2008/07/03


Raiva sistemática

Você sabe que tá virando um velho chato porque ainda acha doido demais ouvir uma música que contém o verso:

move into 92
Still in a room without a view

Know your enemy RATM

1992, cara! Isso faz quase 18 anos! Uma vida!... (Talvez meia vida, vai... Uma maioridade! As músicas do Rage atingiram a maioridade.)

As músicas do Rage Against the Machine continuam atuais, como as do Sepultura dos anos 80 tb continuam, falando sobre terrorismo e polítca e sei lá. Mas o número, 92 ficou "passado", claro. O único número nas músicas do Rage que continua atual é o 9.

Said they pack the nine, they fire it at prime time

Bullet in the head RATM


Banho de Descarrego

Uma das bandas mais fodas do mundo deve ser o Discharge. Os caras tem um som muito louco, que influenciou várias pessoas, único, pesado e animadão ao mesmo tempo...

No mundo do punk rock existe uma certa briga, que existe em vários outros movimentos (contra-)culturais por aí. Por um lado tem pessoas que se preocupam só com a música, e em se divertir. Por outro tem as pessoas engajadas, preocupadas com discutir política e sei mais o que, preocupadas com as infames "mensagens" das músicas.

O Discharge deve ser um raro caso capaz de agradar a todos nesse sentido. Tava aqui agora ouvindo uma música que me chamou a atenção, "Death Dealers". Tem um baixão violento, solinho cretino, e a letra tem uma hora que o cara termina a frase dando um daqueles gritos incompreensíveis. Tem ainda a palavra "developing countries", o que me chamou muito a atenção por viver em um.

Fui então procurar a letra, e caí num desses sites cheio de anúncio. A letra é tão pequena (como é comum com o Discharge) que eu achei que fosse um texto de um anúncio, perdido ali no meio daquele monte de marketing. É legal porque é um assunto importante, mas abordado de maneira direta, curto e simples:

Britain among others deal in death when selling arms to developing countries
To developing countries they sell death
Where there is urgent need for medical programmes


Não tem o que discordar, debater. É isso aí, um hai-kai político. Não é discursinho, é a coisa real! E tem muito menos palavras do que gastei falando sobre a tal letra!

E a galera pogando.

***

E sobre os anúncios, recomendo Ignorance:

Propaganda On The T.V.
Propaganda In The News
To Keep U s All Divided
To Keep Us All In Line

Your Ignorance Is
Ignorance Is Their Bliss

Slaves By Your Own Compulsion
Puppets In A Playing Hand
Slaves By Your Own Compulsion
Puppets In A Playing Hand

2008/07/02


Difundindo Gauss

Comentário meu num blog aí.

É mesmo impressionante esse resultado: que a difusão do calor em um corpo ao longo do tempo pode ser calculada pela convolução da distribuição inicial por uma curva gaussiana. Quando você faz um "gaussian blur" numa imagem, você tá fazendo isso: simulando a difusão daqueles valores de intensidade de luz por toda imagem, como se fosse calor, ou algum perfume, coisas do tipo.

Eu achei tão doido quando estudei isso, que fiz um trabalho de Transporte de Massa simulando a difusão do calor emitido por um transistor sobre um dissipador. Tem até uma animação super bacana, quando encontrar eu coloco aqui...

Eu lembro que na época até pedi ajuda pra um professor da matemática, pra provar que era isso mesmo, mas nem lembro qual era minha dúvida exatamente... :)


Um dia na vida de um micreiro empolgado

Meu notebook HP (Compaq Presario V6210BR) teve um problema na placa de rede sem-fio. Funcionava muito bem, aí de repente começou a funcionar às vezes só, mas uma vez que ela ligava no boot, funcionava direto... Até que um dia parou de funcionar de vez.

Ontem resolvi acabar com o sofrimento, comprei uma dessas interfaces ("placa de rede") wi-fi que ligam via USB. Mas aí é a velha dúvida do usuário de Linux: será que funciona?

Normalmente é só ver o modelo e procurar na Internet pra saber se alguém já rodou. Mas é muito chato ficar indo na loja e na Internet toda hora, então muitas vezes a gente acaba é comprando às cegas mesmo. Comprei assim essa paradinha da D-Link, marca por que eu nutro uma certa simpatia. É tipo um pendrive grossão, com uma base pra ligar ele em pé e ficar parecendo o monolito do 2001.

