiva histórica melhor. FLOSS não representa tudo do movimento hacker, de forma nenhuma. Nós não somos portanto pessoas que pararam no tempo dos primórdios do FLOSS enquanto uma nova geração faz o "FLOSS 2.0".

Hackers são o que sempre foram e haverão de ser, FLOSS foi tipo um "spin-off", que nem mesmo dependeu só dos hacker pra existir, e não resume esta cultura (alguns hackers nem se importam com isso, tipo uns malucos que trabalham no alto das torres de marfim da IBM, Intel e ARPA desde os anos 1970). A associação das duas coisas (culturas FLOSS e hacker) não é uma dependência formativa, um não deixa de existir sem o outro...

Portanto podemos perguntar: qual a diferença entre um usuário de FLOSS e um de softwares proprietários? É meio difícil responder, viu... Por exemplo, nenhum deles paga pra usar o software (boa parte dos usuários de SW proprietário usam cópias piratas). A qualidade do software que todos eles usam é também, em boa parte do tempo, baixa. E estão todos cada vez mais dependendo mais de páginas da web baseadas em flash do que qualquer coisa, e isso é todo um mundo diferente daquele onde se separa FLOSS da alternativa.

Uma diferença importante hoje em dia entre o usuário de FLOSS e os outros é que quem usa software proprietário é muito bem-aceito por seus patrões, enquanto que o usuário de FLOSS é recriminado.

E os hackers? Vão bem obrigado!

2009/06/23


Falando bem, de vez em quando. ANATEL vs Telefonica e Huawei.

Eu costumo a sempre falar sobre como as pessoas jogam muito a culpa de problemas da Internet em usuários e em hackers, mas quem rpecisa ser cobrado são os administradores de redes, ISPs e os fabricantes dos equipamentos. Estes últimos em especial vivem meio cobertos do resto do mundo por uma nuvem mágica de proteção que faz com que muitas pessoas nem se dêem muita conta de que eles existem e de que possuem responsabilidades.

Estão saindo umas notícias desde o final da semana passada sobre a ANATEL brigando com a Telefónica por causa do Speedy que estão me deixando com uma muito boa impressão do órgão governamental. Há algum tempo o Speedy começou a apresentar umas falhas de vez em quando, entrando em perídos de várias horas fora do ar a cada tantos dias. A ANATEL já estava desde então no calço da empresa.

Agora recentemente a Telefónica anunciou um desejo de vender o Speedy, e se livrar dessa coisa inconveniente, mas a ANATEL interviu! Proibiu a venda até que se comprove que o serviço volte para um estado aceitável de qualidade. Abriu lá tb não sei quantos processos administrativos contra a Telefónica, e ainda contra a empresas que fizeram a certificação da empresa, e contra a própria Huawei, fabricante de roteadores que causaram (ao menos me parte) os problemas.

Fica essa notícia aqui então como exemplo do tipo de coisa que eu quero ver. Bota esses caras na parede, vai lá na fábrica e diz "amigo, esse seu equipamento não é bom o bastante..." É isso que falta, não é bater na cabeça dos usuários não.

Alguns links

Anatel proíbe Telefônica de vender Speedy http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u585185.shtml Veto à venda do Speedy prejudica provedores e novos clientes, diz associação

2009/06/20


A grave representação do voto, e o desagravo da greve democrática

As pessoas gostam muito de falar em representação em conversas sobre política. Dos legisladores esperam-se certos comportamentos porque "eles são nossos representantes". Quanto ao presidente discute-se se representa apenas seus eleitores ou uma maior parte ou mesmo toda população e pátria. O presidente de uma nação parlamentarista e seu primeiro-ministro constituem ainda outro problema. Já o judiciário nem é bom lembrar, ainda mais numa nação tão distante de eleger juízes como o Brasil. Algo um pouco menos distante, gosto de pensar, de pelo menos podermos eleger reitores de universidades.

Faz algum tempo que a questão tem me incomodado. Agora recentemente tenho ouvido falar muito em outro tipo de representação na política. Discute-se sobre grupos de pessoas reunidas em assembléias representam toda a população relacionada. Atualmente tenho visto com muito estes argumentos por causa dos movimentos grevistas na USP. Assembléias da ADUSP decretam lá greve com uma ou duas centenas de professores, enquanto os filiados seriam mais de mil. Organizações estudantis, que de fato podem se dizer os representantes "de jure" de todos alunos, na prática reunem frações muito pequenas do número de discentes das instituições de ensino. Debate-se então a tal "legitimidade" das decisões.

A verdade é que toda essa questão da representação é muito pouco pensada e muito mal-contada. E o principal motivo é a questão das votações, mais especificamente a forma mais comum de votação, a por "maioria simples", mais forte ainda quando trata-se de uma questão binária qualquer.

Votações desta forma fazem surgir a famosa "maioria", que nas ocasiões mais mundanas têm sua opinião empurrada goela abaixo da "minoria", que se torna vítima da infame "ditadura da maioria". A visão mais ingênua do que é democracia é isso aí. Votações majoritárias onde a maioria decide tudo e a minoria fica chupando o dedo.

E quando os votantes "representam" alguém, há toda essa idéia implícita de que se cada um dos representados estivesse lá, votaria igualzinho, e o resultado da eleição seria o mesmo desconsiderando problemas com o peso maior que deveria ter um representante de mais pessoas (e que na prática se resolve com mais assentos pro partido num congresso, etc).

Só pensando bem sobre o assunto a gente vê que não pode ser só isso. Democracia não é a ditadura da maioria, democracia é não só essa votação onde continuamente uma minoria pode se manifestar, mas é o processo alheio às votações. Democracia é todo mundo, mesmo que da minoria, poder falar numa reunião, por exemplo.

Democracia não é, portanto, decidir em votação de maioria simples qual é a opinião que "representa" o conjunto da população governada. Isso daí é uma coisa feia que a gente faz porque sente que não tem outro jeito.

Da mesma forma eu questiono a idéia de representação em geral como democrático. Os tais representantes existem por um questão de logística, e mesmo pela questão de que ninguém tem tempo e paciência pra se dedicar à atividade política tanto quanto é necessário em nossas vidas. É uma limitação imposta sobre o que realmente é democrático, que é na verdade o que é a tal anarquia: as pessoas vão se governando ali, localmente, e pronto.

Porque não faz sentido pra mim que uma pessoa de uma cidade, que quase nunca sai dessa cidade, realmente se importe muito em como uma certa li funciona em alguma cidade a mais de mil quilômetros de distância. Porque haveria de ser democrático o voto de um infeliz num extremo de um país carregar uma opinião que vai atazanar a vida de alguém que ele jamais vai conhecer ou influenciar de outra forma?

Imagine por exemplo um deputado votando sobre questões famosas como o casamento de homossexuais, aborto e pesquisa em células-tronco... Porque isso realmente tem que ser tão global? Qualquer um de bom-senso vai concordar que democrático é que uma coisa dessas fosse decididas apenas mais localmente. Isto só não ocorre porque queremos ter menos trabalho com debates, e queremos simplificar a burocracia do mundo, então botamos um monte de gente sob um mesmo "guarda-chuva" de um governão. Mas isso não é democrático, isso é uma infelicidade que nos torna mais afastados do verdadeiramente democrático.

