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2008/08/15


gajos ibéricos

Num dia que tiverem tempo, dêem uma olhada neste blog desse português...

http://www.asseptic.org/letra/index.php?string=espanho

Muito legal. Encontrei fazendo a seguinte busca no google: 'espanhois "eles lá e nós cá"'

É que dizem que em Portugual dizem isso: Os espanhóis são muito boa gente, mas é eles lá e nós cá, ó pá!... :)

Um trecho digno de nota, muito similar a coisas que eu mesmo falo por aqui às vezes...

Já viram como os espanhóis no estrangeiro são uns patéticos peixes fora de água, todos ao monte, a debaterem-se por sobreviver falando espanhol com palavras inglesas, enquanto a malta tuga renasce das cinzas, fala 6 ou 7 línguas, faz amigos por todo o lado e vira brilhante cientista, cozinheiro, cidadão do mundo?

Viva Portugal!


http://www.asseptic.org/letra/00148

2008/07/21


Ele e Ela

O que você me dizem desse texto tirado das regras do Google Code Jam?

A contestant may participate in one or both of her assigned sub-rounds. However, if a contestant advances from her first sub-round, she will have no effect on the contestants who advance in her second sub-round (whether she participates or not).


Os anglófonos são super preocupados porque a língua deles não tem gênero. Mas não é como se fosse tudo neutro, a sensação que eles tem ao falar em sua língua, é a de que estão falando tudo sempre no masculino. É como se todas as entradas nos dicionários da língua inglesa fosse "s.m." e não apenas "s." Sujeitos de frases só se tornam femininos se isso for explicitado, não tem palavra que cause isso, como por exemplo a portuguesa "pessoa".

Eu sou umA pessoa que se esforça muito pra colocar palavras do gênero feminino em meus textos, eventualmente empregando adjetivos no feminino para pessoas masculinas. Só uma pessoA atentA repara nessAS coisas. Isso ajuda a tornar A minha forma de falar menos masculinA, deixa A redação mais "inclusivA" ou "democráticA", e faz com que eu não tenha aquelA sensação estranhA de ser machista.

Mas no inglês não dá pra fazer esse tipo de truque. O resultado é que as pessoas se sentem incomodadas às vezes, principalmente desde que começou a era do "politicamente correto"... Resultado, surgem aquelas ignomínias linguísticas, como sair escrevendo "he/she", que eu odeio. Vá lá, em alguns contextos encaixar um "he or she" é perfeito, mas essas abreviações "he/she" ou "s/he" etc são horrorosas. Odeio essas abreviações assim. (Os mais perspicazes notaram o etc logo ali, e já notaram também em outros textos que tenho mania de escrever et cetera por extenso.)

Mas então. Aí vem o Google e mostra uma nova tendência. Essa empresa decidiu que nos textos dela ia fazer isso, se importar em deixar a redação mais feminina. Nesse parágrafo, sentiram que ia pegar mal dar a impressão de que os programadores concorrentes seriam necessariamente homens, se falassem "A contestant (...) he will". Mas aí acharam feio "he or she", acharam feio "he/she" ou "s/he", e optaram por... SHE!!... Sim, o texto acaba dandoa entender o contrário, que o concorrente seria um programador fêmea.

Quer dizer, o machismo lá é tanto que existe a necessidade de não simplesmente escrever "he", porque isso daria a entender que só poderiam concorrer mulheres, mas por outro lado, esse machismo permitiria escrever apenas "she", porque aí as pessoas pensam "não pode ser que ele esteja falando sério, que é só mulheres, na verdade deve ser genérico".

Quer dizer, "he" é específico, e "she" genérico. Inverteram o usual, que é o masculino se aplicar genericamente...

Melhor ainda, estão tipo inventando o substantivo feminino, né? analise a frase: A contestant may participate in one or both of her assigned sub-rounds. A única forma desta frase ser considerada correta é se a) os participantes são de fato apenas mulehres, ou b) se "contestant" fosse um SUBSTANTIVO FEMININO, o que não existe na língua inglesa.

Como vocês me explicam isso?

OBS: Mulheres já me falaram que gostam de ler textos com esses "he or she" pra todos lado. Eu, como homem, só posso diplomaticamente acatar, e buscar usar isso nos contextos certos... Mas fazer uma modificação radical dessas na lígua, na maior naturalidade, eu ainda não estou pronto pra isso não... Quer dizer, não é minha língua, não apito nada nesse sentido, mas tenho o direito de me espantar, não? E ainda de fazer a pergunta: seria possível algo assim na língua portuguesa? Essa mesma mudança do genérico ser no masculino, pra ser no feminino?

Post Scriptum: só agora notei que engraçado a semelhança entre as palavras aí... Genérico e Gênero!... A gente fala o "genérico" no "gênero" masculino. E essa agora?...

2008/06/14


O "qi" do rato

Tenho raiva de testes de Q.I.. Até acho legal por alguns motivos, mas tenho grande antipatia por pessoas que mencionam valores do QI de Fulano ou Cicrano, ou ainda que dizem que isso deve ser considerado como critério único para isso ou aquilo. Eu não acho isso muito diferente de comparar o comprimento de membros dos corpos de duas pessoas, tipo “Meu pâncreas é mais comprido e grosso do que o seu, a-ha-ha!” Está tudo nesse post do meu outro blog, naquele link ali.

Mas como disse, ache legal por alguns motivos. Primeiro porque acho interessante todos essas tentativas de quantificação de parâmetros subjetivos, algo que se faz muito em psicoacústica. Mas eu faço isso por diversão, e dando sempre mais atenção aos processos do que aos valores finais obtidos. Essa coisa de criar testes miraculosos que produzem números mágicos me dá asco. É tipo a famosa escala Richter, que é quase como tentar qualificar com um único número um espancamento de uma pessoa. Ora, depende se foi com as mãos ou pés, muitos chutes fracos ou poucos fortes, um atacante ou vários, em círculo, se foi no olho ou nas costelas... É tudo um grande problema de codificação de sinais: como representar fielmente uma certa entidade em números?... E a fronteira do que é ou não “representável em números” é um assunto interessantíssimo, ainda mais para céticos do livre-arbítrio, e outros malucos.

