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2008/07/21


Ele e Ela

O que você me dizem desse texto tirado das regras do Google Code Jam?

A contestant may participate in one or both of her assigned sub-rounds. However, if a contestant advances from her first sub-round, she will have no effect on the contestants who advance in her second sub-round (whether she participates or not).


Os anglófonos são super preocupados porque a língua deles não tem gênero. Mas não é como se fosse tudo neutro, a sensação que eles tem ao falar em sua língua, é a de que estão falando tudo sempre no masculino. É como se todas as entradas nos dicionários da língua inglesa fosse "s.m." e não apenas "s." Sujeitos de frases só se tornam femininos se isso for explicitado, não tem palavra que cause isso, como por exemplo a portuguesa "pessoa".

Eu sou umA pessoa que se esforça muito pra colocar palavras do gênero feminino em meus textos, eventualmente empregando adjetivos no feminino para pessoas masculinas. Só uma pessoA atentA repara nessAS coisas. Isso ajuda a tornar A minha forma de falar menos masculinA, deixa A redação mais "inclusivA" ou "democráticA", e faz com que eu não tenha aquelA sensação estranhA de ser machista.

Mas no inglês não dá pra fazer esse tipo de truque. O resultado é que as pessoas se sentem incomodadas às vezes, principalmente desde que começou a era do "politicamente correto"... Resultado, surgem aquelas ignomínias linguísticas, como sair escrevendo "he/she", que eu odeio. Vá lá, em alguns contextos encaixar um "he or she" é perfeito, mas essas abreviações "he/she" ou "s/he" etc são horrorosas. Odeio essas abreviações assim. (Os mais perspicazes notaram o etc logo ali, e já notaram também em outros textos que tenho mania de escrever et cetera por extenso.)

Mas então. Aí vem o Google e mostra uma nova tendência. Essa empresa decidiu que nos textos dela ia fazer isso, se importar em deixar a redação mais feminina. Nesse parágrafo, sentiram que ia pegar mal dar a impressão de que os programadores concorrentes seriam necessariamente homens, se falassem "A contestant (...) he will". Mas aí acharam feio "he or she", acharam feio "he/she" ou "s/he", e optaram por... SHE!!... Sim, o texto acaba dandoa entender o contrário, que o concorrente seria um programador fêmea.

Quer dizer, o machismo lá é tanto que existe a necessidade de não simplesmente escrever "he", porque isso daria a entender que só poderiam concorrer mulheres, mas por outro lado, esse machismo permitiria escrever apenas "she", porque aí as pessoas pensam "não pode ser que ele esteja falando sério, que é só mulheres, na verdade deve ser genérico".

Quer dizer, "he" é específico, e "she" genérico. Inverteram o usual, que é o masculino se aplicar genericamente...

Melhor ainda, estão tipo inventando o substantivo feminino, né? analise a frase: A contestant may participate in one or both of her assigned sub-rounds. A única forma desta frase ser considerada correta é se a) os participantes são de fato apenas mulehres, ou b) se "contestant" fosse um SUBSTANTIVO FEMININO, o que não existe na língua inglesa.

Como vocês me explicam isso?

OBS: Mulheres já me falaram que gostam de ler textos com esses "he or she" pra todos lado. Eu, como homem, só posso diplomaticamente acatar, e buscar usar isso nos contextos certos... Mas fazer uma modificação radical dessas na lígua, na maior naturalidade, eu ainda não estou pronto pra isso não... Quer dizer, não é minha língua, não apito nada nesse sentido, mas tenho o direito de me espantar, não? E ainda de fazer a pergunta: seria possível algo assim na língua portuguesa? Essa mesma mudança do genérico ser no masculino, pra ser no feminino?

Post Scriptum: só agora notei que engraçado a semelhança entre as palavras aí... Genérico e Gênero!... A gente fala o "genérico" no "gênero" masculino. E essa agora?...

2008/03/13


Pérolas Paulistanas pt. III

"[O lugar] X fica na mesma direção... mesma direção, sentido e distância do que (o outro lugar) Y."

***

Nos corredores da melhor universidade do Brasil: “Não, não, duas barras é comentário.” Olha o nível!!! Em público eu esperava ouvir umas questões mais complexas sobre C, como: “qual é a melhor forma de utilizar o operador ternário de avaliação condicional?” Ou talvez: “Você sabia que dá pra fazer incremento numa variável void** , mas não numa void*?”...

***

“Guitarra é muito melhor do que baixo... Por acaso você já ouviu um solo de baixo?” Esse paulistano não sabe nada de música, coitado.

“A professora perguntou o que era ‘Cólera’, e eu disse que era uma banda, e ela falou que não, e eu disse que ‘é sim, professora!’...”
Aí, do mesmo autor da anterior: “...mas você sabe que Cólera é uma doença física, né.”

2008/02/25


Resenhando palavras intrusas pt. II

Essa é famosa, tem no Tropa de Elite. Cheguei a ouvir gente falando que o significado no filme havia sido deturpado... Mas é bem o contrário. Lá eles a usam com uma precisão exemplar e estratégica. Um candidato ao batalhão incapaz de cumprir os requisitos é um perfeito fanfarrão, gabarola e bazofiador!... Fanfarrão não é de forma alguma sinônimo de "brincalhão" ou "desordeiro". Farra é uma coisa, fanfarra é outra (por mais que uma palavra tenha vindo da outra).

fanfarrão | adj. e s. m.

fanfarrão

fem. fanfarrona

de fanfarra

adj. e s. m.,
que ou aquele que alardeia valentia, sem a ter;
impostor;
jactancioso;
gabarola, bazofiador.

