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2008/11/21


caso de teste, uso de estudo

Esse post entra um pouco nas minhas indagações a respeito de como fazer certas traduções. Tem uma verbo no inglês muito bacana, 'exploit', que tem um som bonito, que passa uma impressão forte, é até nome de banda punk. Tenho me deparado muito com ela porque em aprendizagem de máquina a gente fala muito na dualidade "exploration / exploitation", e a gente gostaria, naturalmente, de traduzir este termo.

Dizem que em português já se institui "explotação". Até o digníssimo Sérgio Pachá da ABL me disse --- numa gentil resposta a uma extensa inquirição minha --- que tudo bem usar essa palavra, que inclusive integra o hino nacional do Timor Leste. Mas sei lá, não faz parte do repertório de palavras que usava quando era mais jovem, e sinto uma certa rejeição por ela.

Acho que em português é mais natural falar "exploração" nos dois casos mesmo... "Explorar uma mina", por exemplo, valeria igualmente para geólogos e espeleólogos, e pros engenheiros e mineiros. Não podemos usar essa palavra, entretanto, porque queremos justamente fazer uma distinção entre ambas atividades ao caracterizar a referida dualidade.

Uma palavra alternativa de que gosto muito é "espoliar". Ela preserva a agradável aliteração (explorar/espoliar), e dá uma descrição bem dramática. O verbo nos remete logo à palavra "espólio", uma riqueza obtida por meios até meio imorais... Acho que era perfeito, mas poucos concordam comigo.

Outra alternativa, que não tem muita beleza fonética, é "aproveitar". Acho que em mineração até utiliza-se muito o termo "aproveitamento" pra falar da produção de uma mina... "Aproveitar-se" é uma expressão bem-conhecida, e faz bastante sentido... Nossos sistemas vão "aproveitar-se" se seus conhecimentos e do ambiente pra atingir um objetivo. Mas ninguém gosta muito dessa alternativa porque perde lá a riminha, e a palavra não soa nada como "exploit"...

Hoje decidi que vou é chutar o pau da barraca. Não vou mais me submeter à tortura de tentar achar uma traduçãozinha perfeita pra riminha britânica, e vou é usar um par de palavras que me pareçam adequadas, pensadas ab ovo.

E minha conclusão é que deveríamos falar "teste/uso".

É tão mais simples!! Primeiro é bom por ser mais curtinho de escrever e falar, e dá até pra falar como uma palavra só: "O problema do testiuso..." Acaba com o horror que é você falar e ouvir o extenso "exploraçãoexploitação", e cometer um errinho fonético que faça cair por terra a edificação deste mamute ortográfico.

E é principalmente bom porque remove o romantismo. "Explorar" faz vc pensar num robô usando capacete de conquistador espanhol, pegando malária e desenhando mapas na Colômbia ou Peru. "Teste" transforma tudo num comportamento boçal e estúpido de um rato de laboratório drogado e com a massa cinzenta submetida à ablação. Ele não faz uma estimulante "exploração" de um espaço pra procurar obstáculos inconvenientes, e ver se o botão tem alguma "função" ou "papel" no ambiente. Ele só "testa" se ao andar pra frente ele não enfia a cabeça na parede, e se o botão faz a dor parar ou não.

"Uso" também tira essa coisa do colonizador, da moral, da "esperteza", do se-dar-bem. O cara tá só usando o negócio lá, e pronto. "Usando" a política obtida pelo processo de aprendizagem, ao invés da original. Usando um cotonete pra limpar o ouvido. Pronto.

Teste/uso. "O clássico dilema teste/uso da aprendizagem de máquinas". Pronto, falei, tá na Internet, tá na boca do povo já.

2008/02/20


Flagrante da gramática grave da paulistana

Acabei de ouvir uma paulista ali falando assim: “blablablablablablablbla... meu, isso é muito gravíssimo!...”

Enquanto eu já começava a esboçar um sorriso, ela falou mais baixo com seu interlocutor: “se bem que muito gravísssimo tá errado né... e tals”

Tipo, não sei do que eu acho mais graça: se da construção frasal inusitada que ela originou, ou se é dessa preocupação dos paulistas em ficar falando as coisa tudo certo. Eles morrem de medo de falar “igual pobre”, algo freqüentemente considerado uma “coisa horrível”...

Já pararam pra pensar na força dessas palavras que às vezes usamos tão displicentemente?... Coisa horrível... Que horror! Seria deveras muito gravíssimo demais mesmo, que eu diríeis-lhes-ia tal horror lovecraftiano.