Showing posts with label política. Show all posts
Showing posts with label política. Show all posts

2009/06/25


Perdi meu emprego por causa da greve da greve

Eu sou o bobo-alegre segurando o cartaz nessa foto do UOL.

Passeata anti-greve na USP muda de trajeto por temer violência de grevistas

É impressionante a capacidade dos fotógrafos jornalísticos de te flagrar no único segundo que você sorri em todo um evento. Sorte que eu não botei o dedo no nariz ou bocejei, porque eles iam adorar tb.

Vou contar a história desse slogan que alguns aparecem ter gostado, mas sem entender direito. Em primeiro lugar, é uma variação de uma piada muita antiga, que não tenho certeza se aprendi na MAD, mas foi em algum lugar parecido. A um tempo atrás havia um slogan, que é usado até hoje: "Vá ao teatro." Como campanhas teatrais podem às vezes ser um pouco insistentes chatas e radicais demais, algum engraçadinho inventou um dia de subverter o slogan: "Vá ao teatro, mas não me chame." Eu só reaproveitei adaptando pro contexto atual...

Eu pensei em fazer esse meu cartazinho A4 "SMS" depois de pensar em muitos outros slogans. Um era: "democracia é respeitar as minorias". Cansei de ouvir em conversas sobre quem que é a maioria ou minoria. Pessoas debatem sobre se a maioria quer ou não a greve. Discutem sobre quem foi a maioria em assembléias... Isso não interessa tanto. Democracia não é a famosa "ditadura da maioria", democracia é uma situação onde minorias são respeitadas apesar de serem-nas.

Interessante comparar isso com aquele período da revolução russa em que a maioria "bolshevik" deixou de fora do poder a minoria "menshevik". Varreram-nos para a lixeira da história. Isso não é bonito não. Tem que deixar os chatos da minoria lá com suas manias...

Democracia é tolerar a existência de seus dissidentes, e até mesmo a necessidade de conviver com eles.

Então é isso. Eu não tenho nada contra o teatro. Eu até gosto de ir de vez em quando sim. Mas me deixa em paz, pô!

Não sou contra a greve não. Não gosto da reitoria, e sei que a greve não está ocorrendo à toa. Mas se eu ainda não me convenci que eu devo parar, me deixa trabalhar.

Meu protesto não é contra os trabalhadores em greve na USP hoje, e os alunos e professores apoiando-os. É antes contra a cultura do que assassinaram Trotski.

A propósito, fiz este pequeno cartaz usando o Inkscape, e a fonte é a DejaVu Sans, com as proporções levemente distorcidas.

2008/08/25


Liberdade pela obscuridade?

ATUALIZAÇÃO 2:

Faz algum tempo que uns desenvolvedores do Debian têm se debruçado sobre um projeto "debian-live", criando um conjunto de ferramentas pra que as pessoas façam live-cds do jeito que elas quiserem. Você pode pegar paradas e ver as últimas notícias do projeto aqui.

E não é que hoje lançaram finalmente uma versão beta 1?

2008-08-27: Debian Live Lenny Beta1

The Debian Live team is pleased to announce the first beta of Debian Lenny's Live images.


Parece até uma resposta ao gNewSense, na minha mente paranóica.

Tá aí agora. Você pode usar essa ferramenta (que suponho se livre), pra selecionar só os pacotes que você realmente considerar livre, você pessoalmente, e criar o seu live CD.

Eu mesmo vou montar um sem Gnome, nem KDE nem xfce, vou fazer um livecd com vtwm!!!

E com IceWeasel, já que a logomarca do Firefox infelizmente não é livre, né... Me pergunto, por acaso o gNewSense não vem com o Firefox, ou eles não consideraram isto uma nuisance?

Este é o Debian way. Não é fazer uma distro livre, é fazer um pacote que você instala com apt, e te ajuda a fazer Live-CDs do jeito que você quiser. Pode até fazer um Live CD com os tais pacotes do Debian-Live dentro, pra gerar novos Live-CDs sob demanda, ao vivo. Isso não é simplesmente DOIDO DEMAIS?

Quem sabe faz ao vivo, e tudo com apt.

ATUALIZAÇÃO:

Na verdade a notícia do Slashdot foi absurdamente exagerada. O nível das notícias de lá está lentamente se tornando tão ruim quanto o dos comentários.

A distro nada mais é do que um Live-CD organizado pelo princípio de possuir apenas software estritamente free. A necessidade de derivar a partir do Ubuntu é antes de mais nada porque desejava-se um Live-CD, e isso o Debian (a fonte do próprio Ubuntu) não é. Só isso.

Aí misture-se a isso afirmações exageradas sobre Ubuntu ser muuuito mais bem-apessoado q qualquer outra distro, e sobre ser fundamentaaaal pro futuro da humanidade que todos possuam computadores com apeeeenas coisas absolutaemnte liiivres instaladas. Aí você tem uma receita pra uma notícia bombástica pra irritar o Nicolau.

No final das contas vc pode perfeitamente pegar esse negócio aí e instalar uns skype e varicad da vida com o bom e velho dpkg, e possivelmente colocar as fontes de pacotes contrib e non-free à disposição, inclusive os pacotes do Marillat... Nada diferente de usar Debian, exceto que deve possuir o "emerge" que é muuuuito mais fácil de usar do que apt, e vem num Live-CD que faz a instalação mais prazerosa pra usuários new-school.

i.e. nothing to see, move on...



ORIGINAL:
____
Fiquei meio encafifado com essa tal distro "patrocinada" pela FSF. Aqui vai um "reprint" do meu "comment"que eu "postei" no slashdot.

A NOTÍCIA

To me this feels just lame. It's a bit like the dream of the programming language that will forbid programmers to create bad code. "Oh, Debian is baaad, dude, it ALLOWS people to install proprietary filthy bits if that even crosses their minds. Let's do this new distro that kinda certifies every little file in the HD and if it meets something different from fully 100% GPL compatible, it just goes BOOM, explodes the box!!"