Outro motivo porque gosto, é porque esses testes muitas vezes tem umas charadinhas matemáticas divertidas. Foi por isso que empolguei outro dia de fazer um teste desses, “só por esporte”... Não lembro como, caí nesse testinho aqui:
http://www.aceviper.net/IQ_TEST/iq_test_2005.php

Alguns dos problemas nesse teste são daqueles que me dão raiva, tipo “qual é o próximo número da seqüência?...” Esses testes medem mais é sua capacidade de manjar desses testinhos. Saber o tipo de coisas que eles querem saber, tipo: que são cubos, quadrados, ou são permutações... Isso tem a ver é com o tal “common sense reasoning”, algo que os gringos adoram. Mas isso não é ciência, e nem é uma verdadeira resolução de um problema... Posso até aceitar se me disserem que existem correlações entre as atividades, mas não interessa. São questões feias.

Mas existem outras questões legais, e esse teste até tem um bom número delas...

O legal do site é que no final ele gera uma imagem bonitinha pra você colar no seu blog, e nem é uma coisa tosca que dá pra editar a URL pra colocar o número que você quiser não... :)



(Aproveito pra falar também, se você estiver com muita vontade de saber, que meu pâncreas tem pouco mais de 18cm.)

Ao ver essa imagem, o número lá: 12tantos, comecei a lembrar de várias conversas que já vi sobre o assunto, e me lembrei de algo importante que as pessoas não dão muita atenção. Esse número mágico é na verdade uma simplificação da coisa. O que existe um levantamento estatístico, e uma normalização pra uma escala bonitinha.

Nem digo que os testes são "furados", e que os aplicadores desconheçam isso. De fato, a página ao final do teste dá o valor que interessa de verdade: "o resultado está acima de 93% da população testada". É isso que importa, o lugar relativo da pontuação. Aí depois os caras transformam esse número pra um outro, tipo "120", e vira aquela coisa mágica. Mas esse número, "120", é incompleto, você precisa saber mais um pra ter certeza do que significa.

Respondo: os aplicadores dos testes modelam a distribuição de resultados obtidos como uma distribuição gaussiana, ou “normal”. (Que os estadunidenses que não gostam de alemães também chamam de “bell curve”.)

Uma distribuição gaussiana é dada por dois valores: sua média, e seu desvio-padrão. Esses valores você obtém estatisticamente, dos dados coletados. Aí depois disso, se vc quiser ter idéia de “acima de quantos por cento” o resultado de alguém ficou, o que vc faz é olhar pro valor “normalizado”, e conferir numa tabelinha. A necessidade de usar a tabelinha aí é que a função utilizada é impossível de se calcular analiticamente, um assunto interessante que fica pra outra hora!...

Pra "normalizar" seus dados, o que você faz é subtrair o valor da média, e dividir pelo desvio-padrão. O que a tabelinha diz, é quanto “por cento” da população está entre no intervalo da média menos o desvio-padrão, até a média mais o desvio padrão. (Veja o gráfico na wikipédia...) Esse gráfico que plotei abaixo é um pouco diferente, é considerando o intervalo de menos-infinito até o valor em análise... Observe, por exemplo, que no "zero" temos 0,5. Ou seja, se você tirou exatametne o valor da média, você está “melhor do que 50% da população”. (Lembrando que esse negócio de porcento é apenas uma multiplicação cosmética, bem como a criação desses números de “QI”)



O resultado do meu teste, segundo o site, esteve acima de 93% dos outros testes realizados lá no site. Fazendo uma engenharia reversa, podemos então tentar descobrir a constante de normalização que eles utilizam. Vejam lá no gráfico: pra uma distribuição gaussiana qualquer, prum número estar acima de 93%, ele tem que estar mais ou menos acima de 1,5 desvios-padrões.

O resultado do meu teste foi 123. A média deve ser 100, só porque as pessoas tem mania desse número aí, isso é mais ou menos garantido (na verdade, parece que naquele site ali a média tem sido 101...)

Logo, meu resultado esteve 24 acima da média. Dividindo 24 por 1,5 (necessário pros 93%) temos a constante 16...

Esse é o valor que falta na resposta do teste. Não pode ser só “Seu QI foi 124.” Tem que falar: “Seu QI foi 124 em uma população com média 100 e desvio-padrão 16.” Só assim a gente fica efetivamente sabendo o “x% acima do resto.” ou “você faz parte da nata de 2% da população.”

A inexistência de um padrão permite que pessoas possam inflar seus valores de QI. Essa tal constante 16 parece mesmo ser bem popular, mas mudando de teste pra teste, um mesmo QI de 1.5 desvios-padrão pode ir de 124 com média 100 e constante 16, pra 137 com média 101 e constante 24 (que parece ser outra menos popular).

É absurdo portanto conversar comparando testes de QI de diferentes pessoas, a não ser que seja bem claro que estes valores se refiram a um mesmo teste, ou no mínimo a um mesmo padrão. É um problema similar ao que acontece com número de ranking de xadrez seguindo a escala Élő.

Então da próxima vez que você ouvir alguém falar “meu QI é 119 e meio”, você pode completar, mesmo que seu QI seja 74: “pena que seu QI grande não te possibilita perceber que esse número, falado assim tirado da bunda, não significa bosta nenhuma, você que é tão inteligente devia falar sua colocação em desvios-padrões, ou apenar falar de uma vez sua colocação em relação à população em geral, o que é inclusive muito mais rigoroso considerando que nem existe muita garantia de que a distribuição de QIs do seu teste seja bem modelada por uma gaussiana.”

Se seu QI for mesmo baixo, pode anotar num papelzinho. O argumento não deixará de causar incômodo, que é o que realmente importa. E ainda busca depois uma régua pra medir o tamanho do seu pâncreas.

2008/05/28


O mais terrível e sutil dos pecados

O mais terrível e sutil dos pecados é a híbris. Sutil porque tem que ser velho pra sentir bem sua pecadice. Tem que ser um professor de melancolia. Terrível, porque... bem, quando você entender você vai saber.

Híbris é uma certa desmesura, descortesia, destempero, indelicadeza, mas cometida numa hora catalítica, que torna esta indelicadeza especialmente inadequada. Eu entendo como algo que por muitos anos vinha já investigando, e agora identifiquei como sendo este antigo e importantíssimo conceito grego clássico. Trata-se do que (usualmente) entendemos por "tirar onda"!... É aquela coisa que te deixa assim: "Pô, aí, sacanagem!..."

