Sim, este é um post sobre guindastes. Já pararam pra admirar essa maravilha do universo?
As taças na frente, os colchetes atrás, as alças... Como eles conseguem? Opa! Não, isso é o soutien!
Eu imagino a primeira pessoa que quis fazer um guindaste... Provavelmente foi alguém que já tinha experiência em amarrar roldanas no teto pra erguer coisas. Precisou um dia levantar uma pedra, uma viga em céu aberto, e pensou, "puxa, pena que não tem um teto aqui." E montou um teto portátil só pra amarrar uma roldana. Pronto, um guindaste!
Guindastes, ou gruas, já são utilizados desde os idos de muito antigamente, em construções, portos, et cetera. Hoje estão aí mais ou menos nos mesmos lugares, completamente estabelecidos, mas sempre se atualizando com a tecnologia contemporânea.
Estou escrevendo porque moro exatamente ao lado da obra da futura estação de metrô Butantã, que estão fazendo aqui em São Paulo. Volto pra casa todo dia pela Av. Vital Brasil, e estou acompanhando a obra. Outro dia passei, e o guindaste estava em operação. Um guindaste grande, montando a uma altura relativamente baixa, que lá do meio da obra alcança até o outro lado da avenida, e tava girando o enorme braço metálico em minha direção...
Engraçado como é raro olhar pra uma obra e realmente ver o guindaste funcionando. Em geral eles tão sempre só paradões lá. Parecem uma parte da obra, estática, só mais uma peça daquelas estruturas metálicas que eles colocam em volta, com plataformas de madeira enroladas em uma redinha de plástico verde. Mas dessa vez eu peguei o bicho vivo, movendo-se como um gigante colocando a mesa pro café-da-manhã.
Se voce nunca viu um guindaste, um bom guindaste desses de obra, de prédios e obras enormes, eu digo: são amarelos, tem uma torre vertical, uma cabininha onde fica o moço que controla, e a haste superior, com um ganchinho pendurado. Você fala no rádio pro cara "Fulano, pega pra mim esse piano em cima desse caminhão, e bota ali dentro daquele navio." Pronto, o cara vai lá, pega, e coloca. Igual o garçom pega um cinzeiro pra colocar numa mesa. Como eles conseguem??
Gente, que piano o que... Onde eu tou com e cabeça? "Fulano, pega pra mim esse navio dentro dessa fábrica, e joga ele ali pra mim no meio do Oceano Atlântico, por favor. Isso. Isso... Obrigado." Muito prestativo, o tal Fulano. Esta é a vida de um operador de um bom guindaste!
Você precisa levar um monte de tijolos 20 andares pra cima? Um monte mesmo, literalmente, empilhados desajeitadamente em um formato cônico. Pra que escada, ou elevador? Elevador é um bicho estranho, aquela caixa no meio de um canudo quadrado, tem uma portinha que abre-e-fecha --- às vezes pantográfica, tem que furar a parede em intervalos regulares, a cada andar, pra poder passar. Tem que conferir se o mesmo se encontra mesmo lá antes de entrar, se ele não te deixou na mão. E é aquela coisa meio mágica, né: você entra lá, e de repente "plim! quarto andar..." Isso sem contar as forças físicas contra-intuitivas que atuam lá dentro, que tornam o elevador um mistério freqüentemente investigado em aulas do segundo grau. Pra quê isso tudo??? Quer levar os tijolos? Você vai lá com o guindaste, e iça eles pra onde você quiser, como se fosse um peixe. Puxa igual uma coleira, ou uma sacolinha. Elevador? Porta pantográfica?!? Quá-quá-quá!! Sai dessa!
Se eu fosse engenheiro civil, ia querer ser aquele cara que olha pro projeto da obra e fala: "Ah, pode deixar, é só a gente botar um guindaste aqui, e pronto." Deve ser uma sensação muito boa, precisar de um guindaste.