2008/02/21


Resenhando palavras intrusas pt. I

Estou aqui resehando algumas palavras estranhas que aparecem do nada no vocabulário dos seus amigos, e as pessoas começam a falar direto, mas às vezes dando um significado um pouco diferente do que elas realmente tem (ou tinham). Por exemplo:

resenha | s. f.

resenha


de resenhar

s. f.,
acto ou efeito de resenhar;
notícia que compreende certo número de nomes ou factos similares;
descrição, relação circunstanciada de diversos objectos;
contagem;
enumeração por partes.


(Fonte priberam. Participe você também da campanha "Queremos o Houaiss livre na net!"...)

2007/12/07


Sid Vicious

Volta e meia aparecem umas palavras que vão se espalhando, como num surto de uma doença. Viram meio que moda por um tempo, às vezes somem, às vezes ficam. Não sei se é bem um fenômeno real ou apenas uma impressão minha, mas esse sentimento deve ser o mesmo que inspirou Burroughs, e ainda o que inspira alguns filósofos quando encanam com esta o aquela palavra ou conceito... Ainda é certamente o tipo de questão que atraia alguns estudiosos da língua...

Um conjunto de palavras que me chamou a atenção recentemente foram encetar, entabular e elencas, esta última em maior destaque. De repente um monte de gente começou a usar ocm muita freqüência, e em minha opiniáo às vezes até elncando estas palavras de forma meio descuidada em seus textos.

Uma palavra que tem me chamado a atenção nestas últimas semanas é "vício"... Ficou muito em voga quando se falou muito em ser viciado em drogas, ali nos anos 80... Hoje virou "adição", e mais caso de saúde pública do que era o "vício" realmente... Não ouço hoje falar tanto em "vício" e em "viciados" quanto antigamente. Mas de repente também pode ser por exemplo a minha idade... Talvez os mais jovens ainda ouçam muito sobre o assunto, lendo o
Estudante, e livros da Adelaide Carraro.

De qualquer forma, o que é isto, afinal, o "vício"? Uma abordagem mais zen, non-sense e dadaísta do assunto sempre menciona jocosamente o quanto somos todos "viciados" em oxigênio e água... Isto naturalmente revela a natureza de "dependência" que o vício implica. Viciados em drogas também são muitas vezes chamados de dependentes, às evzes como eufemismo, às vezes com objetividade.

Vício implica, é claro, em algo maior. Primeiro porque pode se tratar de uma certa dependência psicológica. É algo de complexo esta dependência psicológica, um sentimento muito pouco compreendido. Até porque no fundo toda dependência psicológica tem seu fundo químo, sendo este o substrado do organismo humano.

Temos aí viciados em joguinhos de computador, jogos de azar, sexo e outras coisas. O vício fala entretanto mais do que de dependência química ou da obscura dependência psicológica, fala de MORAL. O vício é uma dependência CONDENÁVEL, uma dependência desprezível. O viciado é um ser desprezível, e daí a necessidade por se buscar por eufemismos ao tentar tratar os "dependentes" e "adicionados".

Portanto é uma afirmação forte quando, por exemplo, um apresentador da CBN fala sobre o vício da população em binguinhos eletrônicos. Ele está falando sobre um costume desprezível, que a sociedade deve recriminar. Estamos falando daquelas coisas que dão asco, e que a "sociedade de bem" combate sendo elas ilegais ou não.

É uma ferramenta política então. Convencer um grupo de pessoas que um certo comportamento é um vício é convencê-las a recriminar os viciados. É fazer surgir toda uma classe de cidadãos inferiores. A vicialização de uma cultura é um instrumento de diferenciação social, fonte para repressão, guerras, genocídios e etc.

"Vício" tem ainda uma outra conotação muito interessante, que não tem mais a ver com dependência e com costumes e culturas. Algo "viciado" é ruim, mas é pior do que isso. Quando uam coisa ruim decorreu de um "vício", estamso falando de algo quase igual a uma possessão demoníaca. Um "vício" é como um incubus que toma conta de um desafortunado e o faz cometer infâmias.

Presenciei um discurso outro dia em que se acusou uma organização de ter sido administrada "com vício", havi a "um vício" permeando as atividades dos dirigentes. Neste sentido não entendo o tal "vício" não é nem apropriadamente uma má-intenção, nem como a ingenuidade inconscinete de um homicídio culposo, digamos. É uma coisa semi-consciente, é um pensamento consciente que age por trás de você. É mesmo quase como que um espírito ou fantasma que pode ser responsabilizado pelos atos condenados!...


O interessante então é isso: o "vício" é uma coisa que na verdade não existe. O dependente, ou "adicionado", não é diferente do "viciado". Uma "má-administração" se caracteriza física e logicamente, ao meu ver, da mesma forma que a administração "viciada". O vício é meio que evocado para ser recriminado de uma forma diferente, nem objetiva, nem com piedade. O "vício" é a "fonte do mal", as "forças do mal". "Vício" é quase uma prosopopéia de tudo que nos desagrada, tal como o deus de Abraão é às vezes uma forma de prosopopéia do universo, ou apenas do que nos agrada. São quase que personificações de entidades inumanas que podem ser recriminadas ou louvadas.

Resumo: "Vício", cara... Presta atenção nesse negócio de "vício", isso é muito louco. Não é uma palavra qualquer.