2009/07/01


Porque São Paulo é inadequada para a ciência

A cidade de são paulo é ruim para fazer ciência. Porque?

Dinheiro tem às pampas. Mas de que serve dinheiro? Dinheiro pra virar produto, pra dar resultado, tem que ser bem administrado e bem gasto. São Paulo, Sampa, a cidade de São Paulo, capital do estado homônimo, é entretanto cheia de gente louca. Gente louca não administra bem dinheiro, recursos e outras gentes loucas sob seu comando, e assim o tal dinheiro não é gasto onde deve.

Vamos começar do básico. A cidade é uma charada logística sem solução. O transporte é podre. Deslocar-se na cidade é uma tarefa hercúlea. Você tem que se ligar em coisas como horário do rodízio e estratégias pra evitar sequestro relâmpago. Tem ainda dois rios que cortam a cidade o que não ajuda em nada, além de avacalhar os caminhos possíveis, ainda fedem.

Façamos justiça ao metrô, faixas exclusivas e ao recente bilhete único, mas o fato de haverem coisas boas não significa que o resultado geral já é bom. Dizem, inclusive, que pela teoria o metrô paulistano já deveria ser bem maior do que é, porque senão a cidade ficaria desse jeito que é. Vamos ver se as obras aí desafogam. Quanto aos ônibus, São paulo continua tendo na minha opinião o 27o melhor sistema de ônibus dentre todas as capitais brasileiras.

O que isso tem a ver com ciência? Qualquer trabalho do tipo precisa que as pessoas possam "se distrair" um pouco. E precisa que haja um local onde haja um "ambiente de trabalho". Se você consegue morar do lado do seu ambiente, ou se torna sua própria casa nele, excelente. Não sei quem são os felizardos nessa cidade, talvez os vizinhos da favela São Remo. A região do portão 3 é tipo um gueto onde todos alunos da USP que vem de outras cidades são praticaemtne obrigados a irem morar. Se for o caso, e quem mora lá consegue ir e vir sem ficar irritado com as pequenas coisas estúpidas relativas ao transporte na cidade, então sou eu o louco por não ter entendido o recado e decidido vir morar no centro...

Poisé, o que mata são as pequenas coisas estúpidas. Um bom exemplo de fenômeno pequeno e estúpido que enche a paciência, e que vejo acontecer aqui em São Paulo com mais frequencia do que outras cidades que conheci é interrupção de serviços como águas, luz, gás e telefone. Não dá pra ser feliz... O pesquisador que tem que passar seus dias preocupado com pequenos incidentes do dia-a-dia como isso daí tem uma taxa de tempo distraído maior do que outros, não pode ser que não tenha um significativo impacto negativo.

Olha, eu era bastante zen antes de vir pra cá, capaz de ficar impassível frente a contínuas evidências cotidianas da estupidez humana. Mas perdi meus poderes mágicos. Agora eu vejo as filas que se formam pra pegar ônibus na frente da estação Marechal do metrô, e não consigo continuar pensando no meu problema da vez. Acontece que é um problema tão gritante que está aconetcendo na minha cara que é muito difícil negar e voltar ao problema que eu me havia proposto no meu trabalho. Tipo me liga um sinal de emergência assim: "Nicolau, esse seu problema é insignificante, não tem aplicação, não vai judar ninguém. Quem precisa de ajuda são essas 500 pessoas aqui na sua frente que estão tentando andar mas estão paradas."

Porque é assim o trânsito de São Paulo. As pessoas dizem que é uma "loucura", que é "caos", mas não é isso não. É letárgico, é tudo parado, inerte. Não é como água saindo de um esguicho de regar grama, nem o fluxo laminar que desejaríamos. É tipo uma gosma pegajosa fluindo em um cano tortuoso e flexível.

Enfim, o tempo do dia que você leva se deslocando pro trabalho e pra casa já é então uma "viagem perdida" que desanima trabalhar...

