2008/03/01


Decepção arabica

Sou usuário de café, (coffea arabica segundo Linnaeus), e isso não é segredo pra ninguém. Consumo-o compulsivamente, quase convulsivamente. Sempre que viajo para algum lugar, ou me mudo, ou mesmo visito qualquer lugar desconhecido, busco descobrir um bom lugar para consumir esta adorada substância estimulante ritual legalizada. Minha rotina sempre envolve tomar um ou dois cafezinhos em dois ou três lugares diferentes ao longo do dia.

São Paulo é sempre proclamada por seus habitantes e simpatizantes como uma “capital gastronômica” do país, e um lugar onde “come-se muito bem”. Assim sendo, estou sempre desafiando os paulistanos, experimentando o cafezinho de todos estabelecimentos por que eu passo...

Hoje foi o dia de por à prova o famoso Maksoud Plaza. O tradicional hotel paulistano fica a um quarteirão da Avenida Paulista, e eu freqüentemente passo na porta quando visito a escola da minha namorada. (Passava quando ia no Stand Center, que está infelizmente interditado.) A passagem sempre era um desafio, um chamado... Hoje estávamos voltando do almoço e decidimos finalmente botar o bastião da hospitalidade e chiqueza paulistana à prova.

Tinha esperanças de gostar da experiência, já que o fundador é um inventivo engenheiro metido a filósofo como eu mesmo — não necessariamente possuidor das mesmas crenças.

Começou mal. Subimos pelo belo caminho até a entrada, eu ia vestindo uma camiseta vermelha-soviética, e carregando meu notebook de universitário descolado. Chegamos perto da porta giratória, e um dos carinhas de uniforme de Sgt. Pepper's que estava calmamente andando na entrada deu uma parada de lado, bem na minha frente, ficando no meu caminho!!... Coincidência? Sem querer?... Sei.

Entramos então no belo saguão, que eu não conhecia. Achei bem interessante... Me lembrou o jeitão do mais recente برج العرب, (Burj al Arab). Ao que parece esse tipo de construção é um “átrio gigante”, queria saber agora se é algo comum em hotéis chics.

Entramos no restaurante à esquerda da entrada, e fomos servidos: dois espressi. O preço exorbitante do produto é de R$5,00 cada. Não vem nem com uma agüinha mineral, nem mesmo um biscoitinho ou uma mentinha que seja. Deveras abusivo.

Na saída não havia garçom ou qualquer funcionário que pudéssemos chamar para ao menos avisar que o dinheiro estava em cima da mesa. Nem pude avisar também que uma das clientes anteriores havia deixando um óculos de X-centos reais sobre a cadeira...

O café nem tava ruim não. Era bem bom. Mas ao todo foi longe da “complete coffee experience”.


Dizem que muitos ricos não ficam ricos à toa. O negócio é não dar nada de graça, vender caro, aproveitar todas oportunidades à exaustão, e ser daquelas pessoas que “são assim, ó” (com o punho fechado). Vai ver que eu estava ali apenas presenciando a epítome disso.

Tem lugar aqui em São Paulo que anuncia em alto e bom som que é um “ambiente exclusivo”, um lugar “super-exclusivo”, elogiando. Tipo... o que isso quer dizer afinal? Eu tou com essa teoria de que significa: “Um lugar caro pra burro, onde pobre não dá conta de ir.” Por exemplo, um lugar onde se paga C$5 (cinco ‘conto’) com um cafezinho que não tem nada de mais, pode não ser um bom café, mas é certamente um lugar excludente. Digo, exclusivo!... Eu mesmo buscarei pra sempre me excluir de entrar lá de novo (apesar de que agora quero conhecer as famosas portas projetadas pelo dono.) É só pra quem quer, e também pode...

1 comment:

nf said...

Também sou dependente da maravilhosa C8H10N4O2! Mas prefiro tomar o meu homemade cappuccino do que pagar R$ 8,00 por aquela água barrenta que servem no Pátio Savassi... `:^P

Também sou fissurado no frapê de cappuccino do Habbib's...

Me recomendaria algum outro café por aqui?