People must CHOOSE to have free software all the time, they must do so KNOWINGLY. They must be FACED with the alternative all the time, must be tempted by the devil all the time. That is how we go on with our lives. Yes, it is difficult.

The idea that we need a new "pure" distro instead of Debian (or many others) is ludicrous to me. People should just LEARN about how to use APT, and understand how that affect their lives, instead of look for a distro that "handle all that" for you, and send you to user heaven when you die without hassles.

This is a proposal to create alienated users, just like the dark side already does. It's playing by their rules. I've seen a lot of this in other contexts, it happens sooner or later.

Programming languages, like distros, are TOOLS. When we put limits to them, you are making a sin. That is the sin the proprietary world do all the time... Tools are extensions to our bodies and souls, and by limiting them, thei are crippling us. This distro is a limited distro. It was born from an idea of limiting what can (or should) be done. This PRINCIPLE is wrong, and should not be followed.

How much time before people get this and subvert it, find ways to install this or that proprietary thing? It will be sort of a "pirated" gNewSense, with probably an even worse name. So there will be them, the great "freedom fighters" who will "liberate" gNewSense for the people to use and finally do what they will, instead of strictly what the creators of the distro had in mind... A "people's" version of a "GPL" version of a "people's" version of Debian...

Can't you SERIOUSLY not install Debian and NOT include the contrib and non-free sources (which are not default BTW) and then NOT install skype, or pirated windows binaries or pirated Mathematica or SNES ROMs or Leisure Suit Larry or whatever? Just do that, do NOT use proprietary, instead of asking for your big brother to watch over you.

Perhaps they like the spirit of this in Venezuela, or other countries where Stallman has been going to a lot lately. I sure don't like it here in Brazil. But what do I know? I haven't tried many distros in my life. I only switched from FreeBSD to Debian after I asked RMS himself for suggestions, and I liked it ever since. He did look a bit uncomphortable at the time by suggesting it, I believe he still didn't find it the perfect distro. I honestly hope he doesn't find THIS the perfect one,and feels at least a bit uncomphortable by suggestig it too...

2008/08/18


Brasil 2012 - IPv6 para o Pelé. Ops!

Se tem uma causa pela qual este blog aqui luta, acima da popularização do software livre, ideais políticos, e outras coisas chatas e mundanas, é a adoção completa e irrestrita do IPv6 em toda a Internet.



0111
0 1 Campanha da fita binária,
1 0 pela conscientização da crise do protocolo IP.
10
1 0 ADOTEM JÁ O IPv6!!
1 1


O nosso estimado leitor Pimenta Malagueta recomendou-nos um artigo no arstechnica que faz coro a esta minha reivindicação. O texto foi ensejado pela chegada de uma marca numerologicamente notável: faltam apenas um bilhão de endereços possíveis a serem atribuídos na Internet. (Se você acha pouco, saiba que são "apenas" 3.7 bilhões os possíveis...)

Quer dizer, isto enquanto nos limitarmos ao IPv4... A migração tem que acontecer mais cedo ou mais tarde, e é atrasada antes demais nada devido ao interesse podre das empresas que não sentem muito no bolso enquanto a qualidade da Internet de todos usuários do planeta vai decaindo simultaneamente. Eles não querem renovar equipamento, não querem fazer administração "complicada", com gerenciamentos sofisticados de uso de larguras de banda, não querem viabilizar coisas legais como clientes criando conexões com QoS controlado dinamicamente...

Eles só querem manter roteadores podrinhos, velhos e basiquinhos, mantidos por estagiários recebendo salários de fome em salas dominadas por aranhas. E se um usuário tentar colocar a cabeça pra fora do perfil geral de atuação da manada, toma uma cacetada entre os chifres.

Por causa deaa letargia capitalista toda, é legal quando os governos da China e da Coréia e outros ali no leste asiático tomam iniciativas pra instalar o novo protocolo em suas fronteiras. Isso é uma chance de ouro, países mais atrasadinhos como eles e nós, em relação aos EUA e Europa ocidental, podemos aproveitar que não temos redes tão sofisticadas, e teríamos menos trabalho pra fazer a migração é só querer, e depois ver o Tio Sam chupando o dedo.

Vivem falando no Brasil "ai, tínhamos que ter feito que nem a Coréia do Sul x anos atrás, quando eles decidiram investir pesado em educação". Não será esta mais uma decisão da Coréia do Sul que se não imitarmos agora vamos nor arrepender mais tarde? Passamos os últimos anos invejando o crescimento da China em meio às crises no resto do mundo,. Não seria esta uma oportunidade que os governantes e homens de negócios da China (freqüentemente as mesmas pessoas, pelo que ouvi dizer) estão sabendo aproveitar, e nós não?

O artigo ali do Arstechnica fala do site das olimpíadas de Beijing poder ser acessável através de IPv6. Uma formidável propaganda da tecnologia e do país, pela qual estão de parabéns todos envolvidos.

O artigo ainda menciona que, pelas contas mais pessimistas, os IPv4 pode se esgotar na época das próximas olimpíadas, em Londres...

Se não acabar até lá, teremos logo a seguir a copa no Brasil. Por causa dessa copa tão dizendo que vão construir metrô em São Paulo, em BH, que vao arruamr aeroporto, vão fazer trem... Que tal se a gente colocasse junto de todas estas reformas estruturais, uma implementação do IPv6 na Internet Brasileira?

Os chineses fizeram o IPv6 por Pelops, herói grego das olimpíadas. Podemos fazer por Pelé!... IPv6 por Pelé, é a nova campanha.

Mas não. Temos só aquela briga besta, de um lado uns querendo criar protocolos bizarros certificando cada conexão TCP feita na Internet, uma preocupação que só encontraria paralelo em fazer análise química de tintas pra descobrir quem anda escrevendo palavrão na porta do banheiro. Do outro temos aquele pessoal louco pra tornar NAT (e acredito que IPv4 também de tabela) algo obrigatório por lei, como se fosse a coisa mais linda do mundo.

