2008/06/06


Guindastes



Sim, este é um post sobre guindastes. Já pararam pra admirar essa maravilha do universo?

As taças na frente, os colchetes atrás, as alças... Como eles conseguem? Opa! Não, isso é o soutien!

Eu imagino a primeira pessoa que quis fazer um guindaste... Provavelmente foi alguém que já tinha experiência em amarrar roldanas no teto pra erguer coisas. Precisou um dia levantar uma pedra, uma viga em céu aberto, e pensou, "puxa, pena que não tem um teto aqui." E montou um teto portátil só pra amarrar uma roldana. Pronto, um guindaste!

Guindastes, ou gruas, já são utilizados desde os idos de muito antigamente, em construções, portos, et cetera. Hoje estão aí mais ou menos nos mesmos lugares, completamente estabelecidos, mas sempre se atualizando com a tecnologia contemporânea.

Estou escrevendo porque moro exatamente ao lado da obra da futura estação de metrô Butantã, que estão fazendo aqui em São Paulo. Volto pra casa todo dia pela Av. Vital Brasil, e estou acompanhando a obra. Outro dia passei, e o guindaste estava em operação. Um guindaste grande, montando a uma altura relativamente baixa, que lá do meio da obra alcança até o outro lado da avenida, e tava girando o enorme braço metálico em minha direção...

Engraçado como é raro olhar pra uma obra e realmente ver o guindaste funcionando. Em geral eles tão sempre só paradões lá. Parecem uma parte da obra, estática, só mais uma peça daquelas estruturas metálicas que eles colocam em volta, com plataformas de madeira enroladas em uma redinha de plástico verde. Mas dessa vez eu peguei o bicho vivo, movendo-se como um gigante colocando a mesa pro café-da-manhã.


Se voce nunca viu um guindaste, um bom guindaste desses de obra, de prédios e obras enormes, eu digo: são amarelos, tem uma torre vertical, uma cabininha onde fica o moço que controla, e a haste superior, com um ganchinho pendurado. Você fala no rádio pro cara "Fulano, pega pra mim esse piano em cima desse caminhão, e bota ali dentro daquele navio." Pronto, o cara vai lá, pega, e coloca. Igual o garçom pega um cinzeiro pra colocar numa mesa. Como eles conseguem??

Gente, que piano o que... Onde eu tou com e cabeça? "Fulano, pega pra mim esse navio dentro dessa fábrica, e joga ele ali pra mim no meio do Oceano Atlântico, por favor. Isso. Isso... Obrigado." Muito prestativo, o tal Fulano. Esta é a vida de um operador de um bom guindaste!

Você precisa levar um monte de tijolos 20 andares pra cima? Um monte mesmo, literalmente, empilhados desajeitadamente em um formato cônico. Pra que escada, ou elevador? Elevador é um bicho estranho, aquela caixa no meio de um canudo quadrado, tem uma portinha que abre-e-fecha --- às vezes pantográfica, tem que furar a parede em intervalos regulares, a cada andar, pra poder passar. Tem que conferir se o mesmo se encontra mesmo lá antes de entrar, se ele não te deixou na mão. E é aquela coisa meio mágica, né: você entra lá, e de repente "plim! quarto andar..." Isso sem contar as forças físicas contra-intuitivas que atuam lá dentro, que tornam o elevador um mistério freqüentemente investigado em aulas do segundo grau. Pra quê isso tudo??? Quer levar os tijolos? Você vai lá com o guindaste, e iça eles pra onde você quiser, como se fosse um peixe. Puxa igual uma coleira, ou uma sacolinha. Elevador? Porta pantográfica?!? Quá-quá-quá!! Sai dessa!

Se eu fosse engenheiro civil, ia querer ser aquele cara que olha pro projeto da obra e fala: "Ah, pode deixar, é só a gente botar um guindaste aqui, e pronto." Deve ser uma sensação muito boa, precisar de um guindaste.

