2007/12/08


Deixa pra lá

O Krist Novoselić apareceu aqui num documentário sobre o Nexermind, no finalzinho, falando que fazer aquele disco foi a mlehor coisa que ele fez na vida dele.

Pode ter certeza, Krist, que foi a melhor coisa que alguém fez na vida de muitas pessoas, não só da sua...


A hora e a vez de citar a Wikipédia em artigos científicos

EDIT: Se você está procurando informações sobre como citar a wikipédia em seu trabalho, por favor veja este outro post meu ensinando o macete.

A questão da propriedade ou não da citação de fontes como a Wikipédia em publicações científicas, e de seu uso em atividades acadêmicas em geral, acaba estimulando um debate muito mais amplo e importante: o do próprio papel das referências bibliográficas em artigos e no fazer científico.

Já na página 60 do último livro de Galileo Galilei, Discorsi e dimostrazioni matematiche, intorno a due nuove scienze (1638), o personagem Sagredo faz notar que é possível às vezes realizar um experimento científico, e concluir que a opinião de alguns filósofos antigos, ``incluindo às vezes talvez até o próprio Aristóteles,'' está errada. O lema da Royal Society de Londres diz ainda, desde 1660: Nullius in Verba, ou ``segundo [as palavras de] ninguém.'' Cito estes antigos bastiões da ciência para lembrar que a verdadeira ciência ocorre apenas naqueles raros momentos em que se realizam experimentos, e estes são percebidos como em conformidade com determinadas teorias científicas propostas. Tomando o conceito do mais contemporâneo Karl Popper, a parte mais crucial da ciência se dá apenas naquele momento quando se tenta falsear uma teoria. (Se é que eu entendo desse assunto.)

A citação, referência e reverência a fontes de conhecimento antigas e cultuadas não são necessariamente atividades científicas, podendo ser meramente recursos retóricos para tentar dar credibilidade a um trabalho científico novo. Este tipo de ação já é compreendido como tal desde quando o próprio Aristóteles identificou as diferentes formas de ``provas retóricas'': o ethos, o pathos e o logos. A lógica e a dialética podem sim ser suplementadas pela retórica. É preciso ser vigilante entretanto para não cair na retórica vazia, ou o ``sofismo,'' já denunciado por Platão. Freqüentemente citações em artigos científicos não buscam direcionar o leitor a alguma fonte de dados ou técnicas utilizadas no trabalho. Estas citações visam apenas sugerir afinidade com trabalhos aclamados pelo meio acadêmico, tentando tomar para si um pouco desta aceitação.

Se ao realizar um trabalho científico um cientista coleta uma série de dados, ou consulta a forma exata de alguma técnica em uma referência, e em seu trabalho é capaz de comprovar a certeza dos dados ou a exatidão da técnica, que mal há em referenciar esta fonte no trabalho, mesmo que seja ela a Wikipédia, ou talvez uma pichação, um rabisco em uma porta de banheiro, ou ainda um conselho de um faxineiro? Ao referenciar um trabalho o autor de um artigo torna-se na verdade cúmplice daquela referência. São os autores de novos artigos que são responsáveis pela exatidão de suas fontes, e não os autores dos trabalhos clássicos que são pela dos novos.

O questionamento da adequação ou não do uso da Wikipédia em artigos científicos e na atividade acadêmica em geral deve ser feito é neste contexto mais amplo, em que se questiona não a forma como esta fonte específica é confeccionada, mas sim todo o processo da referenciação. O pensamento que exige estritamente o uso de referencias ``consagradas'' em uma publicação é o mesmo que prega uma forma passiva de leitura, em que o leitor não busca questionar o que vê escrito. Renegar um artigo devido a sua autoria, sem travar contato com o material, é como negar-se a olhar através de uma luneta para observar um fenômeno que alguém diz ter visto, afirmando ter certeza de que trata-se de um equívoco.

Aceitar a Wikipédia como uma fonte bibliográfica regular é o último e maior passo necessário para se adentrar nesta nova era que estamos propondo, em que o aluno e o leitor deixam de ser meros espectadores da ciência para se tornar agentes participantes, enriquecendo as fontes de conhecimento com realimentações de banda larga e atraso reduzido.

2007/12/07


Sid Vicious

Volta e meia aparecem umas palavras que vão se espalhando, como num surto de uma doença. Viram meio que moda por um tempo, às vezes somem, às vezes ficam. Não sei se é bem um fenômeno real ou apenas uma impressão minha, mas esse sentimento deve ser o mesmo que inspirou Burroughs, e ainda o que inspira alguns filósofos quando encanam com esta o aquela palavra ou conceito... Ainda é certamente o tipo de questão que atraia alguns estudiosos da língua...

Um conjunto de palavras que me chamou a atenção recentemente foram encetar, entabular e elencas, esta última em maior destaque. De repente um monte de gente começou a usar ocm muita freqüência, e em minha opiniáo às vezes até elncando estas palavras de forma meio descuidada em seus textos.

Uma palavra que tem me chamado a atenção nestas últimas semanas é "vício"... Ficou muito em voga quando se falou muito em ser viciado em drogas, ali nos anos 80... Hoje virou "adição", e mais caso de saúde pública do que era o "vício" realmente... Não ouço hoje falar tanto em "vício" e em "viciados" quanto antigamente. Mas de repente também pode ser por exemplo a minha idade... Talvez os mais jovens ainda ouçam muito sobre o assunto, lendo o
Estudante, e livros da Adelaide Carraro.

De qualquer forma, o que é isto, afinal, o "vício"? Uma abordagem mais zen, non-sense e dadaísta do assunto sempre menciona jocosamente o quanto somos todos "viciados" em oxigênio e água... Isto naturalmente revela a natureza de "dependência" que o vício implica. Viciados em drogas também são muitas vezes chamados de dependentes, às evzes como eufemismo, às vezes com objetividade.

Vício implica, é claro, em algo maior. Primeiro porque pode se tratar de uma certa dependência psicológica. É algo de complexo esta dependência psicológica, um sentimento muito pouco compreendido. Até porque no fundo toda dependência psicológica tem seu fundo químo, sendo este o substrado do organismo humano.

Temos aí viciados em joguinhos de computador, jogos de azar, sexo e outras coisas. O vício fala entretanto mais do que de dependência química ou da obscura dependência psicológica, fala de MORAL. O vício é uma dependência CONDENÁVEL, uma dependência desprezível. O viciado é um ser desprezível, e daí a necessidade por se buscar por eufemismos ao tentar tratar os "dependentes" e "adicionados".

Portanto é uma afirmação forte quando, por exemplo, um apresentador da CBN fala sobre o vício da população em binguinhos eletrônicos. Ele está falando sobre um costume desprezível, que a sociedade deve recriminar. Estamos falando daquelas coisas que dão asco, e que a "sociedade de bem" combate sendo elas ilegais ou não.

É uma ferramenta política então. Convencer um grupo de pessoas que um certo comportamento é um vício é convencê-las a recriminar os viciados. É fazer surgir toda uma classe de cidadãos inferiores. A vicialização de uma cultura é um instrumento de diferenciação social, fonte para repressão, guerras, genocídios e etc.

"Vício" tem ainda uma outra conotação muito interessante, que não tem mais a ver com dependência e com costumes e culturas. Algo "viciado" é ruim, mas é pior do que isso. Quando uam coisa ruim decorreu de um "vício", estamso falando de algo quase igual a uma possessão demoníaca. Um "vício" é como um incubus que toma conta de um desafortunado e o faz cometer infâmias.

Presenciei um discurso outro dia em que se acusou uma organização de ter sido administrada "com vício", havi a "um vício" permeando as atividades dos dirigentes. Neste sentido não entendo o tal "vício" não é nem apropriadamente uma má-intenção, nem como a ingenuidade inconscinete de um homicídio culposo, digamos. É uma coisa semi-consciente, é um pensamento consciente que age por trás de você. É mesmo quase como que um espírito ou fantasma que pode ser responsabilizado pelos atos condenados!...


O interessante então é isso: o "vício" é uma coisa que na verdade não existe. O dependente, ou "adicionado", não é diferente do "viciado". Uma "má-administração" se caracteriza física e logicamente, ao meu ver, da mesma forma que a administração "viciada". O vício é meio que evocado para ser recriminado de uma forma diferente, nem objetiva, nem com piedade. O "vício" é a "fonte do mal", as "forças do mal". "Vício" é quase uma prosopopéia de tudo que nos desagrada, tal como o deus de Abraão é às vezes uma forma de prosopopéia do universo, ou apenas do que nos agrada. São quase que personificações de entidades inumanas que podem ser recriminadas ou louvadas.

Resumo: "Vício", cara... Presta atenção nesse negócio de "vício", isso é muito louco. Não é uma palavra qualquer.

2007/12/06


Expansão geométrica da mente

Visitei outro dia a FoFoLetCHe pela primeira vez. Tava passeando pelos corredores, e ao descer uma escada ouvi (sem querer, claaaro) uma conversa entre dois alunos, num tom muuuito cabeça, assim, tinha jeito de pós-graduação, um cara tava falando pro outro:

"(...)talvez não fazer uma média aritmética... mas sim... uma geométrica!... Utilizar uma média geométrica!..."

Achei maravilhoso isso! O barato do cara ali naquele momento era quebrar o paradigma reacionário da média aritmética, e propor uma coisa moderna, uma média geométrica!!!

Mas é sério, todo mundo sabe minha teoria sobre a diferença entre a graduação e a pós hoje em dia (talvez não na física ou engenharias mecânica e civil): na graduação vc domina tudo quanto é modelo linear, e na pós vc enfrenta os não-lineares. Será que esse lance que esse cara vislumbrou não é justamente a não-linearidade encontrando seu lugar nas ciências humanas? É o reconhecimento ou fundação das ciências humanas não-euclideanas?...

São as estatísticas de ordem superior dominando todos ramos do conhecimento humano!...


Lição de vida eletrônica

Olha que lição de vida interessante. Ontem fui numa assembléia da associação de pós-graduandos da USP. Roul ou um debate lá por causa de uma eleição que ia ter não teve e sei lá mais o que.

Enfim, tinha todo um problema a respeito de como so comunicar ocm as epssoas, e ocmo distribuir uns documentos, e etc. Eu até pensei na hora, e esqueci de dizer, mas ia sugerir criar uma comunidado no Orkut, só pra ter algum lugarzinho com umas referências, e alguns contatos... Nada de oficial, mas um mínimo de organização, um mínimo de recurso, né?...

Aí hoje fui conferir no Orkut pra ver se alguém já não tinha criado. E não é que criaram?... Não exatamente, na verdade. Criaram na APG da USP de Ribeirão Preto, e na USP de São Carlos. Até tinha alguém de RP, acho, lá nessa reunião. Comunidades criadas em 2004 e 2005. USP "Sampa" não criou comunidade não.

Diz muito sobre as pessoas, acho, os estudantes das cidades menos grandiosas e prestigiosas terem muito mais intimidade com um Orkut da vida, e os da capital se embananarem com essas coisas.

2007/12/05


Não à CPMF

Achei lindo o Lula fazer um "mea culpa" por ter sido contra a CPMF... Mais lindo até do que o Jatene "se emocionar" ao flar do assunto

TEM QUE ACABAR COM A CPMF!...

Olha, tá certo falar que não pode arrancar agora de repente, seria irresponsável, mas é irresponsável o governo ter se colocado nesta situação. A saúde não pode depender de um imposto bizarro. Não é "maldade" da oposição, é como as coisas funcionam.

Essa situação com a CPMF é o seguinte: o governo deu uma arma pra oposição pra colocar na cabeça dele, do mesmo jeito que o governo colocou uma arma na cabeça da população pra receber a CPMF.

Tudo quando a CPMF é errado. Tem que desvincular a idéia de CPMF da saúde. A saúde não pode depender de um imposto que mais parece um bônus de guerra. Porque não vinculam a CPMF aos gastos dos gabinetes dos parlamentares, e joga pra saúde a fonte desse dinheiro aí, que tenho certeza que deve ser alguma fonte super estável e sólida, tipo imposto de renda?...

Fodas se criou num governo ou no outro, ou se foi contra ou se foi a favor. Tem que começar a acabar com isso. Por mais que aprovem, tem pelo menos que criar um "path to peace" aí, combinar uma gradual redução da taxa... E combinar uma fonte de renda pra saúde que seja responsável.

Eles ficam falando aí que no governo FHC arrecadou tanto, e então justifica arrecadar talvez até mais... qq é isso, é proposta de "acordão"? Vamo todo mundo enfiar a faca no povo, pra poder dar ambulancinha, e continuar ganhando eleição e frequentando os puteiros de Brasília? Vão se foder. Não tem nada que ficar chorando que "aaah no governo passado arrecadaram tanto". Tem que sempre se esforçar é pra fazer mais com menos. Não tem nada que propor acordão de "eu não reclamo do que aconteceu 12 anos atrás, e você deixa eu fazer isso aqui hoje de qualquer jeito"...

***

Eu acho super legal o Lula falar que prefere ser essa metarmofose ambulante, e que não possui a cristalinidade pétrea de um manifesto comunista ortodoxo anacrônico. gosto mesmo!... Agora, não é por isso que a gente tem que achar que a CPMF é BOA. Tem que parar com a demagogia e ingenuiadde de que pra aprovar um importo ele tem que ser um imposto "bom, benéfico, legal", e que se não vai aprovar então é uma coisa "condenável, ominosa horrível", etc.

O PT é preocupado com isso porque na experiência deles esse maniqueísmo superficial ajuda a manipular o povão. Pra botar um bando de gente bradando coisas como "Xô cpmfeeee" nas ruas, tem que ter uma certeza cristalina pétrea de um manifesto comunista ortodoxo, não adianta fazer discursos profundos, que falam realmente o cerne do problema, e falam com a responsabilidade necessária pras questões. Ou seja, o discurso de um FHC, Covas ou um Serra.

Eu sei até que o PT sabe que a questão é essa: É um imposto ruim, mas por enquanto tem que ficar só mais um pouquinho... Mas aí eles tem que criar esse sentimento de defesa absoluta das coisas. O qu eme incomoda é isso, esse jeito (menos) velho de fazer política.

E os repórteres se deleitam com as afirmações absolutas, certezas estalinistas, catarses jatenianas...

***

2007/12/08 - Hoje o Lula falou que "a oposição" tá sacaneando com a CPMF só porque ele é torneiro mecânico!!! AAaaah tenha dó, agora chega vai, como diz o FHC, "oora, faça-me o favooor!"

Esse é a peçonha do PT que mais me irrita. Bando de babaca, sabe que isso é um populismo escroto, um monte de mentiras de merda, que saem falando só ra foder com todo mundo. O negócio é se dar bem, é o "tudo pelo poder, etc.

Dizem que tão fazendo o "quanto pior melhor"... E isso daí é o que? É o "quanto mais eu inventar coisas pra falar em público pra manchar a reputação dos 'adversários' da 'oposição' melhor..."

O próximo passo é o Lula dizer que o Fernandão que mandou o PSDB foder com a cPMF porque ele é ateu, e não se importa com as pessoas, quer que elas morrar... O papa bem que disse.

Eu aposto que esse discurso aí foi tipo uma demonstração de poder, saca. Zed e MAGuinho chegaram, e decidiram "vamos mostrar pra eles que se eles não cederem nós vamos jogar sujo, falando todas aquelas merdas que quando a gente fala o povão acredita."

É o que o PT faz melhor... Ainda melhor do que ser "contra tudo isto que aí está" (isso os PSTU da vida tão fazendo melhor hoje em dia.)

É retórica populista manipuladora filha-da-puta que mencionei anteriormente, que chamei de "jeito não-tão velho de fazer política". A idéia do Zed e coleguinhas é: vamos manipular o povo, subjugá-los através de sua própria ignorância, "enfiando a mão na merda", para que possamos então finalmente chegar ao poder e aí realizar as maravilhosas políticas públicas que vão torná-los inteligente se imunes esse tipo de golpe.

Só que aí já sabe, né: primeiro, eles tem que garantir um certo nível de ignorância pra garantir o poder deles por bastante tempo, pra sempre garantir que els estarão lá, salvando as pessoas!... E depois também, já sabemos: eles chegam lá no poder, e aí perguntam assim: "podem mandar sugestões pra gente ver o que vai fazer lá no ministério da educação..." (mas isso foi só no primeiro governo, vai :P )