Então não me venham com conversas acaloradas sobre quem representa quem. O que importa é cada um o que pensa, a vida de cada um. Não tou falando de "o voto de cada um", eleição não é algo democrático. Tou falando da vida de cada um mesmo. A pluralidade de opiniões e culturas e costumes. Esse é o mundo real.

Representação é só isso, é uma pecinha de teatro, é ficção. Votação é um resumo de orelha de um livro, escrito por um editor que só quer saber de vender. A democracia é a vida nossa aqui no mundo real, aqui na terra. Democracia é a cortesia com seu vizinho. É o respeito por membros de minorias sem nem ter idéia de quantos mesmo são as pessoas do grupo ou grupos em que essa pessoa possa se classificar, e dos grupos alternativos que relativamente podem formar maiorias e minorias.

Meu respeito à greve é a cada um entrar em greve ou não. Existe toda uma preocupação sempre sobre quando é decidida uma greve por uma assembléia, seja por pessoas das "folhas" da grande árvore de hierarquia administrativa, seja por representantes... Eu quero saber é da greve de CADA UM. A greve certa é aquela em que nem há votação nenhuma, a greve EMERGE de um grupo descontente.

Não vejo com os costumeiros maus-olhos que existem as pessoas que vão trabalhar enquanto "foi decretada" uma greve. Decreto não é bem o instrumento menos ilustre dos governos? A greve tem que vir de baixo.

Se um único funcionário de uma empresa resolve entrar em greve porque algo o incomodou, eu respeito. Acho que deviam haver leis quanto a isso. Eu pessoalmente sou esse cara por vezes sensível demais, passível de ficar muito chateado com algumas coisas que muitas outras pessoas, talvez "a maioria" das pessoas nem liga. Quero entrar em greve se descubro que uma maioria de pessoas maldosas em minha empresa gosta de praticar algum ritual bizarro como comer gatinhos vivos com as mãos no fim de semana. Pelo menos até passar o choque da descoberta e eu me convencer a democraticamente conviver com essas pessoas.

E aí entra outro ponto importante da democracia. A vida em sociedade só se torna possível quando você aprende a respeitar e tolerar quem não pensa necessariamente igual a você. Esse é o cerne da democracia, por vezes substituído lá pelo conceito das votações majoritárias por representantes das pessoas... Fazer isso é virar tudo de ponta-cabeça.

Enfim, respeito quem entra em greve, hajam ou não decisões de assembléias de muitas ou poucas pessoas.

Respeito igualmente, e o leitor mais perspicaz imaginava que estava vindo pra esse ponto muito importante, o famoso "fura-greve", aquele cara que vai trabalhar apesar de haver algum colega, ou vários colegas, um uma maioria de colegas, ou TODOS outros colegas trabalhando.

Deixa o cara trabalhar, uai. A vida é isso aí, cada um fazendo coisas de acordo com o que lhe dirigiu sua moral. Falem mal, mas não encham o saco. Não batam, não bloqueiem, nem puxem.

Essa conversa de sei lá quantos representantes apoiar greve enquanto sei lá quanto não apoiam, e sei lá quanto estimados estão de fato em greve e sei lá quantos outros não estão entrando efetivamente em greve, enquanto sei lá quantos outros nem tão sabendo da história, isso é tudo o tal mundo da ficção anti-democrática.

Cada um vai pro trabalho ou vai deixar de ir. Cada pessoa vai acordar de manhã e tomar uma decisão soberana. Vai ouvir jornal, vai ler carta de amigo, vai ler fórum em comunidade do Orkut, e vai ver se entra na greve ou não.

É assim com votação também. Depois de uma votação existe uma decisão sobre se a pessoa vai seguir o resultado da votação ou não. Essa fidelidade automática que se assume nos momentos antes da votação é coisa que só acontece mesmo entre amigos, pra votar bobagens tipo amigo-oculto no Natal.

Então chega, por favor, de debates vazios sobre quem representa quem, quem votou em o que, e quem foi que "traiu" o movimento, e quem tem "legitimidade" pra decidir a vida dos outros... A tirania dos dirigentes de sindicatos é pior do que a dos patrões, porque se veste em pelego de cordeiro.

2009/06/16


Rede de intrigas internacional

Interessante esta notícia (que conheci via Slashdot), Default Passwords Led to $55 Million in Bogus Phone Charges. É um bom exemplo de como as redes de dados por aí (no caso redes telefônicas) são mal cuidadas e administradas. São como edifícios onde as pessoas deixam as portas destrancadas, ou carros estacionados com a chave na ignição e freio-de-mão solto. Aí quando aparece um bando de “hackers” maliciosos roubando esses carros, e ou “invadindo” esses edifícios as pessoas logo se apressam em pedir que cortem as mãos dos moleques, mas não dão um pio à irresponsabilidade dos trouxas que foram explorados.

Aliás, que fique claro. A comparação com o roubo de carros com chave na ignição e invasão de casas destrancadas é só com relação à irresponsabilidade dos proprietários. O "crime digital" cometido ali é mais parecido com entrar numa casa só pra sair pela porta dos fundos, buscando um atalho. Fizeram um tipo de “gato”, usurpando recursos dos outros. Mas não gato de TV a cabo, mas sim um gato de telefone, que se compara mais com roubar eletricidade, água ou luz.

Mas essa última comparação ainda não é tão precisa. Olha ali aquele valor do prejuízo... 55 milhões?? Tenha dó. Adoro esses valores de prejuízo tirados da bunda. Acontece que há uma diferença entre telefonia e eletricidade, gás e talvez água. Essas coisas são bastante materiais, o preço delas é mais próximo do preço "de verdade". O preço de ligações telefônicas, especialmente internacionais, é outra coisa. É uma daquelas coisas que o preço tem menos a ver mais a ver com o custo real, e mais a ver com quanto você pode pagar.

Então não me venham com essa conversa de que são bandidos que causaram um prejuízo de milhões de dólares, porque é muito diferente de alguém invadir a rede de servidor de um depósito de café e fazer algo que cause a perda X toneladas do grão, por exemplo.

O mais preocupante da história toda é estarem "monetizando" com o esquema, e vendendo as ligações pra criminosos, mais especificamente terroristas internacionais não-estadunidenses, o que dá um "twist" de malevolência. Mas aí vale lembrar: não seria possível a um hacker-terrorista fazer isso pra "causa" dele, sem intermediários? Então qual é o tamanho da culpa carregada pelo perpetradores do ato criminoso (e dos atos terroristas maiores facilitados a longo prazo), e qual o tamanho da culpa dos pretensamente inocentes administradores da rede e produtores dos equipamentos cheios de falhas de segurança?

Quem mantém uma rede de dados passível de exploração por criminosos ou simples "moleques" é um pouco parecido com um vendedor de substâncias controladas, por exemplo, que não toma os devidos cuidados de identificação dos consumidores nas suas vendas, ou melhor: não deixa os produtos armazenados com a segurança adequada, podendo ser facilmente roubados por pessoas mal-intencionadas.