Aí vem o trabalho. As pessoas com quem você trabalha são um bando de loucos. Povo viciado em burocracia estúpida. Criam regras sem sentido só pra que existam relações de poder, sem se preocupar com a produção. O motivo das pessoas estarem juntas trabalhando é obedecerem umas às outras, é seguirem as regras.

As incessantes greves de funcionários tem a ver com isso. Eu já vi muita greve em universidade sim, conheço bem no mínimo a UFMG e UNICAMP onde estudei. Mas nunca vi lá greves como aqui. O clima da greve, os discursos... É tudo mais focado em política, em discutir quem é obrigado a fazer o que, em querer mandar nos outros, do que em falar sobre trabalho.

As greves são assim não é só por causa dos funcionários que organizam as rgeves não. Os chefes são uns loucos também. A comunicação é tortuosa. Os superiores são metidos e arrogantes. Eu li uma vez um texto acho que de Trotski falando sobre como a Índia havia conseguido fazeer a revolução que os libertou dos ingleses, mas não conseguira fazer a revolução que acabasse com o sistema da castas, e isso atrasava muito a vida deles. Não entendo nada da Índia (não tou acompanhando a novela), mas talvez a situação aqui em Sampa tenha a ver. A coisa não anda pra frente aqui porque tem tanta preocupação com poder, com determinar que casta manda em quem, quem são os bons quem são os que sobram. Santo deus, até as discussões sobre futebol aqui são diferentes do resto do Brasil. O jeito como os times vencedores menosprezam os perdedores aqui é diferente. Juro que é.

(Pode ser paranóia, mas esse texto é senão sobre minha percepção do mundo, você tire suas conclusões. Mesmo que seja verdade, eu viver essa fantasia é nocivo pro meu trabalho, e é no final o meu problema. Se viver aqui me faz pensar isso, então a culpa é da cidade do mesmo jeito.)

As coisas que eu já tive que passar aqui pra ter condições de trabalho... Você tem que "se virar" e "correr atrás" de tudo. Brigar pra deixarem você trabalhar. Comprar equipamento tem mais a ver com esbanjar sua grana do que com cumprir uma meta de trabalho. Eu já vi isso em outras universidades sim, mas acredito que este fenômeno tenha uma concentração especialemnte alta por aqui.

Laboratórios não procuram pessoas boas que possam ocupar suas vagas e produzir o máximo que aquele equipamento e pessoa podem. Não, são oásis em que se entra a convite do dono, ou boites exclusivas em que o fato de estar lá dentro é mais importante do que o que você realmente faz lá. Aquelas boites que lá dentro só vende assim vodka ruim a preço caro, tem música ruim e instalações ruins, mas como tá na moda você se acha o máximo porque entrou. Não é uma diversão "honesta", é só um lugar que você vai achando o máximo porque o número da boite no último ranking das melhores boites do mundo falou que aquela é a melhor da América Latina, ou então porque aquele é o lugar com a maior nota da revista Veja... E só marketing.

E a bagunça é tão generalizada que além dos problemas logísticos, e além do relacionamento difícil com seus colegas de trabalho, você ainda tem problemas pra se divertir!!

Sim, eu só estou escrevendo esse monte de coisa porque, além dos meus recentes problemas com luz, energia e telefone, e além da constante raiva com transporte, eu até hoje não me conformo com a dificuldade de tomar um bom cafezinho.

Nos finais de semana eu vou sim em alguns bons cafés. Mas perto do meu trabalho e da minha casa eu não consigo me satisfazer... Acho que jamais vou viver como nos meus tempos em Campinas, onde passava horas por dia lendo (e escrevendo) em diferentes cafés, num ambiente ideal. Eu não me sinto igualmente bem pra fazer esse trabalho nem em meus laboratórios, nem em casa. Tem que haver esse terceiro lugar. E aqui eu não acho.