***

Muitas coisas que se falam ser híbris, não são. Em especial várias listadas ali na Wikipédia:
1_ O John Nash desconsolado por achar que não podia perder. Ora, não existe algo como "a híbris do perdedor", porque a híbris é um crime que só pode ser cometido pelo ganhador. O sujeito que ganhou, ao zoar da cara do Nash, pode até quem sabe ter cometido ele mesmo um ato de híbris.
2_ Xerxes, ao enviar seus melhores soldados para tentar matar os 300 de Esparta nas Termópilas, não cometeu híbris. E muito menos "caiu numa armadilha". Ele fez uma manobra militar compreensível. Híbris foi depois, quando ele mandou decapitar e crucificar o corpo do rei Leônidas. Aliás, vilipêndio a cadáver é a epítome da híbris. [Essa deve ser a frase mais linda que eu já escrevi na vida...] Híbris no sentido mais amplo teria sido por exemplo não apenas dar uma grana para Efialtes, mas ainda dar algum bom cargo administrativo para ele nas terras conquistadas, ou outro disparate do tipo.
3_ O Doutor destino não cobre seu rosto devido a híbris... Ele é é vaidoso e arrogante. Mas desconheço que jamais tenha tratado nenhum dos quatro fantásticos ou nenhum arauto de Galactus da mesma forma como Odisseu tratou o cíclope.

Resumindo, lá nos Estados Unidos eles tentam enxergar isso como um tipo de mau perdedor, que não aceita seu lugar, mas é o contrário: é um mau ganhador, que se coloca num lugar alto demais, de onde pode sofrer uma queda ainda pior. Como "winners" natos, tentam redefinir o significado da híbris para fingir que não há forma de cometer este pecado, que eles estimam tanto. São o "number one" em sua prática.

***

Quando cheguei aqui em São Paulo, ouvia muito falar que corintiano é chato. Não sei se cheguei em mau momento, mas não tenho achado não. Tenho achando os corintianos muito simpáticos, torcedores "do coração". O torcedor usual torce para seu time, e este em troca lhe "recompensa" com vitórias e títulos. No caso do Corinthians (e outros poucos), o torcedor torce e tem esse amor correspondido, como se o Corinthians torcesse pro corintianos em retorno.

Vi no dia do último jogo que o Timão jogou com alguma esperança de não ser rebaixado um ônibus cheio de torcedores, e foi uma das raríssimas vezes na vida que senti vontade de estar ali torcendo junto daquele pessoal.

Mas aí eles perderam. No dia seguinte uma horda de torcedores do Palmeiras (que não tinha jogado, mas tava em boa posição na vida) invadiu as ruas, gritando, xingando, buzinando. Passou por mim um carro Uno com palmeirenses da classe média, pararam no ponto de ônibus, e ficaram gritando, falando alto mesmo, enumerando as glórias palmerenses e os vexames do Curingão. Não senti vontade nenhuma de estar ali junto desse pessoal. No banco do carona, uma menina jovem, branquinha, bonita, de cabelo comprido castanho, com o inegável uniforme verdinho olhou pra mim e pessoas do meu lado com olhos arregalados, falando alto uma série de impropriedades. É "cachorra na balada"?... Não sei, mas uma coisa eu digo: é híbris!...

***

Híbris é o cara que canta pneu depois da barbeiragem, cospe no chão depois de te derrubar, te dá aquela olhada com as sombrancelhas arqueadas usando óculos "matrix".

[Essa agora é viagem total] Frases comuns à prática da híbris são: "Mas também..." e "você sabe o que que eu tou falando". (Comuns mas nem necessárias ou muito menos suficientes.)

2008/05/27


Cansado mas alerta. Estratégia...

É um alívio ter nascido no Brasil em 1981, já em tempos de abertura, anistia, diretas-já e Tancredo Neves. Tenho a sorte de poder ver a ditadura e ler sobre suas atrocidades com a respeitosa distância de um estudante de história, assim como vejo o fascismo da Europa da metade do século XX... Pra mim nazista são os mocinhos maus do Indiana Jones, e estudante clandestino é o Cássio Gabus Mendes no Anos Rebeldes. Talvez por essa distância, tenha conseguido vencer os traumas justificáveis carregados por quem vivenciou essas coisas, e consiga ver o mundo com um pouco mais de maturidade, sem morrer de medo de acidentalmente tecer elogios a algo que possa ser associado ao fascismo, ditadura, "direitismo" e outros males. E olha, são poucos os brasileiros que conheço que considero serem capazes de sair dessa de fazer uma classificação binária e simplória de o que é direita e esquerda, e se permitem falar das coisas com a verdadeira complexidade que elas possuem. Um deles é o Arnaldo Jabor.

Um caso desses, de uma coisa complexa que é mal-interpretada por brasileiros traumatizados e preconceituosos, que falham em apreciar as coisas com o detalhamento que elas merecem, é o filme Tropa de Elite. Não é um filme maravilhoso, nenhum grande clássico da história da arte, mas deve ser o filme mais injustiçado de que ouvi falar ultimamente. Um filme bem-feito, com um roteiro extremamente sóbrio e complexo, passível de observações intelectuais, foi jogado no lixo pela intelectualidade brasileira que o deveria ter apreciado melhor. Foi acusado de ser um filme "fascista", de fazer apologia à violência policial, e de "dar à classe média o que eles tavam querendo", que seria algo como um filme do rambo em que os russos são o CV.

Só quem eu sei que fugiu de enquadrar o filme em pontos cardinais (esquerda direita, pra cima pra baixo) foi mesmo o Jabor... Ele fez duas crônicas (uma duas), e cito um trecho de uma que diz bem o que estou em vão tentando dizer com outras palavras:


Tinha lido nos jornais a eterna polêmica de nossos intelectuais dualistas: progressista ou fascista? Esquerda ou direita? Essa gente só consegue raciocinar com um cuco na cabeça, batendo o pêndulo como um colhão pendurado, tentando enquadrar a realidade num conteúdo ideológico qualquer.


Poisé. Quanta babaquice viu... Olha, não sei de nada mais ingênuo que uma pessoa possa fazer ao criticar um filme (ou obra narrativa qualquer) do que sair falando que "o filme insinua que TODOS xx são yyy"!... Taí algo que se fez muito ao criticarem o Tropa. Cito alguns blogs de amigos de amigos meus. Um diz que o filme é muito "caricato", e que representa muito superficialmente os personagens, e que insinuaria que todas ONGS são criminosas e todos universitários maconheiros safados. Outro já apela mais pra questão do suposto "fascismo" pregado pelo filme, alegando que o filme seria algo como uma apologia contemporânea à nossa ditadura torturadora de outrora... E fala que o filme insinuaria que os policiais do BOPE são incorruptíveis.