Então lembrem-se: além de bater na cabeça dos moleques digitais e terroristas internacionais, puxem a orelha dos administradores de sistemas e das indústrias, principalmente quando a omissão deles é menos de desconhecimento de falhas, e mais de preguiça ou ganância pra trabalhar mais e tornar as coisas mais seguras.

Segurança, além de ser em boa parte uma ilusão, ainda por cima custa caro. O golpe das indústrias é estender essa ilusão pra ainda fingir que seria tudo barato!

2009/05/28


Verdades inimagináveis

Esse post não tem corpo, é só o título mesmo. "Verdades inimagináveis". Pense nisso!... se for capaz. É um conceito instigante que pode conduzí-lo a muitos outros.

2009/05/23


Como definir um atalho para alternar a marcação de quebra de linha no modo longlines do emacs

Hoje fiz meu primeiro script mais complicadinho usando o lisp do emacs.

Acontece que estou fazendo uma mudança de hábitos. Eu costumava digitar textos do LaTeX no emacs no modo com quebra de linha e com o texto justificado. Só que isso não permite fazer buscas facilmente no texto por strings que tenham espaço no meio, porque se a justificação tiver botado mais um ou dois espaços, não bate. Então estou passando a usar o modo longlines, com o texto apenas alinhado à esquerda para visualização, mas na prática cada parágrafo é uma linha.

Como o longlines quebra o texto pra visualização, às vezes a gente fica sem saber se em algum lugar tem mesmo uma quebra de linha ou não. Pra isso ele tem os comandos longlines-show-hard-newlines, e longlines-unshow-hard-newlines, que ativam e desligam a colocação de um símbolo nos lugares em que realmente há quebra de linha. Parece até coisa de editores de texto tipo WIMP, como o OpenOffice e o ABI word, assim.

Pois bem, acontece que eu queria botar isso num atalho, porque eu só gosto de ver isso rapidamente pra tirar dúvidas. Então queria atribuir a uma única tecla um ligar e desligar desse show-hard-newlines. Não daria então pra fazer isso simplesmente atribuindo o comando, sendo que são dois!...

O que eu fiz foi colocar o seguinte script no meu "dotemacs":


;; Ativa longlines
(defvar my-state-hard t)
(defun my-toggle-longlines-show-hard-newlines ()
"Toggle longlines-show-hard-new-lines"
(interactive)
(if my-state-hard
( progn (setq my-state-hard nil) (longlines-show-hard-newlines) )
( progn (setq my-state-hard t) (longlines-unshow-hard-newlines) )
) )
(global-set-key (quote [(meta control return)]) 'my-toggle-longlines-show-hard-newlines)

Primeiro eu defino uma variável, que vai dizer se o "show-hard-newlines" tá ligado ou não. Aí eu defino uma função que confere o valor, e inverte, ligando ou desligando o lance conforme o caso. A função faz portanto um "toggle" da variável, e do modo.

Funcionou muito bem! Aqui mesmo, enquanto escrevo esse post, eu também estou usando isso. Escrevo os posts com o longlines tb pq se eu mandar o texto com quebras de linha elas são forçadas, e aí perde a formatação no browser.

2009/05/22


O papel da densidade do papel

Vi numa mensagem neste fórum que o cálculo da largura [da lombada] de um livro em milímetros seria realizado pela seguinte fórmula: número de páginas vezes a gramatura, dividido por 2000. Por exemplo, 80 páginas, gramatura 90 (bem comum para livros), daria 80×90÷2000 = 3.6mm.

Para entender essa fórmula, e o significado da constante 2000, é só botar a unidades de medida na fórmula.

Primeiro que não interessa quantas páginas, e sim quantas folhas. Como são duas páginas por folha, a fórmula deveria ser N [folhas] × P [g/m^2] ÷ 2000 [?] = l[mm]. A gramatura é dada por gramas por metro quadrado, e o resultado é em milímetros... O número de folhas é linear, e está simplesmente multiplicando o tamanho de uma única folha, então vamos esquecê-lo.

Vamos reescrever esta fórmula deixando tudo como multiplicação, e passando o resultado pra metros: P[g/m^2] × (1/1000) [?]= l×1000[m]. Pra sobrar uma unidade de metros no fim, esse valor deveria ser [m^3/g], o inverso da densidade volumétrica. Jogando o fator mil pro lado direto, temos enfim: P[g/m^2] ÷ 1000000 [g/m^3] = l[m]. Esse 1000000 aí, ou uma tonelada por metro cúbico, é a densidade volumétrica do papel. A gramatura dividida pela densidade volumétrica dá a espessura do papel. Da mesma forma, a gramatura dividida pela espessura dá a densidade...

Se você ler aquele fórum, vai ver que começa justamente falando diferentes valores para diferentes papéis. Todos aqueles valores na verdade circundam esta constante aí, de uma tonelada por metro cúbico. Segundo o que está ali, teríamos os seguintes valores de densidade:



off-set: 75,90,120 [g/m^2] / 0.11, 0.12, 0.16 = 681.82, 750.00, 750.00 [g/m^3]
couché brilho: 75,90,120 [g/m^2] / .07, .08, .11 = 1071.4, 1125.0, 1090.9 [g/m^3]
couché fosco: 90,120 [g/m^2] / 0.09, 0.12 = 1000, 1000 [g/m^3]

Os valores deveriam ser iguais para todas gramaturas de cada material... O couché fosco teria essa densidade de 1ton/m^3 da fórmula que o outro cara disse, o couché brilho seria um pouco mais denso, e o off-set teria a densidade menor, de 750kg/m^3. Ou seja, para uma mesma gramatura o off-set precisa de mais papel por metro quadrado, portanto deve ser mais grosso.

Talvez os valores não estejam perfeitamente iguais pra cada material apenas por causa dos arredondamentos de quem produziu estes "valores mágicos", mas existe uma possibilidade científica de haver essas diferenças: papéis como o couché brilho, se não me engano, recebem camadas de certos materiais sobre o papel. Assim sua gramatura é determinada pela gramatura duma camada de papel somada a uma camada desse outro material de espessura constante, e aí o valor realmente não seria o mesmo pras diferentes gramaturas... Mas duvido que seja isso que aconteceu aqui.

Então é isso, anotem esse número: a densidade do papel couché é aproximadamente uma tonelada por metro cúbico (tipo a densidade média de um CARRO!), e off-set é 3/4 disso. Agora sabendo a gramatura de um papel vc pode se virar pra achar a espessura, e sabendo a espessura vc pode se virar pra achar a gramatura.

2009/05/19


O lobo que soprou nas bolhas dos porquinhos



Estou adorando ver os delírios e mais completas aloprações insólitas das pessoas tentando explicar por aí, em comunicações rápidas de blogs tweeters e outras buzzinas digitais, do que se trata o tal Wolfram|alpha lançado essa semana.


Quase todo mundo insinua que vai concorrer com o Google. Insinuam ainda que vai concorrer com a Wikipédia... Alguns juntaram isso, disseram que o alpha seria "Google + Wikipedia".


Vamos começar por aí. Inventar um "Google + Wikipédia"? Ora, mas isto é o mais completo absurdo! Em primeiro lugar, já é perfeitamente possível utilizar o Google pra fazer buscas na Wikipédia. É assim, aliás, que eu mesmo quase sempre consulto a Wikipédia: a partir do Google. Faço isso porque o mecanismo da Wikipédia é meio fraquinho, e não considera errinhos de sintaxe, por exemplo (aliás, acho que estão mudando mas nem sei.)