Vamos pra frente, gente!...

A propósito, eu disse "novo" ali em cima? "protocolo novo"??... IPv6 já existe (em versão alfa, verdade) no Linux desde 1996!! Faz mais de 10 anos, portanto, que ele já está "rolando por aí"... E você que achava que a Internet e a informática moderna era sobre agilidade, hein? Era sobre ser incapaz de seguir o rumo dos acontecimentos. Qual o quê!

Se você quiser acompanhar o dia cataclísmico do fim dos endereços de IPv4, o artigo lá recomenda esse site. Tenebroso...

2008/07/26


Horas e relações quebradas

Apesar do mundo se dividir mais ou menos todo em fusos-horários mais ou menos regulares, Com regiões saltando exatamente uma hora entre si, alguns governos acham bom determinar um fuso um pouco mais preciso pra eles. Por isso existem alguns lugares onde o horário com relação ao UTC é um número quebrado, e não uma soma de horas inteiras. Alguns lugares definem fusos bastantes quebrados, numa precisão absurda que talvez só interesse mesmo a astrônomos. A maioria destes "outliers" escolhe apenas um número com uma meia hora a mais... Imagine o seguinte, se sua cidade ficasse EXATAMENTE entre dos fuso-horários convencionais, pra que ficar louco tentando escolher um, se você pode falar "então é no meio"?...

É só questão de determinar quanto de erro você tá disposto a aceitar. Alguns acham que meia hora está OK, outros vão dizer que não, 15 minutos é melhor. É o caso desses caras.

Pois bem, hoje reparei uma coisa interessante. Dos poucos países / cidades que adotam fusos horários com horários terminado em :30 (com relação ao UTC), vário são países que possuem brigas políticas e diplomáticas com o Estazunís. Exemplo: Venezuela, Afeganistão, Pérsia (i.e. Irã), e Mianmar! Faltava só entrar Cuba e Coréia do Norte pra completar a lista dos países que não podem, por exemplo, comprar chapéu do Míquei Mause, caixinhas com produtos "fabricados" pela Microscrot, ter participantes no google code jam, e outras coisas não necessariamente boas ou ruins... (não sei se essas restrições chegam ao ponto de impedir a exportação de coca-cola e existência de mcdonald's)

Não é uma coincidência interessante??... (Se é que não é só impressão minha) Será que de tanto ter brigas políticas com outras nações, esses governos adquirem uma postura mais de "auto-determinação", assim, e começam a querer fazer pequenas ações só pra mostrar sua independência, e desejo de se despender de pressões políticas internacionais, seja numa questão tola qualquer como essa do fuso-horário? Vá saber.

2008/07/14


Todos errados na polêmica da Internet

ATUALIZAÇÃO:
Quando me mandaram o abaixo-assinado do Sérgio, entendi que era outro assunto. Mas não, a lei que foi votada é aquela da tipifação de crimes eletrônico. Quanto a este assunto, eu não podia me importar menos, é papo de juiz e advogado, falar "ah, cirano vai pegar x anos na cadeia, mas se o crime tiver sido cometido enquanto ele plantava bananeira, vai ser mais um ano"... Assunto compeltamente estéril, ridículo.

Quanto a esse assunto, minha crítica é um pouco semelhante à do outro, na verdade. Acho que as coisas deveriam permanecer o mais próximas o possível das legislações existentes. Acaso não há leis quanto ao porte de pornografia infantil em formatos que não eletrônicos? O que se deveria fazer no máximo é qualificar os crimes, e não criar crimes específicos... (mas eu não entendo desse assunto, de repente é até bem por aí que já estão andando)

A questão é que não devemos sair por aí falando em "crimes eletrônicos". Todos os alegados crimes eletrônicos são na verdade os memos velhos crimes de sempre, só muda o meio. Golpistas são golpistas, sabotadores são sabotadores...

Essa coisa de proibir "invasão de rede", por exemplo... Ora, o crime de fato, a ação preocupante é a espionagem industrial, por exemplo. Que que tem o cara entrar numa máquina/rede e dar um "dir"??...

O lance é que as pessoas e empresas são incompetentes na proteção de seus equipamentos, e vivem se assustando ao se encontrarem com gente que conhece estes equipamentos melhor do que elas, e aí querem dar porrada ao invés de fazer o certo: aprender a fazer as coisas direito. É basicamente uma caça às bruxas: condenação à morte de pessoas que realizam prodígios "mágicos". Tão querendo condenar não simplesmente as pessoas que cometem crimes (fraudes, roubo, espeionagem), mas as pessoas que tem capacidade técnica superior, só por isso.

Um cara entra na sua casa, abre seu cofre, e deixa um bilhetinho: "hahaha", você não pode condenar ele por roubo, né?... Tem lá a invasão do imóvel, OK, mas fora isso, porque que abrir o cofre e fechar de novo é crime?

As pessoas querem poder ter um cofrinho vagabundo, uma caixinha amarrada com barbante, e simplesmente falar "olha, é proibido abrir, é tabu". Isso é ridículo, se seus dados e objetos são precisosos, tem é que guardar direito, e não ficar ameaçando dar porrrada em que olhar / pegar.

Talvez a questão da criação e distribuição de virus de computador possa sim receber essa atenção especial, mas junto a ela eu gostaria de ver a tipificação do crime de uma companhia grande lançar uma porcaria dum sistema operacional cheia de furos. Isso que é o crime maior, condenar a população e esta situação ridícula...

Quer dizer, a porcaria do Outlook tem um dispositivo de sair abrindo arquivos sozinhos e executando eles, o que pode facilmetne ser explorado pra criar worms, e se alguém faz um a culpa pela bagunça causada é dele, e não do criador do aplicativo? Imagina que uma fábrica tem um carro que se vc der um peteleco num ponto específico, de fácil acesso, ele desmonta todo... O carro não é robusto, mas os petelecador é que é o culpado pelos danos eventuais? Não senhor...