Primeira tentativa de usar a parada: Liguei na minha máquina, bootei com meu kernel cotidiano, e ela apareceu bonitinho no lsusb. Faltava só tentar usar o ndiswrapper pra rodar o driver original do windows, igual eu fazia já com a finada placa antiga. Mas aí a decepção: eu uso um kernel para 64 bits (óbvio, estamos em 2008 e acho um absurdo pensar em usar coisas de 32 bits), mas o driver que veio é pra 32 bits, aí o ndiswrapper não consegue aproveitar o bicho. Tristeza total.

Aí veio o desafio: estava em casa já, sem conseguir consultar o oráculo internético pra me ajudar. Será que eu conseguia rodar um kernel de 32 bits e usar provisoriamente a paradinha?... Com minha instalação normal não tinha como, porque só estava lá meu kernel do dia-a-dia mesmo, e eu não tenho nem um CDzinho de instalação do debian (falha grave). A única possibilidade seria tentar rodar o knoppix (esse eu sempre tenho um), e tentar usar o ndiswrapper dentro dele.

Copiei os drivers pro meu HD, liguei o knoppix, e rodei o ndiswrapper. Funcionou! Rodei o wpa_supplicant com exatamente o mesmo arquivo de configuração que eu sempre usei, e funcionou também.

Agora era hora do dhcp, e pegar a prancha pra surfar. Qual o que... No knoppix não tem dhclient, único cliente de dhcp que já consegui usar direito; só tem o pump. Confirmando minha desconfiança, o pump não funcionou. Poisé. Só me restava tentar dar um jeito de executar o dhclient do Debian no meu HD. Tentei rodar o /sbin/dhcleint, mas é claro que não funcionou, porque era a versão 64bits... Tristeza: ou eu uso um kernel de 64 bits e rodo o dhclient, mas não o driver, ou rodo o kernel de 32 e rodo o driver, mas não o dhclient...

Mas havia uma última esperança. Acontece que eu tenho um sisteminha chroot na minha máquina, que uso pra rodar coisas chatas como o flash e o acrobat reader. E se por um acaso tivesse um dhclient lá dentro?... Fui conferir, e não é que tinha?? Rodei, de um errinho, e entendi que era só copiar os programas /mnt/sda6/32root/sbin/dh* pro /sbin do knoppix... Rodei de novo o dhcleint na árvore do knoppix, e tcha-nã!... Funcionou!!!...

Agora eu já tinha um procedimento pra entrar na Internet a hora que eu quisesse... Uma seqüência de passinhos me permitindo ler e-mails, entrar no google talk e fazer downloads de drivers e pacotes, que maravilha.

Então pesquisei sobre a minha paradinha D-Link wi-fi/usb DWA-110. Achei vários sites falando sobre usar o ndiswrapper, e alguns até indicavam que seria possível baixar um certo driver 64bits que funcionaria. Acontece que o DWA-110 é baseado num tal chip rt73, que parece ser bastante popular, e um driver de windows pra ele faria o serviço.

Ah! Achei ainda no site da D-Link um download de um driver pra Linux!... Eles não falar nada na caixa, mas no site tem. Só que eu peguei e me pareceu ser uma coisa tosca, que eu só tentaria usar em último caso (um lance não compatível com iwconfig, horrível!)

Acontece que é tão popular o tal rt73, que existe um projeto pra suportar estes dispositivos no Linux nativamente. Procurando, achei vários sites com diquinhas pra tentar usar esse driver...

Tentei baixar o fonte, compilar o módulo pro meu kernel, e nada... Tentei o cvs, tentei o fonte distribuído pelo Debian, e nada...

Aí veio a tentativa lógica: estava com o linux 2.6.22, mas já tinha um 2.6.25 disponibilizado, até com um pacotinho do módulo do rt73 compilado pra ele. Fui lá no knoppix, fiz aquela gambi toda, e downlodeei o pacote com a imagem do linux e com esse módulo. dpkg -i, reboota, e tchans! Funcionou!!