Agora vejamos. O que é o Google? A bem da verdade, em boa parte do tempo o Google _É_ a Wikipédia. Tem muitas consultas que você faz no Google que o primeiro link que aparece é a bendita. Vai lá, procura no Google (no gringo!): "Platypus" (ornitorrinco). O que parece? Pra mim apareceram primeiro resultados de imagens, e a seguir? Wikipedia. E depois um monte de bobagem.

A Wikipédia é o destino natural pra qualquer busca de conteúdo enciclopédico. É o lugar para se ler sobre temas como a pequena era do gelo, a hipótese da língua inglesa ser uma língua crioula, ou ainda encontrar coisas como listas detalhadas de posições sexuais.

O Google serve pra achar coisas na Internet como um todo. É uma ferramenta meia-boca pra achar todo tipo de coisas, porque os sites por aí são todos meia-boca, e se você soubesse exatamente onde tem algo, estaria indo direto, ao invés d e procurar no Google.

Exceto, é claro, quando vc usa o Google como uma terceira função: o de catálogo de bookmarks. Eu tenho muitos sites que eu só acesso pelo Google. Escrevo lá a busca que eu sei que vai mostrar o site, aí entro. É preguiça de usar os bookmarks do meu browser, e de decorar o endereço... Eu decoro a busca do Google. Se o Mozilla tivesse um jeito fácil de buscar nos meus bookmarks, talvez eu usasse.

E existem, é claro, outros produtos do Google como busca de imagens, vídeos, o gmail, etc, mas isso não vem ao caso, tamos falando só do lance de buscas.

Agora vamos voltar na segunda função, a mais "geral". Imagina que você quer encontrar uma certa informação tipo a população de um país ou o PIB per capita de um continente, achar a série histórica. Esse tipo de informação pode ser um inferno de achar. Fica tudo espalhado. Achar essas coisas no Google pode ser um inferno, porque ele te dá inúmeros falsos positivos. E aí você fica lá tentando e tentando escrever as palavras mágicas que vão fazer aparecer os dados do seu interesse.

Aí que entra o Wolfram|alpha... Não se limita a isso, mas é um dos melhores exemplos.

O W|a, como eu vejo, começa como um grande almanaque. Eles juntaram, e irão manter, um grande banco de dados com muuuitas coisas, bem estruturadinho, e com consultas preparadas pra todos esses diferentes dados.

Por exemplo, eles tem dados como população de países e cidades, e PIB, tudo ao longo de anos. Mas ele faz muito mais do que simplesmente mostrar os valores... Ele gera gráficos sob demanda. Se você pede pra ver o PIB de diversos países junto, ele plota sobreposto. Ele também faz _contas_ na hora. Você pode mandar plotar a série subtraindo, dividindo...

Isso tá bem à frente do que o Google pode oferecer. O Gugo até tem função de calculadora e conversão de unidades de medida, por exemplo, mas o W|a tem nas consultas que envolvem computação um objetivo primário. O Google oferece calculadora mais assim, como um vídeo cassete que marca as horas...

E o W|a já coletou algumas coisas bem interessantes. Tem um banco de dados de pessoas, e eu consegui plotar linhas do tempo marcando quando várias pessoas viveram, algo que gosto muito de ver. Sair pelo Google achando essas informações, caindo lá na Wikipédia ou nas biografias daquela universidade da Escócia (st. andrews?) é bem chato. Poder mandar plotar, e ver que Galileo e Descartes morreram pouco antes de Newton e Leibniz nascerem, isso sim é bem mais interessante.

Outro banco legal é o de filmes! Sim senhor. Podes crer que a partir de hoje, quando quiser me lembrar de algum detalhe sobre algum filme (quem dirigiu/escreveu) vou usar esse site muito mais do que o Google, a Wikipédia ou mesmo o imdb. Ele mostra as informações de forma concisa, e ainda bota tudo em colunas pra vc comparar os filmes...

A atenção a alguns detalhes revelam a essência do espírito do Wolfram|alpha. Sempre que datas de eventos históricos são mostradas, aparece do lado, em letras pequenas e cinzas, a quantos anos atrás é isso. Datas de morte de pessoas ainda dizem com quantos anos elas morreram, e períodos de tempo vem tanto em minutos quanto em horas.

O negócio é uma ferramenta de informar. Não é uma ferramenta de buscar páginas da Internet com o Google, e não é uma enciclopédia editada colaborativamente por pessoas de todo o planeta. É uma terceira coisa.

Talvez as pessoas queiram ver o Wolfram|alpha como um substituto do Google ou da Wikipedia porque hoje são alguns do s lugares a que elas recorrem pra achar certas coisas. Mas a verdade é que estes dois aí não estavam cumprindo alguns dos papéis que o W|a vai cumprir. A gente vai no Google é mais por falta de onde ir mesmo. Quem sabe o Google vai começar a apontar a gente pro Wa pra alguns tipos de consulta, igual ele já aponta pra Wikipédia?

Aliás, é bom lembrar também. Uma das funções da Wikipedia é apontar o leitor pra referências. Sim, muito se fala da Wikipedia não ter referências, mas isso é mentira. Tem muitos artigos que trazem no fim ótimas referências, e ótimos links pra páginas da web relacionadas ao assunto.

O W|a também tem suas fontes. E todos artigos mostram suas fontes, e... Surpresa! Umas das fontes é ninguém menos do que a Wikipédia.

Como diabos um site poderia pretender "substituir a Wikipedia", e citá-la como fonte? É óbvio que eles pretendem ser algo diverso da Wikipédia. A Wp é só uma fonte pro Wa, assim como o Wa vai ser alguém que a Wp vai sugerir você visitar de vez em quando.

É uma nova ferramenta gente. Expandam suas mentes, por favor...

Vale a pena mencionar que o pessoal do Wolfram está botando um esforço extra pra fazer consultas a partir de linguagem natural. Hoje no Google até tem gente que faz isso já, escreve lá "Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha??" Assim mesmo, com mais de uma interrogação, e tal. Não sei quanto o Google já se comporta de acordo com o jeito que vc escreve, ao invés de considerar aquela string apenas um "saco de palavras", mas no W|a eles querem realmente conseguir interpretar melhor o que é escrito ali. Até mesmo porque eles tem o poder de responder às consultas de uma forma que o Google não faz, fazendo contas, gerando gráficos, etc.

O Stephen Wolfram, dono da empresa que fez o site, é um velho pesquisador de IA e de lógica e computação. Também o são muitas pessoas trabalhando hoje no Google. Quer dizer, muitos lá são pesquisadores e tal, mas poucos são VELHOS... Talvez a velhice do pessoal do Wolfram venha a ser o grande diferencial. Velho não tem tempo pra procurar coisa em diversos sites, muitos deles cheio de bobagem e banner de pornografia. Velho não tem paciência pra anúncio, e anúncio é uma coisa bem central no universo Google, que inventou o adsense.