É a questão do vizinho que querendo ou não querendo, monipoliza seu roteador wi-fi ruim. O roteador é uma porcaria, mas a culpa é do Azureus do cara? Não, a culpa é da D-Link, Cisco ou sei lá quem for. Culpa dessa porcaria dessas empresas que não oferecem pra gente tecnologia de ponta, que não oferece IPv6, não oferece QoS flexível.

Enfim, aí vai o post inicial, sobre a polêmica que realemnte importa: da tentativa de "burocratizar" os protocolos da Internet, exigir identificação em cybercafés etc.

***
Nas discussões sobre o projeto de lei do senador Eduardo Azeredo relativo à Internet estão todos errados (menos eu, claro). Se todos estudassem um pouco mais de engenharia, se soubessem um pouco melhor como as coisas funcionam, poderíamos mudar a briga pra uma outra muito mais importante: a da sociedade contra as empresas fornecedoras de acesso à Internet (ISPs).

Me mandaram agora o link pra petição do Sérgio Amadeu:

http://new.petitiononline.com/veto2008/petition.html

Eu recomendo que ninguém assine. Mas que fique claro: sou absolutamente contra o projeto de lei também.

O projeto basicamente exige a criação de um protocolo "complementar" a funcionar junto de qualquer conexão TCP/IP. Este protocolo realizaria identificação de usuários, e ajudaria a controlar acesso a conteúdos.

A idéia é questionável por vários motivos, mas o maior deles é que é tecnicamente infeliz. Querer mexer no funcionamento dos protocolos é uma piada de mau gosto. Que diriam os caciques do IETF ao ouvirem estas propostas?

O projeto no entanto parte de uma necessidade real, cuja melhor solução se alia a um desejo meu... A necessidade é identificar usuários para perseguir aqueles infratores de leis relativo ao tráfego de certos conteúdos (se eu sou a favor ou não dessas leis _não importa_). A solução, é acabar com o NAT.

Sim, porque a única dificuldade que existe é o NAT. NAT, pra que não sabe, é um esquema que funciona igualzinho PABX com telefones. Ele atrapalha pelo mesmo motivo que PABX atrapalha descobrir que funcionário de uma empresa fez alguma ligação (por exemplo, não aparece o número no seu bina, certo?)

A Internet era pra ser igualzinho a rede telefônica: cada um tem um número pessoal, que pode originar e receber chamadas. Mas devido à infelicidade da versão 4 do protocolo IP ter só 32 bits de endereço, começou a faltar número, então esse PABX se fez necessário. Não dá pra facilmente aumentar o número de dígitos, que nem se faz em linha telefônica. Resultado, em nossas casas e empresas somos freqüentemente ligados num grande PABXzão, sem a gente se dar conta...

Essa praga de NAT é o principal impedimento hoje em pessoas terem servidores dos mais diversos serviços em sua casa. Não fosse o NAT, poderíamos receber e-mail em nossas casas, direto, igual caixa de correio mesmo. Poderíamos fazer ligações de telefone através da Internet, sem precisar de redes como o Skype. Poderíamos hospedar websites...

O Sérgio Amadeu e colegas se dizem preocupados com isso, mas deviam estar lutando antes de mais nada por essa terrível tirania que é o NAT. Deus meu, o NAT impede até as pessoas de jogarem JOGUINHOS direito. O NAT torna dificílimo possuir um servidor de qualquer serviço que seja, por exemplo, um servidor para distribuir software livre, ou vídeo livre, ou o que for.

Entretanto, existe esse empecílio dele na identificação de usuários realizando atividades potencialmente criminosas, existe essa certa anonimidade oferecida...

...Só que é uma anonimidade burra, mal-feita, infeliz. Tecnicamente tosca. As pessoas preocupadas com anonimidade tem que procurar ferramentas adequadas, tem que lutar pelo uso de bons protocolos que rodem sobre o TCP/IP, e que permitam a anonimização. Tem que aprender a usar criptografia, e tem que aprender a utilizar técnicas tradicionais para evitar rastreamento. Por exemplo, tem que aprender a fazer retransmissões de conexões, os famosos "proxies".

Proxies já são utilizados em redes telefônicas a muito tempo. Inclusive isso aparece muito em filme de detetive. O único motivo porque fazer proxy é difícil na Internet, é o NAT.

O projeto do senador Azeredo, se não me engano, também tenta tornar ilegal fazer um proxy TCP/IP. Isso aí eu considero um absurdo muitíssimo maior, o verdadeiro escândalo nesse projeto, mas eles quase não se pronunciam quanto a isso...

Havendo uma verdadeira disponibilidade da tecnologia TCP/IP aos cidadãos, com endereços reais ao invés de NAT, fica fácil montar redes de proxies com conexões encriptadas, tornando quase impossível para qualquer investigador fazer um rastreamento das conexões. Lutar pela manutenção do NAT por causa do anonimato indireto e tosco que ele oferece é um no-brainer.

NAT é um inferno, uma gambiarra tosca que só serve pra encoleirar os usuários. NAT impede todo esse uso bonito da Internet que o Sérgio Amadeu diz proteger. NAT é uma grande dificuldade para o uso de P2P, por exemplo. Dizer que é a favor de P2P e de NAT ao mesmo tempo é um paradoxo, é um contra-senso absoluto e imperdoável.

Pintar as ISPs como "parceiros" dos seus usuários, protegendo dados de anonimato, é no mínimo risível. O governo tem todo o direito de querer monitorar ligações, como já acontece com o telefone e sei lá mais o que. Eles só não pode é tentar proibir criptografia. Poder pode, mas não vai conseguir. Quem se preocupa tem que ir é nessa direção. A gente tem é que ficar independente das ISPs, e não confiar nelas a nossa segurança. Não tem que confiar é em ninguém, só na sua pessoal rede de proxies e canais encriptados... E o o fim do NAT vai permitir que esse tipo de tecnologia seja utilizada direito.