Um bom presságio já me havia indicado que tudo haveria de dar certo no final: Junto dos manuais maçantes e papeizinhos de advogado, na caixa da paradinha veio uma cópia impressa da GPL.

Nisso já consegui ler e-mails no mutt, conversar no freetalk e usar o museek. Mas só isso, no console, porque o X parou de funcionar... Fui dormir já bastante satisfeito.

De manhã compilei o driver oficial da nvidia usando o pacote oficial do Debian. "m-a a-i nvidia", e pronto, que beleza... Depois foi só atualizar o pacote nvidia-glx e correr pro abraço, relatando-lhes essa história através do iceweasel 3.

***

Notem que usei só console pra isso tudo, sem contar o browser na hora de pesquisar as coisas. E mais ainda, que em todo o processo eu fui tendo idéias de coisas pra tentar fazer, e fui sendo eventualmente recompensado com pequenos sucessos. Achei atalhos, fiz gambiarras, descobri caminhos alternativos... E no fim deu certo. Comprei um dispositivo com inúmeros selinhos "aprovado para uso com windows vista" e outras baboseiras, com o vendedor me dizendo que não podia me garantir se funcionaria com Linux ou não, que ele não tinha idéia e que isso era problema meu, mas de noite botei o bicho pra funcionar.

É isso que eu sentia falta no windows. Poder usar meus conhecimentos e poderes hacker pra encaixar as coisas no lugar com durex, e conseguir um sistema minimamente funcional pra então deixar ele mais sólido na base de um apt-get da vida. Meu lema em informática é "pode tudo". O que eu mais gosto de fazer na vida é ver um conjunto de dispositivos, ter um sentimento de "uai, deve ser possível fazer isso aqui... Deve ter um jeito de fazer isso", tentar descobrir como, e conseguir.

Chegou um momento na história do windows em que isso tudo ficou impossível... Se as coisas param de funcionar, vc fica apertando botãozinho de orelha escondida de menu bizarro, ou sei lá, tentando editar o infame "registro". Por mais que você tente escovar bit, não recompensa. Ser engenheiro e usar windows não recompensa mais... No Linux não, esse tipo de piração, essa manobras administrativas detetivescas, elas recompensam. Você não fica com a ilusão de que não adianta porcaria nenhuma ter lido zilhões de livros sobre computação, não, o estudo vale a pena pra quem usa Linux...

Recapitulando: no final das contas tudo se resumiu a instalar pacotes do Debian, eventualmente contruíndo-os com o module-assistant. Difícil foi descobrir, mas agora eu posso simplesmente ensinar pros outros, como estou fazendo agora. Se algum amigo meu que usa Linux no notebook quiser comprar um DWA-110, posso falar pra ele rodar:


apt-get install linux-image-2.6.25-2-amd64 rt73-modules-2.6.25-2-amd64


E a placa de rede vai (deve) funcionar igual sua placa anterior já funcionava. Aí é só atualizar também o driver da nvidia (isso se for o caso):


m-a update
m-a auto-install nvidia


Essas 3 linhas de comando fazem o serviço. Isso é "difícil"?? Acho muito mais fácil do que aqueles maçantes tutoriais ensinando a fazer coisas no windows, em que gastam-se páginas e mais páginas imprimindo screenshots de janelinhas, com textos tentando em vão descrever de forma concisa o que deve ser feito "cliquem em yadayada/zubalula/bliblibli, depois clique em xxy, depois selecione o lalala na combo box (nota: clique na setinha da combo box para que as opções apareçam, e a selecione com o mouse, ou talvez com o teclado (nota: talvez demore um pouco para aparecer as opções, porque o sistema tem que ler todas, e ainda tem o efeito de fade-in...) )".

Esses manuais de windows são terríveis, gastam inúmeras páginas e figuras e imagens com algo que deveria ser reduzido a uma simples operação.

Em administração de sistemas aquela história de que uma imagem vale mil palavras é o contrário... No windows gastam-se mil imagens (todas janelinhas ícones e botões) para se configurar sistemas, o que é melhor realizado com arquivos texto pequenos e comandos simples.

As pessoas não querem chegar no dia da interface falada? Não querem poder ligar o computador, e pedir, como na música dos Mutantes: "computador me responde"?... O que está mais próximo disso, a interface de linha-de-comando, onde se enunciam frases de uma forma dialética, ou aquelas milhares de janelinhas que são como quebra-cabeças, charadas a serem decifradas, testes de QI?

