Tou aqui estudando lógica. Já aprendi por exemplo que uma falácia é um raciocínio aparentemente fundamentado na lógica mais rigorosa e inquestionável, mas que “na verdade”, é mentira.
Métodos de dedução lógica clássicos incluem por exemplo o modus ponens, que permite dizer que se a implica em b, ou se b é condição necessária para a, e se verificamos que a é verdadeiro, então podemos deduzir b. Outra regra de inferência lógica famosa é o silogismo, que permite dizer que se um grupo é subgrupo de outro, e se alguém pertence ao subgrupo, então ele também pertence ao grupo maior... São pequenas coisas aparentemente tolas, mas que ajudam a construir o edifício da ciência.
Existem falácias famosas, catalogadas bem como as regras lógicas válidas. Uma falácia muitíssimo comum é, dado uma regra de causação, e verificando-se o conseqüente, tentar daí inferir o antecedente. Por exemplo, suponha por hipótese que “Todos homossexuais gostam de The Smiths. O Daniel gosta de The Smiths. Logo, ele deve ser homossexual.” Ora, isto é uma falácia! É uma afirmação do conseqüente. Afirmar o conseqüente não significa absolutamente nada. Apenas a negação do conseqüente é que permite inferir a negação do antecedente... Mas a recíproca de uma implicação nem sempre é verdadeira. a -> b não significa que b -> a.
Pois bem, o problema é que no nosso dia-a-dia a gente até que faz bastante isso. Existem mecanismos de pensamento humano que cometem estas falácias, e isto nos permite levantar hipóteses que podemos manter “até que se prove o contrário”... É importante tentar fazer esse tipo de coisa
em sistemas de inteligência artificial, é basicamente “dotar o computador de imaginação”. Se vc é daqueles que acham que um computador é todo certinho, incapaz de errar, você nunca ouviu falar em lógicas não-monotonicas!...
Uma lógica não-monotônica é justamente uma lógica em que você pode inferir coisas que eventualmente vai descobrir serem falsas dada mais informação. Ela é diferente da monotônica que seria extremamente “conservadora”, incapaz de eventualmente dizer algo que se poderia descobrir ser falso.
O que estou achando engraçado aqui é que acabei de descobrir que um dos vários filósofos que estudaram a questão foi Charles Peirce. Uma figura estranha. Parece que eram um sujeito bacana sim, mas eu sinto às vezes que é um daqueles pensadores americanos que os próprios gostam de ficar exaltando pra mostrar como que “na colônia” também se pode fazer ciência e filosofia. Praticamente um Irmão Wright da lógica.
O que eu acho engraçado no tratamento que Peirce deu pra questão, ou pelo menos na forma como isto é ensinado por aí, é que me dá uma impressão assim que ele teria tentado formalizar o “pensamento prático anglo-saxão”.
Meu leitores sabem que estou tentando criar uma teoria sobre um certo tipo de cultura que identifico como sendo o pensamento mais comum do povo dos estazunidos, e os saxões em geral. Uma coisa que se ouve muito é que eles são “muito práticos”, não perdem tempo como picuinhas, e preocupações bestas como, por exemplo, lógicas monotônicas. Isto causaria, por exemplo, algo que mencionei noutro artigo: uma necessidade se poder fazer uma análise estatística de dados e poder dizer assim, sem sombra de duvida, que uma certa hipótese É verdadeira... Poder fazer um teste de “significância estatística” e, PÁ, daí poder já ignorar o processo de análise anterior e poder falar numa boa como se fosse uma verdade garantida. Essa mesma vontade louca de poder afirmar conclusões certas e absolutas de análises probabilísticas, o que é um absurdo, me parece estar relacionada com esse desejo que querer dar mais valor e credibilidade a falácias aparentemente inocentes, como a afirmação do conseqüente!...
Peirce até inventou um nome novo pra isso: “abdução”... (Nada mais importante pra tentar dar credibilidade a alguma coisa famosamente rejeitada, od que invetar um nome novo, hein!... Não que eu esteja afirmando que seja isso que está acontecendo... Não necessariamente.) Eu concordo que é interessante, concordo que a mente humana funciona assim, e que nenhum sistema de IA vai muito pra frente sem esse tipo de coisa. Mas por algum motivo, talvez seja até puro preconceito meu, quando leio sobre o assunto pensando em americanos discutindo essa questão, me dá uma impressão de que eles olham isso com outros olhos. De que eles pensam assim: “é perfeitamente aceitável afirmar o conseqüente!...” “Vejam só essa tal lógica monotônica, até onde ela nos levou? Precisamos de mais do que isso!...” “Vamos ser práticos!...”
Sejam práticos amigos!... Divirtam-se! Mas pra lá dos rios Grande, Reno e Danúbio, por favor. Isso, obrigado...
2008/04/27
Abduzidos pelo sistema
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