Isso de falar que "o filme chamou todas ONGs de corruptas e todos policiais do BOPE de incorruptíveis" é extremamente infantil. Ora, o filme conta a história de um sub-grupo de personagens de um batalhão, num certo período de tempo, em que houve um envolvimento com uma certa ONG. Porque sair extrapolnado dizendo que o filme afirmou coisas sobre todos policiais e todas ONGs?? Como teria que ser o filme pra ser "justo"? Tinha que ter duas ONGs, uma bonita e uma feia, e tinha que ter dois policiais, um mocinho e um bandido, e tinha que ter também dois tipos de bandido, os malvados e os corrompidos pela sociedade... E além disso cada um desses tinha que ter pretos, brancos, índios e mulatos, loiros, morenos e carecas, homens e mulheres, senão também o filme taria falando que, por exmeplo todos policiais morenos e canhos do BOPE são incorruptíveis... (do BOPE, porque da polícia convencional mostrou bastante os corruptos.)

Não tem tempo de ficar sendo capitão planeta não, ficar representando um de cada. Cresçam. o cara contou uma história ali, de um capitão, mais dois policiais, mais um punhado de universitários, num certo morro, com uma certa ONG. São vocês que insinuam essas tais generalizações.

Aliás, por acaso o filme insinua também que todos capitães do BOPE tem crises nervosas? Insinua que todos ele brigam com a esposa grávida? Ora, tenho certeza de que ao menos o Azevedo, que tem DOOOIS filhos, não deve ter se separado da esposa quando esta teve o primeiro.

***

O filme possui uma formidável diversidade de personagens. Tem universitário MUITO safado (traficante), tem universitário só mais ou menos safado, tem os que realmente querem só ser legais (a moreninha que paquera lá com o policial)... Tem até mesmo um interessantíssimo personagem, que é o policial universitário.

Do lado da polícia, tem policial bandidão, tem o que se importa pouco, tem o que "se vende" pra trabalhar, em diferentes níveis. Tem várias histórias complicadas, não é nada simplório não. O filme é cheio de "áreas cinzas", essas dualidades maniqueístas infantis tão só na cabeça de quem viu cheio de preconceito.

***

Quanto à violência, fala-se muito que o filme seri aum grande espetáculo de sangue e horror, que seria um passatempo sádico para a classe média fascista que queria ver derramamento de sangue de pobre. Taé o Jabor falou isso. Isso não podia se rmais afastado da realidade.

Eu até concordaria se alguém me dissesse, por exemplo, que a violência foi banalizada no filme. Nem vi ninguém dizer isso!!... Mas se você reparar bem, assistir de novo sem ficar nervoso, com medo de talvez apoiar uma obra que seria algo como um Mein Kampf contemporâneo, vai ver que a violência passa às vezes só no fundo... Por exemplo, na memorável cena do "põe na conta do papa", não aparece o cidadão sendo executado. Em mais de um momento pegamos a cena de tortura já no final, e às vezes ela é só mencionada. Isso é MUITO diferente do que acontece no 24 horas, por exemplo, em que acompanhamos todo o processo do Jack Bauer decidindo fazer uma tortura, e fazer. Naquele seriado, o lance da tortura é intensamente explorado pelo diretor pra criar suspense, stress e todas emoções do filme. No Tropa de Elite isso não acontece.

Tem uma cena por exemplo em que o BOPE chega num pátio na favela, aparecem de surpresa levantando das sarjetas, e atiram antes de perguntar nos sentinelas do tráfico. Acho até que rola um que toma um tiro meio atrasado, uma cena muito marcante. Mas não marca pelo "stress" da tortura. Não é uma violência explorada com close-ups, câmeras lentas, ou com diálogos estilo homem-aranha.

Acho que o pessoal sentiu falta disso. O filme não tem diálogos assim, entre um policial e um traficante em que um fica questionando sobre o outro ser vagabundo, ou homossexual, ou de direita, ou sei lá o que mais que se gosta de falar em filme brasileiro, até que enfim o traficante puxa um revolver e fala algo como "Quer saber? Eu tou pouco me fudendo. Isso aí é o caraaalho, vai tomar no meio do seu cuuuu! Ahahaha!!" aí então o mocinho dá um tiro de sorte e pega na barriga do trafi, sendo atingido apenas de raspão no braço. Só porque não tem isso, esses diálogos existencialistas antes das mortes, o pessoal achou que é um filme "cruel", sei lá.

***

A cena lá do pátio, aliás, é importante porque tem o fogueteiro. Ninguém falou do fogueteiro, mas o fogueteiro é o personagem mais importante do filme. Será que de todos intelectuais por aí, tem que vir eu, engenheiro, pra notar uma certa semelhança nesse negócio todo de procurar o corpo do fogueteiro, com a preocupação de tragédias gregas com o corpo de pessoas mortas? Exemplo óbvio: Antígona.

O filme tem dessas coisas, mas ninguém deu a menor bola. Tem lá o Capitão tendo uma crise nervosa. As pessoas saíram falando do capitão Nascimento como um Chuck Norris brasileiro, como um Rambo (não no primeiro filme, óbvio), um Nico-acima-da-lei, mas ele não é isso!... Ele até pode ser sim um militar fodão e malvado quando é preciso, mas ele é não é um personagem sobre-humano, plano, propagandista. Ele é humano, tem problemas pessoais muito piores do que o homem-aranha (olha ele aí de novo), toma à vezes atitudes guiadas pela emoção, às vezes pela razão. Erra e acerta. E sofre com tudo isso boa parte do tempo, mas sempre encontra conforto em saber que é um bom profissional.

Esse negócio de sair falando do Capitão Nascimento como um Chuck Norris tupiniquim rolou só porque é engraçado. O filme não se resume a isso, de forma alguma. Tem lá cenas memoráveis de "ação militar"... Em especial, tem o trecho todo do treinamento do BOPE, que é algo quase que separado do resto do filme. Eu vi aquilo como uma interessante versão nacional da parte do treinamento do Apocalipse Now. Nem nacional, carioca. É muito legal ver, pra variar, oficiais brasileiros ao invés de gringos, falando com sotaque carioca coisas como "os senhores não são bem-vindos aqui". Mais do que isso, em todo o filme tivemos oportunidade de pensar um pouco sobre essa figura tão estranha e pouco conhecida: o policial e o militar brasileiros.

