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2008/02/04


Vexação digital paulista, ou a bacia convexa.

São Paulo vive hoje vítima de um certo "provedor de acesso wi-fi para estabelecimentos comerciais" chamado vex.

Essa empresa trabalha assim: eles instalam pra você o roteador lá (um "AP", que permite pessoas entrarem numa rede IEEE802.11 local), e esse equipamento vai fornecer pros seus clientes o acesso sem fio. Sei lá como o comerciante paga eles lá pra administrar isso... Acho que paga só uma instalação, mas não sei. O que importa pro comerciante é que ele "tem wi-fi" ou "tem wireless" ou "tem AP" no negócio dele (cafés et cetera).

Só que não é que nem tantos lugares do planeta em que você chega com sua máquina e sai usando. Não é que nem, por exemplo, o Café com Letras em BH. Lá vc chega com seu dispositivo, e sai usando numa boa. No shopping Pátio, no Savassi, vc chega lá e sai usando. Seja no café do segundo andar, seja no T.G.I Friday's, é só sentar e usar, e pedir um cafezinho pra não ser cara-de-pau. No Vitrola tem que pedir a senha pra eles, mas aí é tranquilo. No quinta avenida tb, é só entrar e usar (mas não pode usar a tomada que o segurança briga com vc). No status eu vi q tem rede, mas não sei como funciona (não é liberadão, mas talvez tb seja só pedir senha)

De qqr forma, em BH, ali na Savassi, tem X lugares onde vc pode ir e usar a Internet numa boa. Passei uma mês lá agora, e o Café com Letras foi meu escritório. Ia lá todo dia usar a Internet (eu tinha q terminar 3 artigos, mais um poster...) Ia lá direto, usava a Internet sem problemas, largava uma quantia absurda de dinheiro, mas ficava totalmente satisfeito.

Aqui em São Paulo, querido, a coisa não funciona assim...

Passei semanas, meses ouvindo falar sobre o tal Starbucks que ia abrir, e por algum motivo estranho, uma das coisas que mais se ouvia falar do tal Starbucks é que ele ia ter Internet sem fio. (Como se fosse tão absurdamente inconcebível essa idéia em qualquer outro estabelecimento.) Quando comprei meu maravilhoso Compaq v6210br, fiquei louco pra ir lá entrar na Internet.

Qual não foi minha surpresa que descobri que o acesso era via o tal Vex... vexaminoso. O Fanz (nas FNACs) é a mesma coisa. O café boca al lupo perto da casa da minha namorada, mesma porcaria.

São Paulo vive vítima desses caras. Não tem um cafezinho que não tenha se rendido a eles. Não dá pra ser um hacker feliz nessa cidade sem contratar os serviços de alguma das porcarias de provedores filiados ao vex...

Entrei no tal site querendo contratar algum. Nem pensar garoto. Ou o acesso por wi-fi é na verdade indireto, vc ganha o direito por causa de outros produto mais complexos que vc adquiriu, ou então é simplesmente caro demais.

Tenha dó, pagar 30, 40 reais por mês pra poder ler e-mail no shopping no final de semana? poupe-me! poupe meu dinheirinho!!...

***

Eu moro numa toca sombria e selvagem. Não tenho TV a cabo, não tenho speedy, não tenho c*isa nenhuma. Não tenho planos de celular mirabolantes de claro, vivo ou oi da vida. não assino Estado de Minas (vá lá, eu assinto a Nature). Mas eu também existo, pô! Mas eu não tenho vez em São Paulo. Tenho notebook, tomo cafezinho gourmet, moro por aqui, mas ainda assim foi decidido que eu sou parte de um segmento da população que não merece passar pela "complete wireless experience" em São Paulo. (complete wireless experience é pegar seu notebook e fazer alguma coisa com ele, śo na bateria, usando a Internet, e tomando um cafezinho ou equivalente. É de falto algo emocionante que todo homem contemporâneo precisa experimentar.)

O que o vex faz é efetivamente elitizar o acesso wi-fi nessa cidade. Aqui não é qqr jacu com um notebook ou aipod-tutch que sai passeando pela pela urbe entrando na Internet. É só a "nata", ou a "panna" como se diz no starbucks.

Eles são um instrumento de alargamento do digital divide, ou "digital gap". São imperialistas contribuindo para a opressão social, a sociedade de castas.

Isso anda na contramão do telefone celular pré-pago, por exemplo... Coisas assim.

***

E tem mais, lá no starbucks é bonito e tal, tem sim um climinha bacana, mas hoje pedi um café e não achei muito bom não. (o muffin eu confesso que tava ótimo). Das outras vezes achei que o café tava uma porção generosa praquele preço (3,00, com chantily/creme/panna...) O mesmo que eu pagava me outros café em campinas, por exemplo. Mas hoje testei, pedi numa xícara, e veio numa xicrinha minúscula, absurda!!!... Onde já se viu? E tá 3,10 ainda.

Tomara que surja logo por aqui uma reação, com a fundação de novos cafezinhos, melhores do que o Starbucks, e com Internet sem-fio liberada. Paulista bem gosta desse negócio de "reação". Estou vendo já o "café MMDC"...


Depois fala que mineiro é caipira. BH tá anos-luz à frente de Sampa em termos de cafés e de Internet sem fio.

Os cafés de São Paulo são só esses lances meio mcdonalds aí. Ou é megastore, ou é chicoroso e elitista, ou é um buteco copo-sujo escroto. Isso é são paulo... Não tem nada que lembre a boa Savassi... Cada dia aqui é menos mistério pra mim porque a vida em BH gira em torno daquela minúscula região da cidade.