O Wolfram|alpha tem umas integrações com o Mathematica, o principal produto do Wolfram. Isso daí mostra parte do espírito do negócio, e mostra de uma vez por todas que esse é um site bem diferente do Google e da Wikipédia. Que dia você acha que vai entrar no Google pra brincar de plotar florzinha? Nunca. Talvez quem sabe um "Google plotter", talvez usando o Google spreadsheet... Mas não se compara.

O futuro do W|a é você poder ir lá sair pegando dados e comparando de forma sofisticada, efetivamente escrevendo pequenos programinhas em linguagem natural. Isso não tem nada a ver com as propostas do Google e da Wikipédia...

A Wikipédia pode ter muitos dados sobre Antares. Lá você vai ler que o nome tem a ver com "ser contrário a Marte", vai ler sobre o nome em outras culturas, vai ver algumas fotos (as que não violarem direitos autorais, né), e outras coisas. E dados básicos. No W|a não tem esses dados profundos, só tem as coisas mais básicas, características físicas, fala no máximo a constelação. Isso, e plota pra você um maravilhoso mapa astral mostrando a estrela no céu, hoje. Se bota uma data, ele dá as coordenadas pra aquela data!... (não mostrou o mapa.. ainda! :) )

O Google pode até criar um "applet de astronomia" ou o escambau naquela página de "iGoogle" ou sei lá como chama, mas não tem nada a ver com o que é o Google, né? O Google de verdade é aquele calendário bizarro de páginas ruins. Qualquer coisa mais sofisticada do que isso eles tão empurrando pra fazer aquele lance de transformar o seu browser em um desktop de um meta-sistema operacional, algo a que não sou muito favorável... O Wolfram|alpha vai justamente na contramão, partindo da idéia de consultas, que é a coisa central do Google "roots", "hard core", e botando ali os tais applets. Você consulta e ele te dá uma página de respostas. É tudo o que a gente queria em um grande número de situações, mas o Google funcionava meio como um intermediário, atrapalhando nossa chegada até os dados nus e crus!...

Enfim, sei lá, não sei mais o que dizer. Bem vindo Wolfram|alpha, os que vão deixar de morrer de curiosidades insaciáveis o saúdam!

2009/05/16


A fonte dos diferentes tipos de pessoas

Existe aí pela Internet uma tal história de como o Steve Jobs, que seria um bobão sem habilidades, se deu bem em certo período de sua vida porque em certo momento no desenvolvimento das máquinas da Apple ele pôde aplicar conhecimentos de tipografia que teria adquirido de forma absolutamente casual em seu curto período no ensino superior. A história anda sendo citada por outros porque ilustraria o conceito de que toda a educação tem que ser recebida sem reclamar, porque você nunca sabe o dia que vai poder virar um milionário por ter aprendido a coisa certa no momento errado, mas aí um dia se ver de repente no momento certo.

Não tenho nada contra o Steve Jobs, acho um sujeito bacana. Mas fico triste de ouvir essa história por dois motivos. Primeiro porque faz ele parecer apenas um tolo em cuja cabeça caíram várias felicidades. Uma marionete da boa fortuna. Será que ele é apenas isso mesmo?

Segundo porque a história ao mesmo tempo pinta a tipografia como um assunto árido, como é talvez a trigonometria para alguns, e omite a existência das várias pessoas que contribuíram não só para o desenvolvimento da tipografia antes do Steve Jobs, mas figuras ilustríssimas do desenvolvimento da própria "tipografia digital", que a história dá uma impressão de ter sido inventada ao todo pelo Jobs.

Existem no mínimo dois nomes que devem ser sempre citados quando pensamos na história da tipografia computacional, e são duas pessoas que possuem uma grande paixão pelos dois temas, mesmo que tenham se especializado em apenas um.

Hermann Zapf, alemão nascido em 1918 e vivo até hoje, foi estudar tipografia após desistir (apenas por questões "logísticas") de seguir uma carreira de engenheiro eletricista. Foi nos anos subsequentes à WWII que ele criou alguns de seus tipos mais famosos, como a Palatino, que é uma de minha favoritas, e uma grande fonte de inspiração para outros criadores de fontes. Isso foi antes, portanto, dos computadores invadirem nosso cotidiano. Lá pro começo dos anos 1970 Zapf "cismou" em tentar desenvolver programas de computador para tipografia. Encontrou certa resistência no início, mas eventualmente as engrenagens da sociedade moveram-se nesta direção. Em 1977 ele se estabeleceu em uma empresa pesquisando tipografia digital, e nos anos 80 fundou outra empresa que foi eventualmente comprada pela Adobe nos anos 1990.

A outra figura é alguém que eu admiro muito, Donald Knuth. Um grande autor da área de ciência da computação, e um pioneiro que ajudou a criar a própria idéia da tal ciência, ao receber certa vez as provas tipográficas de um livro seu, achou tudo feio demais. Mas na mesma época ele viu em algum lugar o funcionamento de algum programa moderno de tipografia digital, e ficou encantado com a idéia. Naquele ano começou a planejar o seu próprio programa de tipografia, o TeX. A primeira versão rodava em um PDP-10.

Vale a pena mencionar en passant, pra termos noção do estado que a computação gráfica já se encontrava nos anos 1960 e 1970, que a formas mais comuns de desenhar letrinhas bonitas, as famosas curvas de Bézier, foram popularizadas em 1962. Bézier era designer de automóveis, e este tipo de curva veio bem a calhar para seu trabalho. Mas ele não realmente inventou nada mesmo não: as curvas não passam de cúbicas, e sua introdução na informática já se dera bem antes... Ele apenas "usou pra valer".

Knuth e Zapf tiveram a felicidade de trabalhar juntos em 1983 num tipo chamado AMS Euler, encomendado pela American Mathematical Society.

Aí então eu pergunto. Como pode ser que a tipografia digital tenha tanta história, e tantos personagens interessantes, pessoas apaixonadas tanto pela tipografia em si quanto pela computação, e aí a gente de repente precisa engolir essa ladainha do Steve Jobs? O Lisa (que ele nem menciona) e o Macintosh só começaram a ser desenvolvidos lá pra 1978. O Macintosh foi anunciado ao público em Outubro de 1983, quando, como pudemos ver, o trabalho ali do Knuth já tava bem avançado. Mais do que isso, já até existiam outros programas, como o tal programa que inspirou o Knuth antes.

O crédito que o Jobs merece é ter trazido isso para o desktop, assim como ter investido em interfaces gráficas. Foi mesmo algo muito legal. Mas ele não pode posar de grande visionário, fingir que inventou essas coisas. Ele é só um bom empresário, que pegou tecnologias existentes e levou até o varejo.

Me acompanhem aqui num passeio pelo tal discurso dele de 2006. Vejam o que ele fala sobre quando estudou caligrafia:

It was beautiful, historical, artistically subtle in a way that science can't capture, and I found it fascinating.

Grande "tecnólogo". Um sujeito que tem dificuldades em ver o belo naquilo que é "científico". Sinto pena pela má formação dele, que lhe causou esses traumas de ter pesadelos à noite com trigonometria, e essas coisas que não são "belas, históricas, sutis e fascinantes". Sorte que nem todo mundo pensa assim, tem gente no mundo como o Knuth, o Zapf, eu, e imagino que muitos de meus leitores... E como ele foi fazer o tal curso, afinal? Atirou um dardo e se matriculou no curso em que caiu?