Sim, porque ser militar no Brasil é visto por alguns quase que como uma contradição. Afinal, toda a nata intelectual desse país se esforça para rechaçar impiedosamente qualquer filme em que estes cidadãos sejam retratados senão como bestas feras assassinas sem-mãe, seguidores de Mussolini ou defensores de interesses imperialistas estadunidenses. O Tropa de elite foi um parte um alívio de toda essa babaquice. Ou tentou ser, porque a reação foi apenas a esperada.

A proósitco, fiquei feliz com o que vi. Fiquei com uma impressão que nossa polícia, comparada com as anglo-saxônicas, adapta bem nosso jeitinho peculiar de ser.

***

Eu sinto é que toda essa reação negativa ao filme se deve aos fumantes de maconha formadores de opio-nião terem ficado tristes porque não foram os mocinhos do filme. Em geral o cinema, principalmente o brasileiro, trata fumantes de maconha como grandes heróis, únicos cidadãos a se preocuparem com a liberdade, a possuírem criatividade e a cultivarem outros valores relacionados. Nesse filme apareceram como nada demais, apenas pessoas que indiretamente contribuem para o problema da violência. Aí ficam putinhos em suas escolas de ciências humanas, citando sei lá que microrrelações de poder do Foucault pra tentar provar por a+b que o filme se tratava de um manifesto em prol da opressão do povo...

***

Quanto à questão da exploração barata da violência, a uma suposta "favela-exploitation", atendendo lá aos anseios dos jovens jogadores de Counter Strike, ao meu ver filmes como Carandiru e Cidade de Deus o fizeram muito mais, e foram no entanto super elogiados. Não rolou peitinho balançando do rodrigo santoro... Não tem aquela coisa toda do "mundo cão" tradicional do cinema nacional.

Tem, por outro lado, cenas da polícia subindo o morro ao som da música lá do Tihuana. Alguns chegaram a clamar que o filme era um "filme de ação barsileiro". Não achei não. São cenas de ação, mas são mais pra dar clima pro filme, não são o centro das atenções, não é o motivo de ser do filme. O motivo de ser é fogueteiro, são as narrações do Capitão falando da merda que é o trabalho dele, e é o policial-universitário tentando achar o lugar dele no mundo.

Infelizmente, os caras se vestem de preto. Dizem até que vai mudar agora, vão passar prum tal camuflado digitalizado. O filme criou essa imagem do "policial de Elite" brasileiro, que até então não existia. A gente só tinha idéia do que poderia ser uma SWAT estadunidense, por exemplo. E isso é legal, pelo mesmo motivo que é legal brincar de guerrinha quando a gente é criança. Aí virou moda, caiu na boca do povo, e os intelectuais prepotentes únicos-bastiões da democracia saíram falando que era nazismo, que aquele preto ali era o uniforme da SS, ou dos guardinhas do Mussolini... Talvez se eles se vestissem de cor-de-rosa, o filme se tornaria uma doideira cabeçuda, e aí sim seria apreciado pela nossa intelligenza, o "stablishment moral" comunista das universidades.

O problema todo é o preconceito contra o preto.

***

Em suma, infelizmente foi mais um daqueles textos extensos em que eu falo um monte de bobagem complicada tentado defender algo sofrendo acusações fáceis... Sou uma eterna vítima da retórica suja, pobre eu.

Assistam a droga do filme lá!!... Não é "nazista" não. Só não é mais um daqueles filmes brasileiros de favela-exploitation em que o mocinho é um maconheiro ladrão que namora uma puta. É um filme tanto ou mais complicado quanto a própria questão da polícia/favela/classe-média é. Qualquer simplificação está na cabeça dos críticos que não quiseram ver tudo, quiseram se posar de bacana-apático pros amiguinhos renegando o sucesso do filme, como sempre acontece aqui. "Ai ai, cansei desse Tropa de Elite"...

2008/05/24


O monte cumbuca da ilha do enxofre

Em filmes contemporâneos de propaganda estadunidense é muito comum se ouvir descrições emocionantes da batalha na ilha de Iwo Jima, (ou mais antiga e recentemente Iwo To). Fala-se que foi o momento em que os estadunidenses invadiram um “solo sagrado” japonês. Outro dia ouvi alguém falar ainda que o famoso monte Suribachi, com seu formato peculiar, seria considerado pelos japoneses um velho “bastião” das terras japonesas, mitológico atalaia insular, tendo sido vencido pela primeira vez pelo bravo e indômito Tio Sam. Algo como se houvesse ali uma tradição em resistência a invasões, como existe na Rússia com relação a forças vindas do ocidente (batalha do Neva, Napoleão e Hitler).

A importância que se dá para o que representava a ilha Iwo (jima ou to = ilha) só não é superada pela importância que se dá ao ataque a Pearl Harbor. Este retratado como um ataque sorrateiro que atingiu um alvo localizado dentro das fronteiras Estados Unidos da América, uma afronta à soberania do governo do Distrito de Columbia.

Vamos portanto meter o malho: Quanto ao Havaí, é sempre bom lembrar: Ele fica localizado no meião do Pacífico. Sua distância aos EUA, milhares de kilômetros, deve ser tipo metade da distância ao Japão. E existe um grande número de havaianos descendentes de japoneses, quem viu Karatê Kid sabe. Existem também havaianos nativos, filipinos e pessoas de várias outras ascendências... É um caldeirão de culturas!...

O Havaí só se tornou um dos estados unidos depois de um complicado processo: Em 1893 o reinado soberano foi deposto numa ação que envolveu estadunidenses vivendo lá dentro daquelas fronteiras, e rolou uma invasão dos marines por causa de um alegado risco à vida destes cidadãos durante uma crise política. Em 1986 o Havaí virou um "território" dos EUA, e foi apenas lá em 1959 que eles viraram de fato um estado, após um plebiscito meio questionável. Foi na verdade um ato imperialista. Em 1993 Bill Clinton até assinou um controverso "pedido de desculpas" pelo papel dos EUA na derrubada do legítimo governo que havia naquele país. Foi uma anexação de uma nação estrangeira, portanto, não diferente dos casos do Texas e dos estados confederados na dita na "guerra da secessão", que devia se chamar mais era "guerra de junção". (É uma sutil retórica. Um nome implica que tentou-se separar algo "naturalmente junto". O outro, "alternativo", que se tentou e conseguiu juntar duas coisas já separadas.)