Essas janelinhas do mundo windows são como testes de QI, ou talvez aqueles brinquedinhos de criança em que tem os buracos de um formato e vc tem que encaixar as pecinhas no lugar certo... Adultos não brincam com isso, eles preferem conversar. Preferem estudar o que tem que ser dito, e então dizer. Fazem as coisas porque concordam que é a forma de ser feita, e não porque tem uma coleira ou cerca os obrigando a ir nesa ou aquela direção (janelinhas que te obrigam a apertar o botão certo, etc...)

Os programadores de interfaces gráficas chamam essas janelinhas deles de "diálogos", mas o quão dialética elas realmente são?

2008/06/30


Objetivando Einstein

Nada marcou mais a cultura estadunidense do século XX, e de tabela a nossa, do que aquele alemão chamado Albert, e aquele austríaco chamado Adolf. Ambos são hoje símbolos marcantes que significam para as pessoas mais do que qualquer simples pessoa pode significar para alguém.

Estes dois ícones foram e estão sendo continuamente sobrecarregados de significado, estão sempre portanto contribuindo para que ocorram conversas altamente subjetivas, extremamente livres a interpretações. Quanto mais diferentes pessoas atribuem significado a estes dois aí, mais o que se fala sobre eles fica ausente de significado, devido ao desacordo e subjetividade.

Por exemplo, imagine quando numa conversa qualquer alguém sugere que uma certa ação apoiada por alguém também teria sido apoiada por Hitler. Isto basta para acalorar a discussão e para que pessoas se sintam ofendidas, apesar de que ninguém tem muita certeza do que é que realmente se está falando.

O mesmo acontece com Einstein, mas com ele é um pouco diferente porque ele é geralmente visto como um cara legal, então ninguém se ofende, mas apenas se sente elogiado. As discussões evocando a figura de Einstein ficam acaloradas menos porque os comparados a ele fiquem ofendidos --- ficam é lisonjeados e se sentindo não-merecedores, enquanto os não-comparados ficam com inveja.

Einstein é então esse ícone que ninguém sabe bem o que significa, é uma lenda, um símbolo que ultrapassou a muito a pessoa. Eu já não gosto dessas coisas com qualquer personalidade, com mas com ele é pior porque se trata de um cientista, e eu desejaria que cientistas fossem menos suscetíveis a esse tipo de irracionalidade.

Senti que há um pouco dessa visão subjetiva e pouco científica de Einstein no artigo "Avaliação objetiva (?) da pesquisa", de Marcelo Viana, que li no jornalzinho da SBPC. Lá o autor pergunta se Einstein receberia financiamento do CNPq, e como leitor senti que seria uma forma de crítica ao sistema, em cujos critérios o genial cientista não se enquadraria em certo momento de sua vida.

Aí eu pergunto, qual exatamente é esse critério, e qual seria algum critério ou apenas "justificativa subjetiva" que daria a Eisntein a parte que lhe caberia deste latifúndio?

Sinto que o artigo se baseia um pouco numa idéia de que Einstein mereceria rios de dinheiro em toda sua vida. Não creio que isto seja certo.

A obra-prima de Einstein, um trabalho que um governo gostaria de ter financiado, foi um conjunto de artigos que ele publicou em meados de 1905 enquanto ele trabalhava em um escritório de patentes. Depois dessa época (quero dizer, BEM depois, mais de 10 anos depois), ele pode ter continuado um cientista bacana, uma pessoa inteligente brilhante e dado bons palpites em um problema ou outro, mas não fez mais nada tão "mirabilis" quanto aqueles artigos ali.

Depois de vencer seu Nobel em 1921, Einstein eventualmente se mudou para os EUA, onde trabalhou em Princeton vivendo mais como um meio-aposentado bacana do que como um cientista em busca de realizar (ainda mais) grandes coisas. Teve pouquíssimos orientados (se algum), publicou pouquíssimos artigos e livros. Porque haveria o CNPq de sua época e local se preocupar em beneficiá-lo com grandes verbas para pesquisa?