"Alô Central? Manda um guindaste aqui pro 3546228. Isso. Isso... Obrigado." Pronto! É o fim de seus problemas. Quando o monstro chegar ele vai fazer todas aquelas coisas que vocês, formigas inúteis, ficam fazendo corpo mole, ficam matutando, bolando. Ficam pensando, "ai, vou levar 4 tijolos de cada vez... Vou levar primeiro um tanto, depois o resto... Vou fazer x viagens. Vou carregar duas sacolas, vou pegar um carrinho-de-mão". Não, não, deixa aí!... Ninguém vai subir. Larga aí no chão, amarra uma cordinha, que o guindaste pega!... Olha que bom!
Tem prédio que tem carrinho de supermercado, pra levar as comprinhas do bagageiro do carro até sua cozinha. Que pensamento pequeno... Bota logo um guindaste! Olha só que prático, gente! Enfia as sacolinhas do Carrefour lá no gancho, e pronto, leva pra lá. Quanta confusão levar aquele monte de coisinhas pra todo lado. Quantas vezes já desci de elevador carregando amplificador, guitarra, computador, mala, mochila. Só precisava de um guindaste, e pronto. Na próxima reunião de condomínio vou me pronunciar: "Dona Otaísa, precisamos mesmo é de instalar uma grua lá no décimo-segundo!..."
***
Essa magia do verbo içar me chamou a atenção uma vez que um amigo meu da escola de engenharia, o Fernando Missagia, me contou sobre um barzinho que tem no Mercado Central (o de BH, óbvio) onde o sujeito aparentemente possui uma espécie de grua doméstica, e quando você pede uma cerveja ele simplesmente iça ela até a sua mesa. Olha que beleza!... Além de resolver todo o problema logístico, evita até de gelar a mão do garção com a garrava de "loira gelada". Içar coisas é sempre muito legal. Objetos dependurados "por um fio" são sempre muito interessantes, como pontes estaiadas, também, antenas AM de 100 metros... Olha que legal essa antena:
Grandes porcarias a Torre Eiffel, a Torre de Pisa. A mais alta estrutura do mundo era uma antena de baixas freqüências da Rádio Varsóvia, na Polônia. Tinha quase 650 metros, mas sofreu um acidente e desmoronou em 1991. Perdeu o título para uma antena similar no Estazunís, na Dakota do Norte (nas redondezas de Fargo). Quase desnecessário dizer, são todas estaiadas. O tamanho descomunal é necessário para se transmitir em uma faixa de freqüências peculiar, que atinge distâncias odisséicas, longínquos recônditos remotos.
É até engraçado pensar nessas antenas de baixa freqüência transmitindo em 200kHz, literalmente "em sintonia" com a curvatura do planeta Terra (as big as she's round), e nós aqui com essas porcarias de telefoninhos celulares de 2GHz que não funcionam direito, e inclusive não conseguem receber sinal dentro de quem?... Elevadores, claro!...
Pense nisso: Uma pessoa dentro de um elevador não-conseguindo falar através de um celularzinho daqueles que se sentar em cima fica curvado igual cartão velho de plástico dentro da sua carteira, no bolso da sua bunda. Agora pense numa pessoa pendurada no gancho de um guindaste falando num daqueles walkie-talkies que tem uma antena enorme, meio molenga, usando um capacete amarelo. Quem é mais legal?
Como é bom saber ver a beleza de um bom guindaste, ponte, antena, linha de transmissão...
Pense nisso da próxima vez que você estiver utilizando algum veículo (de preferência um ônibus, ou caminhão), e cruzar o Rio Pinheiros através do notório Estilingão.
(olha o guindaste lá em cima!)