Enfim. Foi apenas parte da expansão estadunidense complementada pela pouco conhecida guerra hispano-americana. Só queria dizer que Pearl Harbour não era tão território-americano assim... Não tanto quanto qualquer cidade da região da Nova Inglaterra, por exemplo. O ataque a Pearl Harbour não foi algo como seria o caso de um hipotético ataque a algum dos famosos arranha-céus de uma cidade como, por exemplo, New York City.

***
A história então vai assim: "depois do traiçoeira ataque a Pearl Harbour, uma afronta direta aos EUA por se tratar de seu território, eles foram reagindo, até que um dia chegaram à invasão de Iwo Jima, território sagrado japonês, em que se fincou a bandeira em uma montanha tão lendária quando o monte Fuji."

Porque invadiu-se Iwo Jima?... Se vc olhar no mapa, vai ver que é um ponto bastante estratégico. Quase a meio caminho entre as ilhas Marianas, e o Japão "de verdade". As Marianas foram dominadas pelos EUA antes de Iwo Jima (algumas delas eram posse dos EUA, foram invadidas pelo Japão, e depois retomadas pelos EUA). Isto já havia sido uma excelente vitória estratégica, porque permitia o ataque ao Japão com bombardeiros. Mas Iwo Jima é uma ilha relativamente grande, e tinha/tem um pequeno aeroporto, o que auxiliaria muito no suporte a tropas subindo pelo oceano, e foi basicamente por isso que foi invadida...

Mas além de ser um natural passo estratégico, a ilha Iwo também foi por acaso a primeira das ilhas invadidas pelos EUA durante a WWII que estava em posse do Japão já a muitos anos, bem antes da WWII. OK, era finalmente “território japonês”, mas o quão "japonesa" era mesmo essa ilha?? Será que era tipo Okinawa, onde nasceu o karatê do Sr. Miyagi?...

Vamos dar uma olhada no nome dela pra entender que tipo de lugar se tratava... "Iwo" é "enxofre"! Olha que legal, a velha "Iuodjáima" que os gringos gostam de repetir e repetir chama-se "ilha do enxofre"!... Acho que seria um pouco menos heróico ficar falando "Sulphur island" né?

E o famoso monte Suribachi? Dito uma "sagrada montanha que por anos protegeu o povo japonês de todo tipo de invasores até chegar o mighty american army"? Suribachi é um tipo de cumbuca, utilizada para moer coisas. Uma cumbuca! Engraçado que eu sempre olhei aquele formato peculiar, e pensei nisso também, agora descobri que os nativos concordavam. Era o monte cumbuca da ilha do enxofre.

Compare com o nome do monte Fuji, esse sim um monte "sagrado". Compare com o nome de Tokyo, que até mudou de nome conforme ficou mais importante. E a propósito: diz a Wikipédia que os habitantes da ilha utilizavam a palavra "to" para se referir à ilha, e não "jima" (não sei o quanto isso muda o significado). Os milicos japoneses chegaram lá falando jima, e colou. Isso demonstra como não era um lugar especialmente importante, mas sim "apenas mais uma" cidadezinha do interior, que teve a má-sorte de se tornar estratégica durante a guerra. Hoje parece que os habitantes estão fazendo valer sua preferência.

Não posso falar isso com certeza absoluta, mas eu sinto é que o único povo pra quem aquela montanha possui um status de local sagrado é o povo estadunidense, que inventou pra si mesmo um mito de grande glória militar naquela região.

Importante mesmo do ponto de vista cultural foi o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki. Nagasaki talvez ainda mais do que Hiroshima, por se localizar numa região de cidades históricas, bem mais antigas do que Tokyo e outras hoje maiores, e onde se diz que o Japão "nasceu"... Um pouco menos relevante, mas ainda bem mais do que Iwo Jima, é o caso de Okinawa, uma região com fama de ser meio "separada" do resto do Japão (tipo o Rio Grande do Sul pro Brasil e o Texas pros EEUU). Okinawa, além de geográfica e historicamente relevante, foi palco de uma batalha ainda mais sangrenta do que Iwo Jima, e que merece ser muito melhor conhecida. A Batalha do Enxofre só é tão famosa por causa da função que teve na política dos EUA durante a guerra, algo muito bem-retratado no filme Flags of Our Fathers.

Isso não é pra dizer que as mortes das dezenas de milhas de soldados e civis na ilha foi irrelevante comparada com outras. Foram todas lamentáveis e odiosas conseqüências da guerar, sem qualificações. O que quero alertar é que não podemos deixar esses exageros de se falar em "solo sagrado" e "montanha lendária" se espalharem. Isso é invencionice, é o vencedor imperialista tirando onda, é híbris!

2008/05/14


Aprendi tudo necessário no jardim-de-infância austríaco

Agora essa é boa. Tão tentando provar (e eu tou acreditando muito) que Ludwig Wittgenstein, um dos mais importantes filósofos do século XX, nascido em Viena em 1889, teria sido coleguinha de escola da personalidades política mais crucial, controvertida e louca-furiosa do século XX: Adolf Hitler, nascido esta também em 1889 no norte da Áustria, numa cidade a 60Km de Salzburg. O encontro teria sido influente na vida de ambos, e eles representariam de certa forma a grande dicotomia maniqueísta do século XX. Alguns ainda debatem esta foto, mas conhecendo a cara de peixe-morto do Lud, e a cara de mamãe-eu-vou-chorar do Adô, eu não tenho dúvidas. E por mais que o Lud não seja esse piazinho aí na foto, eles estudaram na mesma escola sim, apesar do Lud estar dois anos na frente. Diga-se de passagem, razão o bastante pra ele ser famosinho na escola, e atrair ressentimento de todos. Quem gosta de um geniozinho?
(Wittgenstein nasceu em 26 de Abril, e Hitler no dia 20.)



Eles teriam 14 e 15 anos nesta época. Alguns debatem, dizendo que eles talvez nunca tenham se encontrando, e que provavelmente nem se lembrariam um do outro quando mais velhos. Duvido muito. 14 anos já é velho o suficiente pra ter um bom conhecimento de todos seus colegas de escola, e para formar uma bela listinha de quais você gosta e não gosta. Duas peças raras como eles sem dúvida tiveram uma porção de encontros desagradáveis. E tendo se encontrado ou não, saber que estiveram tão próximos um do outro é muito interessante.