"Alô Central? Manda um guindaste aqui pro 3546228. Isso. Isso... Obrigado." Pronto! É o fim de seus problemas. Quando o monstro chegar ele vai fazer todas aquelas coisas que vocês, formigas inúteis, ficam fazendo corpo mole, ficam matutando, bolando. Ficam pensando, "ai, vou levar 4 tijolos de cada vez... Vou levar primeiro um tanto, depois o resto... Vou fazer x viagens. Vou carregar duas sacolas, vou pegar um carrinho-de-mão". Não, não, deixa aí!... Ninguém vai subir. Larga aí no chão, amarra uma cordinha, que o guindaste pega!... Olha que bom!

Tem prédio que tem carrinho de supermercado, pra levar as comprinhas do bagageiro do carro até sua cozinha. Que pensamento pequeno... Bota logo um guindaste! Olha só que prático, gente! Enfia as sacolinhas do Carrefour lá no gancho, e pronto, leva pra lá. Quanta confusão levar aquele monte de coisinhas pra todo lado. Quantas vezes já desci de elevador carregando amplificador, guitarra, computador, mala, mochila. Só precisava de um guindaste, e pronto. Na próxima reunião de condomínio vou me pronunciar: "Dona Otaísa, precisamos mesmo é de instalar uma grua lá no décimo-segundo!..."

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Essa magia do verbo içar me chamou a atenção uma vez que um amigo meu da escola de engenharia, o Fernando Missagia, me contou sobre um barzinho que tem no Mercado Central (o de BH, óbvio) onde o sujeito aparentemente possui uma espécie de grua doméstica, e quando você pede uma cerveja ele simplesmente iça ela até a sua mesa. Olha que beleza!... Além de resolver todo o problema logístico, evita até de gelar a mão do garção com a garrava de "loira gelada". Içar coisas é sempre muito legal. Objetos dependurados "por um fio" são sempre muito interessantes, como pontes estaiadas, também, antenas AM de 100 metros... Olha que legal essa antena:




Grandes porcarias a Torre Eiffel, a Torre de Pisa. A mais alta estrutura do mundo era uma antena de baixas freqüências da Rádio Varsóvia, na Polônia. Tinha quase 650 metros, mas sofreu um acidente e desmoronou em 1991. Perdeu o título para uma antena similar no Estazunís, na Dakota do Norte (nas redondezas de Fargo). Quase desnecessário dizer, são todas estaiadas. O tamanho descomunal é necessário para se transmitir em uma faixa de freqüências peculiar, que atinge distâncias odisséicas, longínquos recônditos remotos.

É até engraçado pensar nessas antenas de baixa freqüência transmitindo em 200kHz, literalmente "em sintonia" com a curvatura do planeta Terra (as big as she's round), e nós aqui com essas porcarias de telefoninhos celulares de 2GHz que não funcionam direito, e inclusive não conseguem receber sinal dentro de quem?... Elevadores, claro!...

Pense nisso: Uma pessoa dentro de um elevador não-conseguindo falar através de um celularzinho daqueles que se sentar em cima fica curvado igual cartão velho de plástico dentro da sua carteira, no bolso da sua bunda. Agora pense numa pessoa pendurada no gancho de um guindaste falando num daqueles walkie-talkies que tem uma antena enorme, meio molenga, usando um capacete amarelo. Quem é mais legal?

Como é bom saber ver a beleza de um bom guindaste, ponte, antena, linha de transmissão...

Pense nisso da próxima vez que você estiver utilizando algum veículo (de preferência um ônibus, ou caminhão), e cruzar o Rio Pinheiros através do notório Estilingão.


(olha o guindaste lá em cima!)


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2 comments:

Nicolau said...

Na verdade outras duas coisas me fizeram escrever isso, além do meu verídico, poético e inspirador encontro com uma destas entidades ali na rua. No programa Off the Wall dessa semana, o Emmanuel Goldstein menciona um guindaste (a frikin' crane!!) que teria caído lá em NYC, algo que estaria acontecendo com uma freqüência meio preocupante por lá ultimamente. Mais ainda, a música que mandei a letra ali em baixo outro dia, Tobacco Road, fala:

I will bring dynamite
and I’ll bring me a crane
and I’ll blow it all up, tear it down,
start all over again

pirunga said...

Po nunca pensei em um guindaste dessa maneira tão poética! :)