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2008/05/16


O que realmente importa

Acho que já escrevi isso aqui algumas vezes, mas é tão importante que é sempre bom reprisar.

We must make boogie music an essential factor in the life of all. In presenting this song to the world, we must then explain and justify our position by formulating a definition of boogie music and setting forth its main principles in such a way that all may understand instantly that their souls, their lives and every relationship with every other human being in every circumstance depends on boogie music and the right comprehension and right application thereof. --- Canned Heat.


Devemos tornar a música boogie um fator essencial na vida de todos. Ao apresentar esta música para o mundo, devemos então explicar e justificar nossa posição na formulação de uma definição da música boogie e postulando seus princípios fundamentais de tal forma que todos possam compreender instantaneamente que suas almas, suas vidas e todo relacionamento com todo outro ser humano em qualquer circunstância depende da música boogie e da compreensão e aplicação corretas desta. --- Canned Heat.

2008/05/09


Dedetizado pelo sistema

Outro dia aprendi duas coisas, e vi uma similaridade, talvez devido apenas à simultaneidade.

Lendo sobre o julgamento de Sócrates, aprendi sobre seu papel de espora/mutuca da sociedade. Parece que a palavra grega tinha ambos sentidos... Mutuca é certamente mais engraçado, e interessante por permitir uma alegoria zoológica: Sócrates é o insetinho inconveniente, pinicando o cavalo ou boi da sociedade. O texto abaixo, da Apologia de Platão (seção 30e?) é que traz esta imagem, e explica a função, senão missão que Sócrates clamava ter.

Pois se vocês me matarem, você não vão facilmente encontrar outro cidadão como eu, ligado a esta cidade -- a comparação pode parecer ridícula -- como a um cavalo poderoso e gentil, um pouco desajeitado devido a seu próprio tamanho, e precisando ser incitado pelo ferrão de uma mutuca; assim me parece ter a divindade me unido, sendo eu assim como sou, a esta cidade, para que eu possa instigar vocês, e persuadir e reprovar cada um de vocês, sem lhes dar sossego em momento ou lugar algum.

(tradução colada de pedaços de outras línguas)

Ao mesmo tempo, ando ouvindo com certa freqüência a Nirvana, principalmente o primeiro disco, Bleach. Pra quem não conhece (botei até link pra wikipédia, este é um post dedicado às novas gerações!), o Kurt Cobain fazia umas letras muito malucas. Na música Negative Creep, ele diz:

This is out of our range (x3)
and grown
This is getting to be (x3)
drone!
I'm a negative creep (x3)
and I'm stoned!
I'm a negative creep (x3)
and Iiiaaaarrrgh! (2x)

Não sei se jamais vou descobrir o que podem significar cada palavra e verso das músicas do Kurt, muito menos se ele queria dizer algo específico nelas. Mas uma coisa podemos saber com certeza: a palavra drone significa, entre outras coisas, um "zangão"!...

O zangão, todos devem saber, é o macho da abelha. Ele não tem ferrão, não faz mel, não constrói nada, não fabrica nada, só passa o dia comendo e dormindo, e eventualmente acasalando com a abelha-rainha.

Não consegui descobrir nenhum uso da palavra como alguma gíria bizarra, parece apenas que é frequentemente utilizado pra especificar um "parasita", uma pessoa numa sociedade que só fica rondando por ali, sem fazer nada de útil, sugando recursos, e eventualmente modificando irreversivelmente o status de meninice de outros indivíduos fêmeas.

Será que podemos atribuir ao Kurt esse papel? Talvez essa música fale sobre isso, ele está talvez falando sobre estar ligado à sua cidade desta forma atribuída por uma divindade.

Estas duas visões destes dois grandes heróis como insetos inconvenientes me lembrou imediatamente da idéia de autopoiese, de Maturana e Varela. É um assunto meio complicado, mas é basicamente um sistema que se encontra num estado tal que ele é capaz de replicar esta própria organização em que ele se encontra para tal.

O conceito começou pra ajudar a pensar sobre sistemas biológicos, mas foi facilmente reaproveitado em diversos outros contextos. Um dos livros que os dois escreveram sobre o assunto foi bem na época que tavam rolando uns movimentos socialistas no Chile (época do Allende), teve uma tal invasão numa universidade lá, em que mudaram altas estruturas de poder. Nesse livro o Maturana escreve umas considerações que ele não pôde ser furtar de fazer, sobre transformações sociais e autopoiese... uma coisa que ele escreve é sobre indivíduos que se desligam da sociedade, no processo de causar uma revolução, e ele fala sobre como este indivíduo elimina suas dependências da sociedade, ea sociedade dele (desligam-se as tais autopoieses lá um do outro).

São insetos inconvenientes, saindo do enxame para espetar o mesmo, agora transformado em massa contínua e disforme do lado de fora.

***
Consegui ainda ver o inseto contestador da sociedade agora numa música do CCR, a segunda do segundo disco: Bootleg, Bayou Country. Provavelmente a música mais nasty do mundo, porque faz uma análise fria da psique humana, insinuando haver algo de inerentemente prazeroso em se violar leis, e ainda que seguindo-as, às vezes até se perde a graça.

Chorus:
Bootleg, bootleg;
Bootleg, howl.
Bootleg, bootleg;
Bootleg, howl.

Take you a glass of water
Make it against the law.
See how good the water tastes
When you can’t have any at all.

Chorus

Findin’ a natural woman,
Like honey to a bee.
But you don’t buzz the flower.
When you know the honey’s free.