*
*
*
*
*
*
2008/06/06
Guindastes
2008/05/08
A boca para estas orelhas
Sempre ouço me dizerem que tudo que escrevo é muito comprido e chato. Eu sei, eu sei... É que nem sempre tenho tempo de fazê-lo mais curto (vocês devem reconhecer que roubei isto da Carta Provençal número XVI de Pascal
Je n'ai fait celle-ci plus longue que parceque je n'ai pas eu le loisir de la faire plus courte
). Também é meio de propósito, porque acredito que blogs tem que ser sim meio "diários". É a parte da invasão de privacidade, importante elemento dos meios de comunicação internéticos (o que pode sim ser evitado, mas por algum motivo louco se tornou algo importante, e eu sigo a onda).
Não tenho intenção de escrever um jornal popular, tanto porque não é a estética que estou buscando, quando porque dá mais trabalho mesmo. Quero que meus textos sejam um pouco como aqueles cadernos de malucos de filmes, tipo o matemático do Proof, e o mocinho do Se7en. De mais a mais, meus temas dificilmente atraem espectadores, não sei quanto a qualidade dos textos modificaria isso... Me daria até mais pena ver textos mais caprichados sendo igualmente ignorados.
De qualquer forma, tantas são as sugestões que estou querendo aceitar o desafio de tentar escrever algo que possa ser lido pela "geração vídeo-clipe". Duvido que faça qualquer diferença na minha vida ou na de outras pessoas, mas vou começar a fazer uns artigos curtos com coisas interessantes sobre as quais até gostaria de escrever prolongadamente, mas não vou. Vou tentar manter um tag com algum nome criativo que ainda não criei. O resultado, aposto, é que ninguém vai entender cossa nenhuma, e vai jogar o produto literário no lixo com mais facilidade, devido à massa diminuta.
***
O que me dá raiva é que muito se fala das novas gerações se entregarem apenas a coisas curtas e superficiais, se comunicarem apenas por curtas mensagens SMS muito pouco elaboradas, ver filmes curtos e ler livros com figuras. Eu tou tentando justamente cultivar um hábito de escrever coisas maiores, mostrando que pode haver literatura "comprida" (não necessariamente profunda) na Internet. Quero contrariar todos que dizem "ah, blogs são uma porcaria, o fim dos tempos. Olha só, são apenas textos curtinhos". O meu não. E não é contrariando de birra não, eu escrevo prolongadamente é porque me dá uma vontade sincera. Eu escrevo pra "tirar de dentro de mim" o conteúdo, e me incomoda se eu não o faço. Mas é claro que se isto incomoda meus vizinhos eu tenho que repensar o hábito.
A vontade de contrariar a estética da "geração vídeo-clipe" tem ainda a ver com minha admiração por coisas do passado... Tem um punhado de escritores dos séculos XVI (olha o xvi aí de novo, ele me persegue) pra frente de quem eu gosto muito, e eu tento fingir que fui "influenciado" por eles.
Eu gosto tanto disso que outro dia estava numa conversa com uma persona non-identificatta, e me perguntaram se eu havia lido algum certo livro moderno, da moda, e eu respondi: Nem... Não leio esses livros modernos assim não, eu sou hum homem do século dezenove... (eu tinha acabado de falar sobre meu gosto por Dostoievski e Nietzsche)
Aí a pessoa, mais jovem, me fala: Nossa, como assim? Eu sou lá do século trinta.
Porra, como alguém tem coragem de falar algo assim pro aquariano de plantão aqui? Tenha dó. Desde então, quando eu falo comigo mesmo, eu me referencio à pessoa como "o Buck Rogers", o homem do século XXV. É bem coisa de jovens delargeanos mesmo, dispensar o passado como algo fútil, ultrapassado, inútil, infértil, estéril. O futuro não, é maravilhoso, industrial, pra-frentex, com sociedades reformadas de acordo com princípios lógicos irrefutáveis... E a guerra é a higiene do mundo, etc. (justiça seja feita, jovens delargeanos de fato, e mais maduros, aprendem a apreciar seus iguais no passado e no futuro)
Vamos ver se consigo me tornar uma boca para estas orelhas!...