O que precisamos é lutar pelo IPv6, cuja principal característica é o maior número de bits de endereçamento, acabando com essa desculpa para que as ISPs e o governo nos controle com NAT. O governo, o Sérgio Amadeu e eu temos que nos unir e lutar pelo IPv6. As ISPs no mundo inteiro não querem o IPv6 porque, além de ser mais confortável ficar no NAT, não querem trocar equipamento, não querem atualizar nada.

As ISPs precisam de um belo chute no traseiro. Se depender deles, ficam par sempre oferecendo um serviço ruim, a um preço alto. IPv6 vai praticamente obrigar as ISPs a trabalharem mais, a oferecerem serviço de mais qualidade. Vai ajudar o governo a rastrear quem eles querem tentar rastrear, e vai ajudar os que buscam anonimidade a obtê-la. E o mais importante, vai permitir entrarmos no grande tópico do futuro da Internet: prover QoS. Quero saber de QoS, essa conversa toda que rola hoje é coisa do século passado, senão do retrazado.

Tão todos errados, olhando pra trás. Tá querendo ver a Internet como jornal, como rádio, como carta... Ela é no mínimo como a rede telefônica, legislações sobre a Internet deviam andar casadas com legislações sobre a rede telefônica.

Mas é claro que a Internet é ainda mais do que isso. Mas pra começarmos a ver as peculiaridades da Internet temos primeiro que enxergar ela como analogia da rede de telefonia, e nem o Azeredo nem o Sérgio Amadeu parecem ter chegado nesse nível de entendimento ainda...

Eduardo: Por acaso a cada ligação telefônica que você faz você tem que sair falando seu CPF por aí? Se você liga prum disk piada, ou pede uma pizza, vc sai se identificando? Não, né? Você só fala "alô", e pode até pedir pizza no nome de outras pessoas, uma piada de mau-gosto que não deixa de ser clássica (e que pode ser evitada, a propósito, com esquemas de identificação criados pela própria pizzaria, sem que o governo interfira). Então a regulamentação é um absurdo. Por acaso você deixa CPF quando liga de orelhão? Não. Então libera o acesso não-identificado nos cyber-cafés.

Por outro lado, Sérgio, você acha que o governo deve ser tipo fundamentalmente impedido de rastrear, dentro de um sistema telefônico interno de uma empresa, quem anda fazendo algum tipo de ligação ilegal? Não né? Tudo bem que deve ter um processo específico pra isso, diferente de rastrear uma ligação de uma linha pessoal, mas uma empresa não é tipo um bastião do anonimato dos seus funcionários, que estão ligando de baixo dos PABXs delas. O PABX é só um inconveniente pro processo de rastreamento e escuta, e a empresa só um inconveniente legal, mas facilmente superável. Tenho certeza que nenhum juiz jamais consideraria o PABX uma barreira intransponível, uma espécie peculiar de direito a anonimato inalienável... Não senhor, tem que ser igualzinho qualquer outro telefone por aí. Quem quiser se proteger ao realizar ligações tem é que procurar formas boas pra fazer isso, e não contar com este empecílio técnico criado pelo PABX. Isso é se agarrar num toco de madeira no meio do mar, chamá-lo de seu navio, e querer dar nome, sei lá...

O que mais me dá raiva, em geral, é a proposta de tornar as coisas fundamentalmente diferente do que ocorre na telefonia. Tem que ser igual primeiro. Os mesmos princípios tem que ser aplicados coerentemente nestas duas ferramentas de comunicação, antes de mais nada. Os problemas de anonimato já existem lá a muito tempo, e ajustiça já lida com eles desde então. Precisamos resgatar o que já existe, ao invés de querer dar o golpinho, a rasteirinha de tentar mudar as regras gerais do jogo porque ainda não falaram explicitamente que é pra ser parecido nos dois mundos. Cada um querendo aproveitar a chancezinha pra cravar o seu pontinho, pra fazer valer sua opiniãozinha num assunto que é apenas superficialmennte novo, e a sociedade perplexa, sem entender de onde vem toda a fúria dos dois lados, quando na verdade não tem nada de novo em toda essa história.

O que tem de novo é a facilidade em dar mais tecnologia ao povo, e nenhum dos dois lados me parece realmente estar lutando em nome disso, não enquanto a discussão não for a respeito do fim do NAT, e do oferecimento do serviço de acesso baseado estritamente em venda QoS em conexões TCP/IP, sem considerações sobre os conteúdos transmitidos.

Quantos engenheiros eletricistas (de computação ou teleco) participaram desse debate todo? Te digo: nenhum. Quer dizer, tem pelo menos eu, mas ninguém me escuta, então estou oficialmente fora do debate... O Azeredo é engenheiro, mas mecânico. Ele de fato trabalhou muito com informática na vida, e fez uma porção de trabalhos muito bacanas envolvendo a aplicação dela no governo, ajudando a população. Mas não creio que teve a oportunidade de jamais estudar aprofundadamente o funcionamento da Internet. O Sérgio Amadeu e os outros dois signatários daquele abaixo assinado ali são todos "de humanas", por mais que conheçam informática, como o Azeredo. Por mim, é o sujo falando do maltrapilho. Cresçam.

2008/07/03


Raiva sistemática

Você sabe que tá virando um velho chato porque ainda acha doido demais ouvir uma música que contém o verso:

move into 92
Still in a room without a view

Know your enemy RATM

1992, cara! Isso faz quase 18 anos! Uma vida!... (Talvez meia vida, vai... Uma maioridade! As músicas do Rage atingiram a maioridade.)