Chorus

Suzy maybe give you some cherry pie,
But lord, that ain’t no fun.
Better you grab it when she ain’t lookin’
’cause you know you’d rather have it on the run.

Chorus

Pegue um copo d'água
Torne-o contra a lei.
Veja como fica bom o gosto
quando você não pode ter nem uma gota.


A estrofe de interesse é obviamente apenas a segunda, cuja tradução já se torna impeditivamente ridícula. Mas tem tudo a ver com a geração web 2.0, pq fala em BUZZZZ!...

2008/05/01


Navegação orientada por marcos

A vida é um caos mutante insondável. Tudo é contingente, e as vicissitudes são infindáveis.

A existência física é ainda uma eterna viagem no tempo. Estamos a todo momento efetivamente viajando no tempo, para o futuro. Uma inexorável viagem por um único trajeto e para um único destino, durante a qual continuamente nos perguntamos: "e se tivéssemos virado à esquerda ali atrás?", e "será que essa rua é sem saída?".

Quando morreu o Arthur Clarke senti algo que jamais havia antes, mas aquele poema do Kipling, que ele sabiamente citou e eu fiz questão de traduzir, me ajudou a passar por isso. Me fez ver melhor que às vezes a gente dá mais valor pro que a gente não tem, especulando sobre coisas que pessoas falecidas poderiam ter feito, do que apreciando o que elas fizeram, o que deixaram.

Nietzche, por exemplo, morreu antes de desenvolver direito o conceito de "eterno retorno", do qual eu tenho uma certa interpretação pessoal... Envolve um pouco uma idéia de que as coisas vão mudando, mas tem coisas que vão ser sempre as mesmas, tipo, a história vai se repetir fatalmente. Eu vejo não como uma repetição determinística, inambígua, absoluta e simplória, mas apenas como uma repetição num sistema caótico, que está fadado a se repetir simplesmente porque o número de alternativas é limitado...

Mas o lance é que existem sim coisas que não mudam, além dessas daí. São justamente livros antigos, como os que Nietzche deixou até 1900, e os que Clarke deixou até 2008... E são músicas, quadros, esculturas, e podcasts e seriados de TV.

...No LOST está rolando um lance duma tecnologia lá que permite viajar no tempo, pra isso você precisa ter uma tal "constante", uma coisa que você precisa entrar em contado nos diferentes pontos do espaço-tempo, senão você ENLOUQUECE...

(atenção metaforofóbicos: contem metafolanina)
Só neste momento é que comecei a ver nisso uma bela metáfora da nossa própria viagem no tempo involuntária e unidirecional... Sem umas constantes você fica louco.

Você pode estar num lugar, ir pra outro, ser uma coisa e virar outra. Sofrer todas metamorfoses físicas e mentais, mas o sutil vibrato e batimentos daquele arpeggio levemente distorcido de Born on the Bayou, do Creedence Clearwater Revival, capturado em suas maravilhosas gravações, vai ser sempre o mesmo. Vai tar lá igualzinho, mesmo depois que a sua vida tiver se transformado completamente. Aquele timbre indescritível estará sempre lá pra te embasbacar de novo... (E agora com a pirataria em larga escala pela Internet, com mais certeza ainda.)

Talvez seja sorte a nossa que as melhores coisas da vida (CCR facilmente entre as 10 primeiras) sejam imutáveis. Talvez seja o contrário, a gente gosta delas porque não é trouxa, e escolhe coisas que não se podem perder facilmente... Mas eu acho que não, é sorte mesmo. E sorte que freqüentemente desprezamos, tendo às vezes a ilusão de que estas coisas seriam meros luxos passageiros desprezíveis, e que importante mesmo seriam títulos nobiliárquicos, contratos, promessas, compromissos e outras atrocidades antrópicas.

Da próxima vez que você encontrar um engenheiro eletricista, dê um abraço nele, e agradeça-o entusiasticamente por ter desenvolvido estas técnicas capazes de imortalizar aqueles preciosos sinais produzidos 39 anos atrás, e permitindo-os ainda hoje transformar o planeta todo num infinito, eterno, constante e imutável bayou dionisíaco.

(Um "báyaco"? Bayou cannal??)

Num mundo caótico incerto e desconhecido, nada melhor do que poder dar de novo um repeat numa seqüência de números inteiros. Revisitar um bom sistema determinístico, linear e invariante no tempo...

2006/09/02


Etimologia do título deste blogante

Ontem escrevi uma carta praquela filósofa gente-fina do saia-justa. Ela deu uma entrevista no Jô Soares... Pra inventar um nome pra esse blog de teste aqui, comecei obviamente da palavra filosofia, inspirado.

Segundo a Wikipedia...

The term philosophy comes from the Greek word Φιλοσοφία (philo-sophia), which means "love of wisdom" to love wisdom or less commonly "friend of wisdom".

Agora, toooodo mundo tb sabe que...

Grok (IPA /gɹɑk/, rhymes with rock) is a verb that connotes knowledge greater than that which can be sensed by an outside observer. It is an understanding beyond empathy and intimacy. In grokking, one experiences the literal capabilities and frame of reference of the subject.

Robert A. Heinlein originally coined the term as part of a fictional Martian language in his 1961 novel Stranger in a Strange Land, where it literally means "drink" and figuratively refers to the merging of essence that encompasses the theme of the book. The term has become part of the English language, attested in dictionaries and used most by certain counterculture groups and in hacker culture.


E aí, não era obrigatório que um dia alguém fizesse essa piadinha-séria? :)