(nota: talvez um critério mais sofisticado mostre que os poucos artigos de Eisntein tenham sido muito citados, ao longo de toda sua vida. Gostaria de ver os números.)

E quanto aos físicos experimentais que comprovaram suas teorias todas? Cada um daqueles artigos ali deu origem a coisas como um ou dois experimentos cruciais, históricos no desenvolvimento da física. Uma vez que Einstein fez seu trabalho, o CNPq correlato deveria se preocupar é com financiar esses experimentos, e não mais o Einstein (a não ser que eles indicasse que haveriam mais mirabilis pra tirar da cartola). Tem que financiar os testes de efeito foto-elétrico, movimento browniano, lentes gravitacionais, interferômetros e raios LASER da vida. E até onde eu sei Einstein não importou muito em liderar ou participar ativamente destes experimentos. Porque deveria então o CNPq conferir a Einstein a verba que deveria ser destinada a estes experimento, se não seria ele o cientista a finalmente pegar no facão pra cortar o mato e desbravar definitivamente estas novas searas?

Não. Einstein não teria porque receber grandes volumes de financiamento no período mais tardio de sua carreira (leia-se: depois de 1905, seus últimos 50 anos de vida). Se os critérios do CNPq hoje são tais que isso ocorreria, então eu apóio eles. (A não ser que estejamos falando simplesmente de manter um professor emérito numa universidade, batendo papos cabeça com Gödel, isto ambos sem dúvida mereciam.)

Devemos sempre buscar evitar dar financiamento a cientistas apenas porque eles fizeram trabalhos notáveis no passado, que eventualmente os tenham dotado de prêmios suecos, finlandeses ou o que seja. Não digo que se um cientista ganhou, ele não deve mais ser financiado, não é isso... Temos que evitar a politicagem, dar pouca chance às panelinhas e tomadas de poder.

Querer dar dinheiro pra Einstein em 1930 por causa de seu trabalho de 1905, e porque ele é super legal, é politicagem. É beneficiar seus amigos e ídolos porque o são, ao invés de fazer uma avaliação fria de onde o dinheiro seria melhor aplicado. É escancarar os portões à fisiologia.

Aposto que Einstein ficaria feliz em repassar qualquer verba (ou boa parte) que ele recebesse do CNPq para outros cientistas que ele sentisse que fariam melhor uso dela. Mais do que isso, aposto que ele ficaria feliz se um ou dois amigos dele o ajudassem a tomar a decisão de pra onde ele mandaria esse dinheiro.

É meio infeliz pegar Einstein como exemplo de cientista que não teria recebido um dinheiro que mereceria. Não sei se Einstein recebeu alguma verba especial da NSF durante sua estadia em Princeton, por exemplo, e o CNPq não estaria replicando este acontecimento. Um melhor exemplo de cientista teórico que não recebeu dinheiro e reconhecimento quando merecia, foi Boltzmann. E este foi sim uma grande vítima de critérios de financiamento subjetivos. Esse foi um que deve ter deixado de ganhar alguns mangos porque o governo deve ter preferido financiar Poincaré ou qualquer amigo dele, do que simplesmente avaliar seu trabalho e dizer "puxa, tão metendo o malho, mas ele tá trabalhando, tá produzindo, vamos deixar mais um tempo pra ver se não é só uma cisma boba desses cientistas, ou se ele é mesmo um picareta." Não era.

Não entendam aqui alguma espécie de crítica minha a Poincaré. Adoro ele. Minha crítica é às pessoas que deixam brigas no mundo acadêmico afetarem tão drasticamente o destino de um homem. A gente tem que se preocupar menos em saber se o CNPq financiaria um Einstein ou um Poincaré tupiniquins contemporâneos, e mais se o CNPq deixaria de financiar um novo Boltzmann.

Agora falemos um pouco de cientistas experimentais que precisaram e mereceram financiamentos especialmente vultosos: Lord Rayleigh, Lord Kelvin, Rutheford, Thomson, Fermi, Faraday, Oswaldo Cruz, César Lattes. Temos que discutir também esse tipo de trabalho, e não falar apenas de Einstein. Isto é simplificar demais a questão. Esse tipo de pesquisa representa um gasto maior, e é mais difícil de alocar. Porque estamos então falando apenas do velho Albert??

E por aí vai.