Mais pra frente ele diz

If I had never dropped in on that single course in college, the Mac would have never had multiple typefaces or proportionally spaced fonts. And since Windows just copied the Mac, its likely that no personal computer would have them. If I had never dropped out, I would have never dropped in on this calligraphy class, and personal computers might not have the wonderful typography that they do.

Essa deve ser uma das coisas mais pretensiosas que eu já li na minha vida, de tal intensidade que prefiro não comentar aqui. Sei que quando estou bravo escrevo grandes discursos raivosos, porém maçantes... Se eu fosse parar pra falar longamente de tudo que me incomoda e me dá raiva na vida, não sobraria tempo pra viver.

Talvez ele e a Apple realmente tenham tido um certo papel de Prometeu contemporâneo, sendo grandes responsáveis pela popularização de algumas tecnologias no público mais lammer. Afinal de contas, rodar TeX em desktop não era realmente comum talvez até lá pros anos 1990... Mas essas coisas já estavam todas por aí, a informática não começou só com os microcomputadores dos anos 80. Outras pessoas inventaram essas coisas pelas quais o Steve se vangloria e que o Bill teria "copiado dele" depois. Outros já tinham "pioneirizado" o caminho, inventando as interfaces gráficas, por exemplo. Ele não foi explorador, foi só o vice-rei que veio coletar os espólios.

Metido nojento.

Mas é como dizem, quem come maçã com casca, semente e talo está bem informado a respeito de suas peculiaridades fisiológicas.

2009/05/13


Como citar a wikipédia em artigos

Sendo uma fonte de informações nova, algumas pessoas sentem ainda uma certa confusão na hora de citar páginas da WWW --- e mais especificamente artigos da Wikipédia --- em seus textos, trabalhos e artigos científicos. Ninguém sabe direito o quê e como colocar na citação...

Pois não se desesperem, amigos! A própria Wikipédia já se preparou pra isso. Existe lá uma ferramenta formidável para ajudar você na hora de citar a Wikipédia em seu trabalho.

É muito simples: ao lado esquerdo do artigo existe uma coluna, que tem no alto a logomarca da Wikipédia. Logo abaixo existem várias caixas com links úteis. Por exemplo, lá você encontra links para o artigo correspondente ao que você está lendo nas Wikipédias de outras línguas. Isso pode ser bem útil, eu mesmo já fui muito na Wikipédia em inglês, achei algo que procurava, e pra descobrir como traduzir simplesmente entrei no link para o mesmo artigo na Wikipédia em português.

Mas voltando ao que importa: em uma dassas caixas, chamada "ferramentas", existe um link chamado "citar este artigo". Ao clicar ali você será transportado para uma página contendo as informações que você deseja, e muito mais. Existem ali também textos preparados automaticamente para citar aquele artigo que você estava lendo, nos mais diversos formatos de citação. O primeiro da lista é inclusive o infame formato da ABNT. Por exemplo, se você entrar no artigo sobre "Citação", e pedir pra ver o "como citar", a citação no formato da ABNT seria:

WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cita%C3%A7%C3%A3o&oldid=14502083>. Acesso em: 14 maio 2009


Notem uma característica muito importante desta citação: o URL aponta para a edição específica da página que você leu, e não para a versão atual do artigo. O que causa isto é o "oldid" no fim do URL. Ou seja, você estará citando exatamente o artigo que você leu quando fez sua pesquisa. Se alguém modificou o artigo depois, fazendo por exemplo um vandalismo, isso não vai aparecer nesse link específico citado ali. Por outro lado, correções também não vão aparecer, mas o usuário pode facilmente checar a versão atual pra ver se tem algo novo interessante. Pode até mesmo checar qualquer outra versão mais recente ou antiga.

É exatamente como nos livros, onde citamos edições específicas do livros que usamos. Isto é muito importante porque um dos argumentos mais comuns contra o uso da Wikipédia como fonte "séria" seria a sua efemeridade. Mas quem crê nisso ignora como este fenomenal site funciona, não sabe que todas versões de todos artigos ficam armazenadas para sempre lá, e que é possível fazer citações a edições específicas dos artigos.

E pra quem usa LaTeX, lá tem até uma entrada pra bibtex também. Se você nem sabe o que é TeX, eu recomendo veementemente que dê uma chance a este que é um programa fenomenal, cada vez melhor, muito flexível, e que produz resultados de excelente qualidade.

Agora vocês podem voltar a trabalhar com tranquilidade... Divirtam-se! :)

Wikipédia é o futuro. Mas lembrem-se sempre: não interessa como ou quem você cita, seja a Wikipédia ou qualquer livro ou fonte mais tradicional. O que importa é a ciência, a razão, a lógica, o diálogo, a tolerância, e enfim, a "noção das coisas" como disse Graça Aranha em sua memorável carta a Joaquim Nabuco. A ciência não é apenas um conjunto interminável de textos pomposos escrito por pessoas importantes, citando outras pessoas importantes mais velhas que elas, muitas delas mortas. Ciência é sobre coisas que pessoas como eu e você podemos ir lá, entender, e fazer acontecer.

Nullius in verba é o lema, em bom latim, da Royal Society de Londres. Significa "segundo [as palavras] de ninguém". É o oposto da idéia de que boa ciência precisa de boas citações. Citações deviam ser apenas para permitir ao autor ater-se a escrever em seu trabalho apenas o estritamente necessário, e poder referenciar de forma simples trabalhos relacionados ao que está sendo exposto --- como no caso de artigos que relatam o desenvolvimento de alguma idéia em um longo período. O autor cita quando lê algo de que gosta, e acha perfeitamente admissível, senão recomendável, que o leitor busque ali um complemento a seu texto. Citações não deveriam ser um mero instrumento de retórica, para dar uma aparência mais profissional e competente a seu texto.


Marooned on Mars

Estou escrevendo um texto, e dei uma parada pra relembrar sobre uma das coisas mais LEGAIS que ocorreu no mundo, (senão na galáxia, ou em todo universo) nas últimas décadas: as famosas sondas marcianas enviadas pela NASA.

Eu nem existia ainda, ou mal tinha nascido, quando ocorreram boa parte dos mais excitantes sucessos humanos na exploração espacial. A última vez que alguém pisou na Lua foi na missão Apollo 17, em 1972, e a última sonda soviética a Vênus, Venera 14, pousou lá no ano que eu nasci, 1981. além de dados cientificíssimos que vc tem que ser um fodão pra analisar, ela tb mandou umas foto muito louca, de cair o queixo... Ou melhor "de outro mundo"!

Um evento marcante na minha infância, ligado ao espaço sideral, foi a passagem do cometa Halley. Mas desculpem, nem se compara né gente? É até meio deprimente pensar que uma passagem de um cometinha deixou todo mundo em polvorosa, e suscitou tantos produtos, programas de TV, e atraiu pessoas pra ciência, enquanto que em décadas anteriores vimos acontecimentos muito mais marcantes como a passagem da Voyager 1 por Jupiter e Saturno, ou antes disso o desenvolvimento da tecnologia nuclear...