O que se debate mesmo são umas teorias paranóicas que saíram nesse tal livro The Jew of Linz, explorando a contraposição destas personalidades. São teorias até interessantes, vale a pena dar uma lida, menos porque seja verdade ou não, mas mais porque faz pensar sobre questões fundamentais da mente humana (um pouco como eu considero a astrologia). Duvido muito que o Wit tenha sido espião da Rússia, mas não duvido que tenha "se relacionado" com um certo famoso cientista da computação inglês homossexual que foi a engrenagem central da quebra da Enigma.

2008/04/27


Abduzidos pelo sistema

Tou aqui estudando lógica. Já aprendi por exemplo que uma falácia é um raciocínio aparentemente fundamentado na lógica mais rigorosa e inquestionável, mas que “na verdade”, é mentira.

Métodos de dedução lógica clássicos incluem por exemplo o modus ponens, que permite dizer que se a implica em b, ou se b é condição necessária para a, e se verificamos que a é verdadeiro, então podemos deduzir b. Outra regra de inferência lógica famosa é o silogismo, que permite dizer que se um grupo é subgrupo de outro, e se alguém pertence ao subgrupo, então ele também pertence ao grupo maior... São pequenas coisas aparentemente tolas, mas que ajudam a construir o edifício da ciência.

Existem falácias famosas, catalogadas bem como as regras lógicas válidas. Uma falácia muitíssimo comum é, dado uma regra de causação, e verificando-se o conseqüente, tentar daí inferir o antecedente. Por exemplo, suponha por hipótese que “Todos homossexuais gostam de The Smiths. O Daniel gosta de The Smiths. Logo, ele deve ser homossexual.” Ora, isto é uma falácia! É uma afirmação do conseqüente. Afirmar o conseqüente não significa absolutamente nada. Apenas a negação do conseqüente é que permite inferir a negação do antecedente... Mas a recíproca de uma implicação nem sempre é verdadeira. a -> b não significa que b -> a.

Pois bem, o problema é que no nosso dia-a-dia a gente até que faz bastante isso. Existem mecanismos de pensamento humano que cometem estas falácias, e isto nos permite levantar hipóteses que podemos manter “até que se prove o contrário”... É importante tentar fazer esse tipo de coisa
em sistemas de inteligência artificial, é basicamente “dotar o computador de imaginação”. Se vc é daqueles que acham que um computador é todo certinho, incapaz de errar, você nunca ouviu falar em lógicas não-monotonicas!...

Uma lógica não-monotônica é justamente uma lógica em que você pode inferir coisas que eventualmente vai descobrir serem falsas dada mais informação. Ela é diferente da monotônica que seria extremamente “conservadora”, incapaz de eventualmente dizer algo que se poderia descobrir ser falso.

O que estou achando engraçado aqui é que acabei de descobrir que um dos vários filósofos que estudaram a questão foi Charles Peirce. Uma figura estranha. Parece que eram um sujeito bacana sim, mas eu sinto às vezes que é um daqueles pensadores americanos que os próprios gostam de ficar exaltando pra mostrar como que “na colônia” também se pode fazer ciência e filosofia. Praticamente um Irmão Wright da lógica.

O que eu acho engraçado no tratamento que Peirce deu pra questão, ou pelo menos na forma como isto é ensinado por aí, é que me dá uma impressão assim que ele teria tentado formalizar o “pensamento prático anglo-saxão”.

Meu leitores sabem que estou tentando criar uma teoria sobre um certo tipo de cultura que identifico como sendo o pensamento mais comum do povo dos estazunidos, e os saxões em geral. Uma coisa que se ouve muito é que eles são “muito práticos”, não perdem tempo como picuinhas, e preocupações bestas como, por exemplo, lógicas monotônicas. Isto causaria, por exemplo, algo que mencionei noutro artigo: uma necessidade se poder fazer uma análise estatística de dados e poder dizer assim, sem sombra de duvida, que uma certa hipótese É verdadeira... Poder fazer um teste de “significância estatística” e, PÁ, daí poder já ignorar o processo de análise anterior e poder falar numa boa como se fosse uma verdade garantida. Essa mesma vontade louca de poder afirmar conclusões certas e absolutas de análises probabilísticas, o que é um absurdo, me parece estar relacionada com esse desejo que querer dar mais valor e credibilidade a falácias aparentemente inocentes, como a afirmação do conseqüente!...

Peirce até inventou um nome novo pra isso: “abdução”... (Nada mais importante pra tentar dar credibilidade a alguma coisa famosamente rejeitada, od que invetar um nome novo, hein!... Não que eu esteja afirmando que seja isso que está acontecendo... Não necessariamente.) Eu concordo que é interessante, concordo que a mente humana funciona assim, e que nenhum sistema de IA vai muito pra frente sem esse tipo de coisa. Mas por algum motivo, talvez seja até puro preconceito meu, quando leio sobre o assunto pensando em americanos discutindo essa questão, me dá uma impressão de que eles olham isso com outros olhos. De que eles pensam assim: “é perfeitamente aceitável afirmar o conseqüente!...” “Vejam só essa tal lógica monotônica, até onde ela nos levou? Precisamos de mais do que isso!...” “Vamos ser práticos!...”

Sejam práticos amigos!... Divirtam-se! Mas pra lá dos rios Grande, Reno e Danúbio, por favor. Isso, obrigado...

2008/03/21


Porque servem um copo de água junto com o café

Resposta rápida: a idéia é tomar a água antes do café. Mas que eu saiba não é nenhuma gafe terrível tomar em outra ordem, ou mesmo deixar de tomar. Então fique tranqüilo, e curta o seu cafezinho do jeito que melhor lhe convir...

Resposta lenta:

Não tem nada mais legal do que ver as consultas que levam as pessoas às suas páginas!

Alguém caiu no meu conto ali abaixo buscando no google por porque servem um copo de agua junto com o café. O famoso copinho de água mineral, freqüentemente com gás, que começaram a servir a uns poucos anos por aqui nas melhores cafeterias perto de sua casa. Como é um assunto que me fascina (tanto que escrevi um conto que fala sobre isso) lá vai. Tudo o que você queria saber sobre o copinho de água junto do café.