Hoje tava lá numa padaria aqui perto de casa. Jantei e pedi um espresso. Tanto a xícara quanto o copinho d'água que vieram juntos (eu vou lá porque servem aguinha, então notem: não é qualquer botecão) estavam transbordando de alguma forma, tudo molhado. Assim como o choppinho que tomei. Mas tudo bem, que bobagem se preocupar com isso, né? Tava zen, numa boa, esbanjando meu dinheiro emprestado e vivendo minha burguesia reacionária e em recesssão na esperança de conseguir desenvolver finalmente na minha cabeça o cenpario completo do trabalho que preciso desenvolver nos próximos dias. Sim, estou aqui perdendo um tempo precioso tentando exorcisar esse assunto da minha cabeça agora e voltar pro trabalho...

Estava lá tomando café, sentado no balcão, conseguindo trabalhar mesmo apesar das conversas histéricas paralelas, da minha crise financeira pessoal e do serviço nem tão satisfatório. Aí vem um garçom / copeiro da padaria e pega meu copinho de água e joga dentro da minha xícara pra tirar, achando que tava vazio!!!...

Saiu voando café pra fora da xícara, fazendo do pires uma piscina negra. O cara diz assim "ah, achei que não tinha café mais. Ainda tinha?" Como assim "ainda tinha?"??? Claro que tinha, imbecil!

Já tinha flagrado esse idiota. Fica gritando merda o tempo todo, atira objetos do balcão pra dentro da cozinha. Todo nervozinho. O que é isso, stress pra voltar pra casa? Tem que buscar a mãe na zona antes do horário do rodízio, ou do estacionamento?

Eu já vi muito desses garçons que atendem demais os clientes sim... Tem restaurantes que eu vou, em BH inclusive, que os garçons vem a cada 5 minutos checar se a sua lata de refrigerante já acabou. É bem chato sim, mas não se compara. Eu estava no balcão, e o cara não simplesmente checou meu café e devolveu. Não, ele jogou a porcaria do copinho (que também estava cheio pela metade) dentro da maldita xícara, que fez um chafariz sombrio e escaldante quase tão aterrador quanto o ódio que transbordou de meu coração.

Pra que isso? Pra que jogar a droga do copinho dentro da xícara? Minha mãe, paulista, me ensinou que fazer esse tipo de coisa é falta de educação. Vai ver que assim como ela, os outros paulistas que sabiam disso deixaram também a cidade. Sobrou só gente que pensa o oposto.

O que esse cara tá fazendo lá? O que essa padaria pretende ser? Qual é a idéia de "tomar um cafezinho" dessa gente? Se a idéia é ser esse lugar que você não pode ficar 1 minuto parado, é só pra entrar comer e sair, faz logo um drive-thru com copinho descartável. Não faça esse simulacro de local agradável.

Ao meu lado, no alto do balcão, uma TV fica passava um anúncio: "Padaria, como é bom estar aqui." E a ironia estava completa.

O cara me ofereceu outro café. Eu não quis, eu só qui sair daquele lugar. Eu não quero comprar um café, eu quero comprar sossego. Da mesma forma que o que eu quero na escola não é conseguir ter o equipamento que eu quero. Não é questão de quais recursos eu tenho direito (como o café a que eu tinha direito). A questão é que eles sejam confiados a mim da maneira apropriada. Isso é o cerne da sociedade. Os fins dela, o que você ganha e dá após cada iteração, são um aspecto pessoal da coisa, é outro problema.

Por hoje chega, vai.

1 comment:

Rogério Brittes said...

Engraçado é que quase todo mundo fala mal do rio e dos cariocas, mas quase todo mundo que eu conheço que veio pra cá gosta daqui e quase todo mundo que eu conheço que foi pra SP tem reclamações similares às suas.

SP não é inadequada para a ciência, é inadequada para humanos. Deveriam deixar os carros e os publicitários sozinhos aí.