Talvez eu esteja reclamando de barriga cheia, vai. O que aconteceu de legal nos anos 80 e início dos 90 foram coisas dentro de nossas casas, e não missões faraônicas que na prática são tão oníricas e inalcançáveis que histórias e filmes de ficção científica e fantasia.

Filmes de ficção e fantasia, aliás, tornados muito mais acessíveis com o desenvolvimento de vídeos-cassete, tv a cabo e vídeo-games nos anos 80. Eu não posso dizer que trocaria ser um garoto jogador/programador de microcomputadores por ser um antigo rapaz interessado em viagens espaciais, que não podia nem chegar perto de botar as mãos nisso...

Os antigos nerdinhos podiam no máximo jogar xadrez e mexer um pouco com química e eletrônica (vide Feynman e Oliver Sacks). Minha geração pôde jogar Commander Keen, Super Mario World e Monkey Island ouvindo Guns e Alice in Chains em tocadores de CD (o primeiro CD player da minha casa, um JVC, adquirimos em um natal, na época em que estourou o Rage Against the Machine, 1992). Os sortudos ainda conseguiram ver uns filme pornô (ruinnns) escondido no Multishow de noite, etc.

Isso aí é muito mais diversão do que os jovens de antigamente podiam sonhar. As pessoas falam que criança tem que brincar de "imaginar", e "fantasiar"... Tipo, será que essas atividades não tem mais a ver com a privação de atividades palpáveis, mais interessantes? (provoquei agora)

Aí mais ou menos junto veio a Internet, lá pra 1994, e mais um tempo depois fenômenos como o Photoshop, CoolEdit, Autocad, Quake 3D (1996)... Nisso já estava eu mais velho. Estava lendo coisas como o Pálido Ponto Azul (1994?), e aprendendo mais sobre a guerra fria, e esses grandes acontecimentos científicos de outrora (exploração espacial e tecnologia nuclear) que eram coisas meio distantes de minha realidade (i.e., só usando um pouco da famosa "imaginação"). Eu provavelmente ouvia falar mais de energia nuclear por causa de músicas punk velhas de protesto, do que assistindo jornal. Historicamente eu (e talvez muitos se identifiquem) me sinto bem mais próximo do incidente em Goiânia (1987), que não envolvia nem uma usina nem um míssil nuclear, do que de Chernobyl (logo antes, 1986), Hiroshima, ou da crise dos mísseis de Cuba. Eu só vim a pensar em guerra nuclear na minha vida, pra valer, por causa do Exterminador do Futuro II (1991), com a famosa cena do parquinho.

***



Eu gosto de dizer que os anos 90 começaram foi depois do Pulp Fiction, de 1994. Foi nessa nova era que, em Dezembro de 1996 faleceu Carl Sagan, de quem eu já tinha me tornado groupie. No mesmo mês foi lançada a missão Mars Pathfinder.

Nessa missão fizeram uma coisa muito legal. Lançaram lá na superfície de Marte um robozinho, a Sojourner, que saiu andando por lá, e tirando foto!! Para pra pensar, que coisa foda, meu!!! Uma sonda robótica alienígena interplanetária!

Eu, por sorte, estava fresco com os livros do Sagan na mente nessa época, e tinha noção de que existiam já fotos da superfície de Marte, e que não era especificamente isso a grande novidade. Mas é claro que essas novas fotos eram muito mais doidas. E agora eu conto uma coisa bacana, que dá uma boa idéia de em que pé se encontrava nessa época o desenvolvimento da informática caseira, o outro tema de que estou falando. Eu e meu irmão, não lembro se na onda de um joguinho de SNES do Ultraman que jogamos umas vezes, pegamos uma das fotos da Sojourner (de algum site, se não ainda alguma BBS), e fizemos uma montagem com o Ultraman aparecendo ao longe! Eu imprimi em nossa moderna impressora de jato-de-tinta colorida, e levei pra escola no dia seguinte, pra zoar com os amigos. Acho que fizemos com o Aldous Photostyler, o mesmo programa que usei uma vez (talvez antes) pra fazer uma nota de "sem reais" que eu carrego na carteira até hoje. (O plano real foi adotado na metade de 1994.)

Talvez tenhamos pegado a foto no famoso site da NASA, que por muitos anos foi a única coisa que havia na Internet. Nem tinha muito conteúdo não, mas pelo menos vc podia digitar o URL e efetivamente cair em alguma página, o que era uma coisa meio difícil ainda na época. (Hoje qqr coisa que vc escreve cai pelo menos num domínio reservado, e cheio de anúncios!)

No final de 1999 eu entrei na faculdade. Finalmente comecei a parar de usar Windows nessa época, e passava muito mais tempo aprendendo a programar do que usando programas. O próprio hardware virou meu vídeo-game. (Eu ouvia muito MoAM nessa época, e RATM, ATR, Sabbath...)

Na faculdade, lá pro segundo ano, possui uma cópia do livro Sinais e Sistemas do Simon Hayking (obs: eu prefiro o do Oppenheim) que trazia, na capa, a nossa amiguinha a Sojourner. Foi bem legal ver ela lá, me fazia lembrar a promessa do meu guia do vestibular: "Engenharia elétrica é a arte de lidar com tecnologia de ponta."

Nessa época a exploração espacial finalmente voltou a "esquentar". A ISS começou a ser montada a partir de 1996 (a Mir morreu em 2001). E eu me lembro muito bem, ente 2003 e 2004, da infelicidade com a missão Beagle 2, da ESA (mais UK), que era uma sonda (não-andarilha) criada com o intuito maior de estudar a questão da vida em Marte, mas que não pousou com sucesso. Eu lembro de acompanhar isso pela Internet, ler entrevistas em sites, etc.

No comecinho de 2004, meio que "renovando" após o destino cruel da sonda monarquista, chegaram em Marte as duas novas sondas andarilhas, Spirit e Opportunity. Essas tiveram bastante cobertura pela Internet... Agora, sabe qual é um dos motivos porque eu cobrava tanto uma boa cobertura dessas missões pela Internet? Primeiro que a NASA sempre prometeu ser uma das coisas legais na Internet, e sempre me deixou um tiquinho decepcionado (hoje em dia até que me satisfaço). Mas o maior motivo é que eu fiquei mal-acostumado com a boa cobertura da copa de 2002 pela Internet! Tinha uns sites muito legais...

Pra falar a verdade, apesar de me interessar a princípio, eu acho que não acompanhei pra valer essas missões espaciais todas como eu poderia ter feito. É só hoje, lendo a Wikipédia e outros sites (e escrevendo no meu blog), que eu começo a entender bem melhor tudo o que aconteceu.

A Phoenix, em 2008, eu até que acompanhei bem. Escrevi um longo post no meu blog sobre a questão do gelo encontrado, inclusive. Com a chegada da "web 2.0", eu senti necessidade de poder ter algum tipo de "feed" sobre o que ocorria. Queria assinar o Tweeter da sonda, saber a cada minuto qual era a temperatura registrada por ela, ver os dias marcianos passando... Isso não rolou a meu contento, mas acho até que houve alguma preocupação "dos cientistas" em tentar fazer isso.

***

Mas é só agora que parei para escrever tudo isso, tirar uma foto com minha visão panorâmica, que estou entendendo que boa parte do barato nas novas missões é justamente elas estarem acontecendo nesse novo mundo de Informática avançada, com micros pra todo o lado, Internet e o escambau.