A dúvida maior que geralmente se tem é se é pra beber antes ou depois. Pois bem, a idéia é que se beba antes, pra você “limpar” sua boca e poder apreciar melhor o sabor da bebida. Isso é especialmente importante se você tiver acabado de comer algo, como geralmente é o caso quando se toma café.

Mas é claro que este é um país livre, e se você quiser deixar pra tomar depois, também pode. Eu mesmo deixo sempre um golinho pra depois. Aliás, outra coisa que eu faço é às vezes pedir um docinho junto do café, e ir intercalando da seguinte forma: água, café, doce, água, café, doce...

É, enfim, um “instrumento” para você utilizar em sua experiência degustativa da forma que quiser. Alguns podem até querer impor por aí que é “só” pra isso ou aquilo. São os hitlerzinhos do dia-a-dia. Mas eu vou longe disso, digo que se quiser, por exemplo, misturar um pouco na bebida negra, porque não? Afinal, tem gente que prefere o popular “chafé”, né?... Isso pode servir pra esfriar a bebida também, quando vem muito quente. Ou ainda, por exemplo, você pode ir bebendo a agüinha lentamente enquanto a xícara esfria, se for o caso.

Água é algo básico na vida e na culinária. Tem muitas coisas por aí que podem ser melhor apreciadas com uma boa agüinha. Mas só “colou” com o café, porque fica bonitinho aquele copinho de cachaça do lado da xícara.

É poisé, parece um copo de cachaça, né? Também já achei engraçado a primeira vez que reparei, mas isso “já é tããão semana-passada”!... (pra imitar o Anthony Bourdain) E eu nem sei o que haveria de tão engraçado em se tomar um copinho de cachaça. Tenho uma suspeita de que quem acha isso engraçado são pessoas que consideram cachaça uma bebida não-chique, enquanto café seria algo sofisticado, e do contraste decorreria o efeito humorístico. Tem gente ainda que considera o café uma bebida inofensiva, e o álcool um entorpecente mais sério, e daí surgiria outro contraste.

No dia que eu abrir meu café, vou colocar no cardápio: café com um copinho de cachaça, Cointreau ou Steinhager. Já ouvi falar até em café com vodka, mas estou ainda pra aceitar que tenha mesmo algum valor. Café com Cointreau é inigualável, adoro. E vai vir copinho de água também, dois copinhos, uma xícara, e um docinho. Pra quem quiser achar graça ao invés de beber, vá em frente, sorria. Quanto mais bom-humor melhor pro mundo.

2008/03/15


Hidros estadunidenses

Os gringos gostam muito de falar em filmes e documentários sobre a tal Represa Hoover, e sua usina hidro-elétrica. Ela foi batizada em homenagem ao presidente (1929--1933) republicano e engenheiro Herbert Hoover. (Não confundir com J. Edgar Hoover, famoso crápula diretor do FBI em 1924--1972.)

Ela fica no rio Colorado, entre o Arizona e Nevada (o rio é toda a fronteira oeste do Arizona, com Nevada em cima e a Califórnia em baixo). A usina teve seu momento, vai. Quando criada em 1936 foi uma obra notável. Mas ela não é mais grandes coisas!... Sua potência atual é de 2,1GW, e hoje é apenas a quinta maior usina hidrelétrica dos EUA. É o bastante pra se considerar uma usina de respeito, mas depois dos anos 1940 os EUA construíram outras usinas maiores, como a da represa Grand Coulee, que hoje gera uns 6,8GW.

A segunda maior usina deles é a da Chief Joseph Dam. As duas ficam no rio Columbia, e no estado de Washington. Não entendo porque nunca se ouve falar dessas duas... Mesmo depois que Woodie Guthrie foi contratado em 1941 para compor músicas sobre a energia hidroelétrica e o rio Columbia!

O lago formado pela Grand Coulee foi batizado em homenagem ao presidente (1933-1945) democrata Franklin D. Roosevelt. A Chief Joseph, a um cacique da região... Estão notando um padrão aqui? Agora me digam, já pensou se Itaipu se chamasse "Usina Médici / Strößner"???... Acho que não hein. E esse lago da Grand Coulee, aliás, não é grandes coisas. Ela não tem muita capacidade de reserva não... Eu ficaria ofendido por batizarem um lago pífio com meu nome!

A Chief Joseph é operada pela USACE, e a Grand Coulee e a Hoover por um certo
Bureau of Reclamation, do DOI. Engraçado, tem gente que imagina que os EUA são um país-símbolo do capitalismo, e portanto da privatização, mas suas maiores usinas hidrelétricas são estatais!...

Um aspecto ambiental interessante: Tanto a Grand Coulee quanto a Chief Joseph bloqueiam a subida dos salmões pelo rio Columbia. Mas a Johnny Day, outra usina grande que fica mais pra baixo do rio e foi construída mais recentemente, tem escada de peixe. O rio Columbia passa perto da cidade de Portland, Oregon, e forma boa parte da fronteira entre este estado, e Washington acima.

Em termos de potência total gerada em usinas hidro-elétricas, a China e o Canadá estão à frente do Brasil. Os EUA vêm só em quarto lugar. Mesmo com Santo Antônio e Jirau ainda vamos ficar apenas pertinho de ultrapassar o Canadá em potência instalada, mas muito provavelmente vamos ultrapassar em produção de energia. A maior usina hidrelétrica do Canadá também tem nome de político, e fica pros lados de Québec.

Aproveitando que estamos no assunto, ainda tão pra fazer a primeira fazenda de cata-ventos que atinja 1GW. Já as maiores nucleares do mundo estão entre uns 5 a 10 GW.

Chernobyl eram 4 estações de 1GW cada. A número 4 saiu de funcionamento antes do esperado, em 1986, mas as outras três funcionaram por muito tempo ainda. A número 2 também saiu de operação antes do previso em 1991... (que eufemismos mais gentis da minha parte!) A última só saiu de operação em 2000.

A maior nuclear de todas é/era a Kashiwazaki-Kariwa, no Japão, com pouco mais de 8GW, que está temporariamente desativada por causa de um terremoto em 2007. Entre todas usinas do mundo, só perde/perdia em potência pra três hidrelétricas: Itaipu, Três Gargantas (China), e Guri, na Venezuela, com 10GW. O nome oficial da usina da represa Guri é Central hidrelétrica Simón Bolivar, nome trocado em 2006 seguindo a tradição saxônica.