Sabe um lugar que tinha wi-fi que não tem mais? O Standcenter. Tinha lá, tudo OK... Aí bem quando comprei o notebook parou de ter. Agora não tem mais é o próprio Standcenter. (tá fechado desde antes do Natal)

o vex contribui pra mais uma letargia nessa cidade. Dizem que são paulo é "caótica", mas é mentira, essa cidade é letárgica. É tudo parado.

As ruas asfaltadas, as vias para o veículos automotores, são promessas de deslocamento veloz, promessas de transporte industrial futurista, mas o que acontece é o engarrafamento, tudo parado, alagado, amontoado. As pessoas vão rastejando pelas ruas como montes de folhas secas sendo empurradas pela enxurrada na sarjeta.

O vex é isso aí, uma promessa de tráfego de informação não-realizada. Zilhões de APs se espalham pela cidade, mas você tá ali com seu notebook (carro), mas não pode entrar, Não anda, fica parado. Aquela informação que deveria trafegar fica parada num sinal vermelho. Não pode estacionar porque não deu dinheiro pro tomador-de-conta.

Cadê o maravilhoso caos? Como vou poder pilotar o caos do mundo digital contemporâneo assim? São Paulo não é uma cidade Philogroky...

Vex é o vexame da democracia digital

***

PS: A "bacia convexa" é o seguinte: hoje fala-se muito em "convergência", e a convergência ocorre num sistema dinâmico onde há uma "bacia" de atração. Tudo que cai nessa bacia é atraído ("converge") pro centro. Em São Paulo a bacia é convexa, a convergência é pra marginalidade do atrator... (é portanto uma divergência...)

2007/12/08


A hora e a vez de citar a Wikipédia em artigos científicos

EDIT: Se você está procurando informações sobre como citar a wikipédia em seu trabalho, por favor veja este outro post meu ensinando o macete.

A questão da propriedade ou não da citação de fontes como a Wikipédia em publicações científicas, e de seu uso em atividades acadêmicas em geral, acaba estimulando um debate muito mais amplo e importante: o do próprio papel das referências bibliográficas em artigos e no fazer científico.

Já na página 60 do último livro de Galileo Galilei, Discorsi e dimostrazioni matematiche, intorno a due nuove scienze (1638), o personagem Sagredo faz notar que é possível às vezes realizar um experimento científico, e concluir que a opinião de alguns filósofos antigos, ``incluindo às vezes talvez até o próprio Aristóteles,'' está errada. O lema da Royal Society de Londres diz ainda, desde 1660: Nullius in Verba, ou ``segundo [as palavras de] ninguém.'' Cito estes antigos bastiões da ciência para lembrar que a verdadeira ciência ocorre apenas naqueles raros momentos em que se realizam experimentos, e estes são percebidos como em conformidade com determinadas teorias científicas propostas. Tomando o conceito do mais contemporâneo Karl Popper, a parte mais crucial da ciência se dá apenas naquele momento quando se tenta falsear uma teoria. (Se é que eu entendo desse assunto.)

A citação, referência e reverência a fontes de conhecimento antigas e cultuadas não são necessariamente atividades científicas, podendo ser meramente recursos retóricos para tentar dar credibilidade a um trabalho científico novo. Este tipo de ação já é compreendido como tal desde quando o próprio Aristóteles identificou as diferentes formas de ``provas retóricas'': o ethos, o pathos e o logos. A lógica e a dialética podem sim ser suplementadas pela retórica. É preciso ser vigilante entretanto para não cair na retórica vazia, ou o ``sofismo,'' já denunciado por Platão. Freqüentemente citações em artigos científicos não buscam direcionar o leitor a alguma fonte de dados ou técnicas utilizadas no trabalho. Estas citações visam apenas sugerir afinidade com trabalhos aclamados pelo meio acadêmico, tentando tomar para si um pouco desta aceitação.

Se ao realizar um trabalho científico um cientista coleta uma série de dados, ou consulta a forma exata de alguma técnica em uma referência, e em seu trabalho é capaz de comprovar a certeza dos dados ou a exatidão da técnica, que mal há em referenciar esta fonte no trabalho, mesmo que seja ela a Wikipédia, ou talvez uma pichação, um rabisco em uma porta de banheiro, ou ainda um conselho de um faxineiro? Ao referenciar um trabalho o autor de um artigo torna-se na verdade cúmplice daquela referência. São os autores de novos artigos que são responsáveis pela exatidão de suas fontes, e não os autores dos trabalhos clássicos que são pela dos novos.

O questionamento da adequação ou não do uso da Wikipédia em artigos científicos e na atividade acadêmica em geral deve ser feito é neste contexto mais amplo, em que se questiona não a forma como esta fonte específica é confeccionada, mas sim todo o processo da referenciação. O pensamento que exige estritamente o uso de referencias ``consagradas'' em uma publicação é o mesmo que prega uma forma passiva de leitura, em que o leitor não busca questionar o que vê escrito. Renegar um artigo devido a sua autoria, sem travar contato com o material, é como negar-se a olhar através de uma luneta para observar um fenômeno que alguém diz ter visto, afirmando ter certeza de que trata-se de um equívoco.

Aceitar a Wikipédia como uma fonte bibliográfica regular é o último e maior passo necessário para se adentrar nesta nova era que estamos propondo, em que o aluno e o leitor deixam de ser meros espectadores da ciência para se tornar agentes participantes, enriquecendo as fontes de conhecimento com realimentações de banda larga e atraso reduzido.