Minha geração não foi a do átomo nem a do foguete, mas o pessoal do CERN e da NASA ajudaram muito em botar em pé essas coisas todas: Internet, vídeo-game, etc. De repente o que rolou foi uma parada pra respirar, pra entender melhor o que tava acontecendo, uma espera estratégica sabendo que mais alguns anos e a computação ia conseguir entregar pra gente grandes prodígios, que seriam dignos de se esperar um pouco pra fazer uso.

Dá pra ver o desenvolvimento da computação na exploração espacial comparando as 3 missões com "rovers" da NASA.

Aliás, pausa pra falar dessa palavra... Parece que "to rove" significa algo como "um andar despretensioso", "passear, flanar"... Das sinonímias do Houaiss:

andarilhar, bangolar, bangular, bestar, borboletear, burlequear, deambular, divagar, errar, flainar, flainear, flanar, girar, passear, perambular, vadiar, vagabundar, vagabunde


E aí, já tinha pensando alguma vez que essas sondas eram "vagabundas"? :D Eu tenho tentado traduzir como andarilhas, talvez perambulantes...

Mas enfim, a primeira, a Sojourner, tinha um processadorzinho chinfrim, baseado no 8085. Esse é um processador de depois do 8080, que é revolucionário na história, mas antes do 8086 e 8088, que ficaram famosos por serem os processadores dos primeiros "PCs" da IBM. O 8085 foi eclipsado em sua época pelo maravilhoso Z80, que era usado no TK85 e no MSX, e muitos outros produtos, até hoje.

Aí você pode me perguntar de cara: mas como diabos um processador tão ruim? Não podia ser um Pentium? 386 pelo menos?? Não pode porque tem que ser um processador que consuma muito pouca energia, tem que ser adequado pra um sisteminha pequeno que vai consumir pouca energia como um todo, tem que ser bem-estabelecido, e ainda tem que atender os requisitos bizarros de poder viajar no espaço. Quando a gente procura algo assim, acaba caindo nisso: uma versão "envenenada" de um certo processador antigo. É uma pena que ninguém tivesse feito um Z80 que desse conta do recado, ia ser muito legal!... Mas vai de 8085 mesmo.

Os processadores da Spirit e Opportunity (Mars Exploration Rovers, MER) já são uma parada da IBM baseada num tal RSC, e a futura sonda andarilha Mars Science Laboratory (MSL) já usa um processador parecido com o PowerPC G3. De onde eu tirei isso tudo? Claro que foi da Wikipédia, que tem uma página só com essas comparações entre as missões.

Interessante notar a diferença de tempo entre o ano que o processador foi lançado (no mercado) e lançado (ao espaço). O 8085 é de 1977, a Pathfinder saiu 20 anos depois. O RSC é tipo de 1992, e a missão saiu quase 10 anos depois. Já o PowerPC G3 é dos idos de 1997, e a MSL deve ser lançada em 2011, dando aí uns 14 anos de diferença. Se fôssemos manter um decaimento desse tempo, seríamos obrigados a usar uma versão "robusta" de um processador de desktop de, sei lá, 2005, 2004. Mas o que a gente tem a partir daí são os processadores de 64 bits, e os de multi-core... Talvez comece a deixar de fazer sentido pra aplicação.

Mas o clock e o tamanho das memórias mudou bastante, e nisso a tendência deve se manter. A MSL vai ter uma memória flash de 2GB, enquanto a da Sojourner era umas 10 vezes menor. A memória flash, aliás, foi uma das coisas que deu um empurrão nesse projeto. Ela "invadiu" o mercado consumidor foi justamente nos idos de 1995 pra frente, quando as câmeras digitais com memória flash também se popularizaram bastante. Na outra via, de criar memórias flash pra ambientes hostis, a coisa levou mais ou menos o mesmo tempo, até permitir a criação da Sojourner.

Aliás, interessante perceber que ao mesmo tempo em que tivemos a grande popularização das câmeras fotográficas digitais, com sensores CCD no lugar do filme, e memórias flash pra guardar dados, tivemos justamente a criação da Sojourner, que não é na verdade muito mais do que uma câmera digital, com CCDs e memória flash, e mais umas rodinhas e um radinho... É talvez o Zeitgeist.

E qual é o Zeitgeist hoje? Eu te conto algumas coisas... Em meu trabalho estou me concentrando justamente em navegação de robôs por visão. Fiquei sabendo que existem testes pra implementar numa das sondas do MER um chamado "hodômetro visual", visto que o hodômetro real está ficando cada vez pior. Elas também estão fazendo testes com programas mais sofisticados pra localização e navegação autônomos. Vejam que interessante, aquela mesma máquina vai rodar bem melhor, com mais autonomia, porque as pessoas estão fazendo legítimo avanços no estudo do controle de robôs móveis por visão!...

E por falar nisso, vem agora o mais bacana. Eu abri o texto falando das Venera soviéticas. Pois faz pouco tempo apenas (2006) que um sujeito (Don Mitchell) pegou imagens da Venera 13, 14 e outras, e deu uma boa analisada, e reconstruiu umas imagens muito bacanas com base nos dados originais. (Vejam aqui neste artigo.)

Quer dizer, apesar das missões, ainda existia trabalho a ser feito. E trabalho envolvendo computação, envolvendo informática, e resolver problemas de visão computacional, algo que é tema de pesquisa _hoje_.

Ergo, esse foi mesmo o grande lugar da minha geração na história, esse foi o lugar do fim do século XX ao lado dos grandes desenvolvimentos científicos da humanidade... Computação, informática, processamento de imagens, fazer robôs mais autônomos. O resto, mandar foguete pra Marte, já tava mais ou menos dominado. Foi só "plugar o módulo" agora, pra fazer esse tanto de coisa legal que tamos fazendo.

Sim, porque... é muito legal!! Olhem a MSL. Ela tem algumas diferenças básicas com relação às outras andarilhas... É o dobro do tamanho da última (que já era mais que o dobro da outra), e pode consumir muito mais energia. Energia, aliás, que não virá mais de painéis solares, o que infelizmente tira créditos de marketing do projeto, já que os painéis solares, "verdes", certamente deixavam muitos satisfeitos, e usando essa unidade movida a plutônio vai torcer muitos narizes. Mas é claro que tecnicamente nuclear é a melhor solução.

A MSL contará ainda com uma arminha de raio laser. É sério! Um raio laser de alta potência vai ser disparado em pedras para gerar um plasminha, desintegrando ali uns poucos milímetros cúbicos do alvo. Analisando o espectro da luz emitida, dá pra descobrir os elementos constituintes. Claro que dá pra atirar em seres vivos e pessoas também, só não vai acontecer porque não tem essas coisas em Marte (ou tem?)


Este vídeo (muito bonito) no utub mostra aos 2:30 a arminha disparando... Ptiunnn!!... Poderei ver mais um sonho de infância meu se realizar: ver um verdadeiro robô de outro planeta, andando por aí atirando em coisas com seu raio laser, desintegrando-as, criando plasma radioativo!!... Melhor estarem preparados, malditos vorticons!!