As músicas do Rage Against the Machine continuam atuais, como as do Sepultura dos anos 80 tb continuam, falando sobre terrorismo e polítca e sei lá. Mas o número, 92 ficou "passado", claro. O único número nas músicas do Rage que continua atual é o 9.

Said they pack the nine, they fire it at prime time

Bullet in the head RATM

2008/06/30


Objetivando Einstein

Nada marcou mais a cultura estadunidense do século XX, e de tabela a nossa, do que aquele alemão chamado Albert, e aquele austríaco chamado Adolf. Ambos são hoje símbolos marcantes que significam para as pessoas mais do que qualquer simples pessoa pode significar para alguém.

Estes dois ícones foram e estão sendo continuamente sobrecarregados de significado, estão sempre portanto contribuindo para que ocorram conversas altamente subjetivas, extremamente livres a interpretações. Quanto mais diferentes pessoas atribuem significado a estes dois aí, mais o que se fala sobre eles fica ausente de significado, devido ao desacordo e subjetividade.

Por exemplo, imagine quando numa conversa qualquer alguém sugere que uma certa ação apoiada por alguém também teria sido apoiada por Hitler. Isto basta para acalorar a discussão e para que pessoas se sintam ofendidas, apesar de que ninguém tem muita certeza do que é que realmente se está falando.

O mesmo acontece com Einstein, mas com ele é um pouco diferente porque ele é geralmente visto como um cara legal, então ninguém se ofende, mas apenas se sente elogiado. As discussões evocando a figura de Einstein ficam acaloradas menos porque os comparados a ele fiquem ofendidos --- ficam é lisonjeados e se sentindo não-merecedores, enquanto os não-comparados ficam com inveja.

Einstein é então esse ícone que ninguém sabe bem o que significa, é uma lenda, um símbolo que ultrapassou a muito a pessoa. Eu já não gosto dessas coisas com qualquer personalidade, com mas com ele é pior porque se trata de um cientista, e eu desejaria que cientistas fossem menos suscetíveis a esse tipo de irracionalidade.

Senti que há um pouco dessa visão subjetiva e pouco científica de Einstein no artigo "Avaliação objetiva (?) da pesquisa", de Marcelo Viana, que li no jornalzinho da SBPC. Lá o autor pergunta se Einstein receberia financiamento do CNPq, e como leitor senti que seria uma forma de crítica ao sistema, em cujos critérios o genial cientista não se enquadraria em certo momento de sua vida.

Aí eu pergunto, qual exatamente é esse critério, e qual seria algum critério ou apenas "justificativa subjetiva" que daria a Eisntein a parte que lhe caberia deste latifúndio?

Sinto que o artigo se baseia um pouco numa idéia de que Einstein mereceria rios de dinheiro em toda sua vida. Não creio que isto seja certo.

A obra-prima de Einstein, um trabalho que um governo gostaria de ter financiado, foi um conjunto de artigos que ele publicou em meados de 1905 enquanto ele trabalhava em um escritório de patentes. Depois dessa época (quero dizer, BEM depois, mais de 10 anos depois), ele pode ter continuado um cientista bacana, uma pessoa inteligente brilhante e dado bons palpites em um problema ou outro, mas não fez mais nada tão "mirabilis" quanto aqueles artigos ali.

Depois de vencer seu Nobel em 1921, Einstein eventualmente se mudou para os EUA, onde trabalhou em Princeton vivendo mais como um meio-aposentado bacana do que como um cientista em busca de realizar (ainda mais) grandes coisas. Teve pouquíssimos orientados (se algum), publicou pouquíssimos artigos e livros. Porque haveria o CNPq de sua época e local se preocupar em beneficiá-lo com grandes verbas para pesquisa?

(nota: talvez um critério mais sofisticado mostre que os poucos artigos de Eisntein tenham sido muito citados, ao longo de toda sua vida. Gostaria de ver os números.)

E quanto aos físicos experimentais que comprovaram suas teorias todas? Cada um daqueles artigos ali deu origem a coisas como um ou dois experimentos cruciais, históricos no desenvolvimento da física. Uma vez que Einstein fez seu trabalho, o CNPq correlato deveria se preocupar é com financiar esses experimentos, e não mais o Einstein (a não ser que eles indicasse que haveriam mais mirabilis pra tirar da cartola). Tem que financiar os testes de efeito foto-elétrico, movimento browniano, lentes gravitacionais, interferômetros e raios LASER da vida. E até onde eu sei Einstein não importou muito em liderar ou participar ativamente destes experimentos. Porque deveria então o CNPq conferir a Einstein a verba que deveria ser destinada a estes experimento, se não seria ele o cientista a finalmente pegar no facão pra cortar o mato e desbravar definitivamente estas novas searas?

Não. Einstein não teria porque receber grandes volumes de financiamento no período mais tardio de sua carreira (leia-se: depois de 1905, seus últimos 50 anos de vida). Se os critérios do CNPq hoje são tais que isso ocorreria, então eu apóio eles. (A não ser que estejamos falando simplesmente de manter um professor emérito numa universidade, batendo papos cabeça com Gödel, isto ambos sem dúvida mereciam.)

Devemos sempre buscar evitar dar financiamento a cientistas apenas porque eles fizeram trabalhos notáveis no passado, que eventualmente os tenham dotado de prêmios suecos, finlandeses ou o que seja. Não digo que se um cientista ganhou, ele não deve mais ser financiado, não é isso... Temos que evitar a politicagem, dar pouca chance às panelinhas e tomadas de poder.

Querer dar dinheiro pra Einstein em 1930 por causa de seu trabalho de 1905, e porque ele é super legal, é politicagem. É beneficiar seus amigos e ídolos porque o são, ao invés de fazer uma avaliação fria de onde o dinheiro seria melhor aplicado. É escancarar os portões à fisiologia.

