2008/02/06


Análise de forma e conteúdo de um debate vexativo

Andei debatendo com uma pessoa anônima a respeito do problema do vex. A pessoa tentou me explicar porque que o vex "precisa" ser daquela forma, e porque meu desejo em ter acesso "livre" a wi-fi seria algo inconcebível.

Meu debatedor, entretanto, pareceu não entender meu desejo. Eu só quero acesso da mesma forma que obtive no meu último mês de estadia em BH. Lá eu pude acessar a Internet através do Café com Letras, Café Vitrola, Quinta Avenida e Pátio Savassi... São no mínimo quatro pontos "quentes" da cidade oferecendo "hot-spots" livres. Porque em São Paulo isso é algo tão estranho, marginalizado pela hegemonia do vex?

(Como podemos ver no post anterior, entretanto, São Paulo parece ter sim alguns pontos de acesso livre. Seriam os cafés Suplicy, além da pça de alimentação do center 3... vou testar algum dia.)

Eu estou falando em acesso "livre" pelo mesmo motivo que o RMS sempre insiste em não chamar software livre de gratuito. É claro que tem algum custo. No mínimo, o custo do consumo de energia do roteadores, o custo da instalação e manutenção, e o custo do "provedor" de banda larga...

Só que ao meu ver, do jeito que eles anunciam tudo, o vex seria uma empresa realizando um serviço "gratuito", que eu imaginava ser pago pelos donos de cada estabelecimento da mesma forma que estes mesmos também pagam por tudo no caso dos hot-spots livres, e o acesso do provedor seria enfim algo pago por cada usuário.

Eu tentei conversar com esta pessoa colocando as coisas desta forma, e sua reação foi sempre

O vex não pode trabalhar de graça, as coisas tem um custo disso disso e aquilo


Tem várias coisas ocultas sob essa insistência em dizer que é preciso haver cobrança dos usuários...


  • Em primeiro lugar, preciso dizer que é claro que não quero que ninguém trabalhe de graça! E como engenheiro eletricista eu quero mais é que funcionários desta empresa recebam muito bem. Minha crítica é sobre essa forma de cobrança dos usuários que é extremamente burocrática, e de certa forma até elitista, porque dificulta o acesso de pessoas que não possuem telefone fixo, TV a cabo e outras benesses da classe média.

    Isso de sugerir que eu queria que eles trabalhassem de graça é na verdade uma técnica de debate infantil pra fugir da convers, de distorcer completamente o que eu estava dizendo fazendo parecer que eu defendia alguma idéia absurda. Como você conversa com uma pessoa que faz isso?..

  • Agora, sinceramente: que grande custo é esse que eles tem? Se existe uma característica marcante na tecnologia sem fio é o barateamento da instalação e manutenção. A pessoa me falou uma hora que "precisa ir um técnico lá, passar o fio". Falou muito bem: "O" fio!! Antigamente tinha q fazer cabeamentos absurdamente trabalhosos, tanto de rede quanto de energia. Hoje é só botar o AP lá e pronto. E um AP relativamente moderno não consome mais do que 20W. Menos do que uma lâmpada PL.

    Vamos falar e comparar os tais custos de manutenção e isntalação: Uma coisa que me espanta é o McDonalds. Eles se esforçaram muito nos anos passados pra colocar aqueles quiosques em seus estabelecimentos, com máquinas desktop ligadas por fio e dando acesso livre à Internet. Só pedem pras pessoas fazerem um cadastro. Como pode ser aceitável que esse mesmo estabelecimento que financiou tanto trabalho pra dar Internet livre agora se conforme em oferecer um acesso sem-fio que obriga os usuários a saírem contratando provedores previamente?? Era pra ter só facilitado a coisa pra eles: O acesso sem-fio gasta menos do que o que eles já fazem hoje, é mais fácil de administrar e nem requer a disponibilização de máquinas. Porque diabos eles deram um passo atrás no último componente, que é o efetivo acesso "banda-larga" à rede mundial de computadores?...

  • Quanto a essa banda larga, eles tb insistem muito em falar sobre como ela é larguíssima, e o acesso tem uma qualidade excepcional, e isso tem seu custo. Chega dessa ladainha, vai. Eu quero um acesso mais-ou-menos, só pra ler e-mail... Não preciso fazer download de 700MB a 50KB/s no Starbucks.

  • O vex está empregando uma técnica de debate empresarial moderna que eu chamo de "dividir-se para conquistar". É quando, por exemplo, a microsoft a HP e a FNAC se unem pra ficar jogando a culpa das coisas de uma pra outra. Ninguém sabe pra quem você deve recorrer pra falar sobre a licença de Windows que já vem instalada na sua máquina.

    Eles, na hora de fornecer o serviço, falam super claramente que se tratam de três partes, o estabelecimento, a vex, e os "provedores". O pagamento seria apenas lá pro provedor. Mas na hora da discussão eles dizem que "nós" não podemos trabalhar de graça. Mas como assim? Achava que o serviço da vex não fosse cobrado, que o "provedor" fosse uma outra história... Inclusive, eu já fui em vários lugares, liguei meu computador, e vi a janela de login deles. Ao meu ver, o serviço deles de oferecer um AP está funcinando, e foi grátis. Porque eles falam como se eles fossem receber algo por esse meu pagamento ao provedor!?!?!


A conclusão a que estou chegando é a seguinte: fui vítima de uma ilusão que a vex seria um "intermediário" independente oferecendo acesso... Eu até achava que os estabelecimentos pagavam a vex pra instalar a aprada (pensando ser parecido com o que ocorre em BH, por exemplo), mas agora tou começando é a suspeitar que as empresas não pagam não, e se bobear tão até RECEBENDO pra deixar o vex tomar conta da área deles.

O que deve rolar é que a vex é controlada por um cartel de provedores de Internet (se é que não é mesmo só uma empresinha "de fachada", fantasminha). A esse cartel interessa que só exista acesso pago, e caro, e por isso jamais veremos a vex permitir o uso de algum provedor muito barato.

Eles falam que "não podemos trabalhar de graça"... O que eles não podem é quebrar o acordão do cartel monopolizador!!... Quando a vex fala que tem que ser pago, estamos na verdade ouvindo a voz dessas empresonas, tipo a Oi e a Embratel, que estão querendo fechar a torneirinha da Internet. Eles não cobram o quanto custa, eles cobram o quanto vale. Cobram o quanto as pessoas agüentam pagar, o quanto essa elite de ricos paulistanos se dispõe a pagar, pra depois ficarem lá com seus aipod-tutch falando assim: "ai, é caro mas eu acho que vale super a pena viu, é super cômodo".

***

Agora, pra fechar, só queria lembrar que existem não só pequenas empresas que dão acesso wi-fi livre, como existem sim pessoas que "trabalham de graça" fazendo isso. Um caso famoso e peculiar é a magicbike. E eles falam como se fosse algo absurdo e inconcebível, um paradoxo... Não é não, cara...

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