***
Als Zarathustra diese Worte gesprochen hatte, sahe er wieder das Volk
an und schwieg. "Da stehen sie", sprach er zu seinem Herzen, "da
lachen sie: sie verstehen mich nicht, ich bin nicht der Mund für diese
Ohren.
Muss man ihnen erst die Ohren zerschlagen, dass sie lernen, mit den
Augen hören. Muss man rasseln gleich Pauken und Busspredigern? Oder
glauben sie nur dem Stammelnden?
Quando Zaratustra pronunciou estas palavras, olhou para o povo novamente, e calou-se. “Ali eles permanecem — lhe disse seu coração. — ficam ali rindo: eles não me compreendem; Eu não sou a boca para estas orelhas.
É preciso que alguém primeiro esmague estas orelhas, para que aprendam a ouvir com os olhos? É preciso atroar à maneira de timbales ou de pregadores de Quaresma? Ou só acreditarão nos entarameladores?
(mais ou menos minha tradução, roubando coisas de uns, e colocando umas palavras engraçadas)
2007/08/03
Dualidade nua e crua
Estou me interessando por estudar o efeito “modelo e atriz”, a forma como as pessoas se relacionam com mulheres bonitas que trabalham explorando isso, posando nuas em revista et cætera. Como a sociedade lida com as “peladas do momento”.
Outro dia na CBN o apresentador criticou veementemente a mãe da filha do Renan lá, por estar considerando aceitar posar nua... “Nada contra” ele disse, claro, mas falou assim “aí que a gente vê como tem gente oportunista nesse país.”
Hoje eu tava lembrando da Tiazinha... Toda a dificuldade que era as incessantes entrevistas em que ela tinha que dizer “mas eu não sou só um corpinho bonito, eu faço balé, estudo psicologia...” Era o tempo todo essa chateação, as pessoas insistindo para que ela não fosse simplesmente uma encarnação de sonhos eróticos, que fosse algo muito superior ao personagem.
É a necessidade de falar que é “modelo e atriz”. A sensação de que seria preciso aliar uma dignidade complementar ao emprego de ser gostosa.
Acho que o que ocorre é que as pessoas projetam a sua culpa em sentir desejo sexual na própria figura desejada. Criam uma relação de amor e ódio, onde há uma relação de ódio declarado e contemplação disfarçada. Quem se masturba pela tiazinha entre quatro paredes, quando em sociedade a coloca na fogueira. No final só fica ela aparecendo na TV sendo bonita, o que não precisa ser dito, e tendo que explicar-se, dar satisfações. Fica sendo bonita, mas dizendo que é uma pessoa complexa, e não um simples objeto de desejo.
Agora, eu estava ainda pensando em outra coisa interessante e relacionada... Em Roliúde dizem que está surgindo meio que um costume assim: se uma atriz bonita faz papel de feia, ganha Oscar, como teria ocorrido com a gatíssima Charlize Theron no Monster, e com a Nicole Kidman no The Hours. (A Nicole eu nem sei qq tinha de tão horrorosa assim, eu pegava fácil (naquela época) )
Agora, e as outras combinações???... Atriz feia ganha Oscar quando??... Porque atrizes bonitas fazerem papel de feias é tão admirável? Porque uma atriz feia fazer um papel de personagem feia não é admirável??... O que importa não é a qualidade do filme que assistimos? O que vemos?
Bom, aí vão falar, “mas é o ‘esforço’... É toda a produção que rolou em cima.” E se uma atriz feia fizer um papel de bonita, ganharia Oscar?
E bonita fazendo papel de bonita?... Bom aí tb é só a obrigação.
No final o que se valoriza é isso, é a mulher ser gostosona, mas dar uma desculpa moral pra você poder gostar dela. Um motivo “nobre”, daqueles motivos que os filmes moralistas ensinam que são condições necessárias e suficientes para você se apaixonar de verdade por uma mulher.
E as coitadas lá ficam entre a cruz e a espada. (essa é forte hein)