Aposto que Einstein ficaria feliz em repassar qualquer verba (ou boa parte) que ele recebesse do CNPq para outros cientistas que ele sentisse que fariam melhor uso dela. Mais do que isso, aposto que ele ficaria feliz se um ou dois amigos dele o ajudassem a tomar a decisão de pra onde ele mandaria esse dinheiro.

É meio infeliz pegar Einstein como exemplo de cientista que não teria recebido um dinheiro que mereceria. Não sei se Einstein recebeu alguma verba especial da NSF durante sua estadia em Princeton, por exemplo, e o CNPq não estaria replicando este acontecimento. Um melhor exemplo de cientista teórico que não recebeu dinheiro e reconhecimento quando merecia, foi Boltzmann. E este foi sim uma grande vítima de critérios de financiamento subjetivos. Esse foi um que deve ter deixado de ganhar alguns mangos porque o governo deve ter preferido financiar Poincaré ou qualquer amigo dele, do que simplesmente avaliar seu trabalho e dizer "puxa, tão metendo o malho, mas ele tá trabalhando, tá produzindo, vamos deixar mais um tempo pra ver se não é só uma cisma boba desses cientistas, ou se ele é mesmo um picareta." Não era.

Não entendam aqui alguma espécie de crítica minha a Poincaré. Adoro ele. Minha crítica é às pessoas que deixam brigas no mundo acadêmico afetarem tão drasticamente o destino de um homem. A gente tem que se preocupar menos em saber se o CNPq financiaria um Einstein ou um Poincaré tupiniquins contemporâneos, e mais se o CNPq deixaria de financiar um novo Boltzmann.

Agora falemos um pouco de cientistas experimentais que precisaram e mereceram financiamentos especialmente vultosos: Lord Rayleigh, Lord Kelvin, Rutheford, Thomson, Fermi, Faraday, Oswaldo Cruz, César Lattes. Temos que discutir também esse tipo de trabalho, e não falar apenas de Einstein. Isto é simplificar demais a questão. Esse tipo de pesquisa representa um gasto maior, e é mais difícil de alocar. Porque estamos então falando apenas do velho Albert??

E por aí vai.

2008/05/09


Sobre ciência e capitalismo

Reprodução de um comentário / carta que fiz em resposta a um post-em-um-blog / entrevista-numa-revista. (apriveitando pra conçertar uns erinhos de portuguéz!)
***
Prezado Professor Schwartzman

Gostaria de somar minha humilde voz discente à do professor Shellar. O comentário sobre a física de partículas foi infeliz. Um ponto geral deveria permanecer assim: geral. Especificar uma área de estudos qualquer, tachando seus praticantes de fracassados inúteis, seria de mau gosto mesmo se fosse verdade -- o que está longe de ser.

Existem diversos problemas nesta afirmação. Primeiro, é um absurdo resumir a pesquisa em física de partículas à realização de seus experimentos, alguns deles notoriamente custosos. Existe muito trabalho teórico que precisa ser feito para complementá-los, o que inclui tanto análise de resultados quanto a própria concepção de novos experimentos. Algo similar ocorre, por exemplo, na astronomia, que por vez ou outra também recebe semelhantes críticas injustas. Me espanta o senhor não ter inclusive criticado também esta área, ou mesmo criticado diretamente o estudo de matemática pura.

Como engenheiro eletricista especializado em computação, garanto ao senhor que os trabalhos realizados na área de física de partículas, e outras, estimulam sim o desenvolvimento da própria computação, como foi com a citada criação da WWW. Também podemos mencionar atualmente o projeto de computação distribuída sendo desenvolvido para atender ao LHC. Este e outros projetos por vezes bem menores podem e são freqüentemente aproveitados em outras áreas. E como disse o professor Shellar, esta sinergia não ocorre apenas com a computação.

Este desconhecimento da profundidade e extensão dos estudos tanto em física de partículas quanto em outras áreas deve ser fortemente combatido. Vimos recentemente uma lamentável campanha de difamação do programa espacial brasileiro, por exemplo. Me pergunto até que ponto todas estas críticas pseudo-científicas são apenas levemente influenciadas, se correlacionando com interesses políticos antagônicos, ou se são decorrências diretas, causadas não só com altíssimo índice de correlação linear mas dependência funcional completa e determinística.

Questiono veementemente todo esse desejo em transformar as universidades em produtores de patentes e em consultores de indústrias. Isto não quer dizer que prego algo diametralmente oposto, apoio sim que hajam interações, acoplamentos, correlações e causações mútuas. Mas é errado ter na produção industrial, ou mesmo nesta chamada "produção intelectual" -- lamentável invenção do mundo moderno, transformando o conhecimento em commodity -- um fim prioritário da atividade científica. Descobertas científicas não são sacos de farinha.

O mundo das patentes é recheado de pesquisas fúteis. Numerosas são as patentes que não trazem nada de novo. Isto inclui famosamente a indústria farmacêutica. Esta, aliás, merece nossa atenção aqui primeiro porque é muito comum ver um cientista, quando questionado sobre sua atividade, acabar precisando recorrer à criação de remédios para se justificar a contento. Saúde e longevidade são uma espécie de remédio infalível para justificar qualquer coisa. Se contribui para medicina, então algo é visto como bom, se não contribui, dispensável. Isto é lamentável...

A multi-bilionária indústria farmacêutica raramente produz novos conhecimentos científicos relevantes. A interação da indústria com o meio acadêmico também freqüentemente provoca desastres, como pesquisas fraudulentas e desperdício de recursos, sempre devido ao sentimento do "tudo pela patente". Mais do que isto, patentes são um instrumento extremamente mal-utilizado. Elas devem servir é para proteger o inventor, e permitir que este negocie com as indústrias, mas são utilizadas como instrumento para a apropriação de conhecimentos que poderiam perfeitamente, e deveriam ser tornados públicos. São vários os casos de tecnologias inovadoras que caem vítimas de patentes que as engessam, numa ominosa forma de especulação intelectual.

O verdadeiro espírito científico inclui o desejo em divulgar descobertas da forma mais ampla e rápida o possível. Era o espírito de Santos Dumont, que compartilhava suas descobertas, oposto ao dos controversos estadunidenses Wright que faziam pesquisas secretamente com intuito de "vender" (como se fosse algum tipo de mercadoria produzida como ouro, aço ou soja) conhecimentos aos militares para que estes os convertessem em instrumentos do imperialismo e opressão. Esta é a epítome da contraposição entre o que geralmente ocorre na ciência nossa, e na dos EUA, que ainda hoje se preocupa excessivamente em ajudar às forças armadas daquele país, e a "se dar bem" em geral. Isto se vê até mesmo na usualmente "liberal" Berkeley, que recentemente tem me surpreendido muito ao começar a colecionar decepções minhas -- não que isto tenha relevância ao universo. A correlação deste com minhas opiniões não é "estatisticamente significativa".

Termino citando um famoso parágrafo de Henri Poincaré de que gosto muito, do livro O Valor da Ciência:



La recherche de la vérité doit être le but de notre activité; c'est la seule fin qui soit digne d'elle. Sans doute nous devons d'abord nous efforcer de soulager les souffrances humaines, mais pourquoi? Ne pas souffrir, c'est un idéal négatif et qui serait plus sûrement atteint par l'anéantissement du monde. Si nous voulons de plus en plus affranchir l'homme des soucis matériels, c'est pour qu'il puisse employer sa liberté reconquise à l'étude et à la contemplation de la vérité.

A busca da verdade deve ser o objetivo de nossa atividade; é o único fim digno dela. Não há dúvida de que devemos nos esforçar por aliviar os sofrimentos humanos, mas por quê? Não sofrer é um ideal negativo que seria atingido mais seguramente com o aniquilamento do mundo. Se cada vez mais queremos libertar o homem das preocupações materiais, é para que ele possa empregar no estudo e na contemplação da verdade sua liberdade reconquistada.



Me perdoe se soei agressivo em algum ponto. Careci de tempo para apurar a qualidade desta carta. Pretendo apenas estimular um debate construtivo a respeito destas questões que muito me concernem... O que mais me preocupa é que nesta crise que se está detectando no ensino de disciplinas técnicas no Brasil, tenhamos que passar por esta dificuldade em justificá-las, quando ainda por cima já é tão difícil justificar por exemplo um bom número de disciplinas das ciências humanas, como a história, filosofia e literatura que tanto estimo.

2008/05/06


O SESC é que é anti-eu

Dizem que o SESC está correndo o risco do governo federal "fechar a torneirinha", meter a mão no dinheiro deles. É algo deveras absurdom considerando que o SESC é muito bom, seja lá qual for o destino pra onde o governo que remanejar o tutu. Mas me incomodou profundamente, melhor, me deixou ofendido e ultrajado as afirmações do presidente do SESC no final de sua carta aberta:

Esse patrimônio não pode ser sacrificado no altar de prioridades transitórias, em nome das quais se engendra um prejuízo incalculável ao país.

Tornar a Educação meramente técnica, burocrática e pragmática, dissociando-a do universo simbólico, subjetivo, crítico e criativo, cerne da Ação Cultural, é um evidente retrocesso, fruto de visão flagrantemente obscurantista.
Certo de que compreenderão a gravidade dessa perspectiva, escrevo a vocês, formadores de opinião, representantes de classes, artistas, pensadores, amigos e parceiros do SESC para que se manifestem, pelos meios ao seu alcance, em prol da continuidade de nosso trabalho. Um projeto que, afinal, construímos juntos.


Quer dizer que educação técnica é uma coisa "dissociada do universo subjetivo, crítico e CRIATIVO"?? Todo cientista, físico, programador e engenheiro é um robozão boçal, sem livre-arbítrio, sem coração? Vão pro inferno.

Li outro dia aí, e imagino qu eseja verdade por minha esperiência pessoal, que este país possui uma das maiores proporções de alunos de áreas não-ténicas ("subjetivas") comparado às áreas técnicas. Dizem que estamos em falta de engenheiros. Naõ digo que todos países precisam ser iguais, claro que pode haver uma tendênci ano brasil a se formarem sociólogos e publicitários, mas será que não precisa ter um limite?

A questão é bem que se suspeita estarmos acima do limite. Carecemos de técnicos. Aí o governo quer dar uma mãozinha, e esses patetas vem falar que isso é alguma forma de totalitarismo? Vem falar que o governo incentivar o estudo técnico é nazismo? Nas palavras do meu sociólogo favorito (FHC): "Ooora, tenha paciência!!"

As atividades técnicas exercitam a subjetividade, em especial obrigando as pessoas a encararam coisas que geralmente não são do seu "dia-a-dia" (eu até acho que nas verdadeiras e profundas ciência humanas isto tb é verdade, mas não é nisso que eles consideram que é o ensino subjetivo etc). Atividades técnicas REQUEREM senso crítico, REQUEREM que as pessoas saibam arguemntar sozinhas, criticar injustiças, reconehcer profissionalismo, etc. Criatividade eu nem comento. Um tpecnico sem criatividade é um boçal, mas gente sem criatividade não é exclusividade do meio técnico.

Não sei se o governo está de alguma forma querendo beneficiar APENAS ensino técnico de má qualidade, um conceito absurdo. Posso entender que haja algo a mais nessa história toda que não estou sabendo, mas essa arguemntação que o SESC representa o "ensino humano", e não pode ser prejudicado em benefício de um ensino inumano antagonista é de enojar.

Agora fiquei até com tanta raiva que vou começar a cobrar: Porque o SESC não patrocina umas atividades técniacs lá de vez em quando?

Pode começar com cursos técnicos de iluminação de palco, áudio, administração de bandas de rock, edição de vídeo, produção de cinema, efeitos especiais...


Tenho um símbolo pra vocês interpretarem no seu universo simbólico subjetivo semântico aqui, ó: