Mais um testemunho comportamental do contínuo experimento antropológico que é o meu dia a dia.
Ouvi um grupo de estudantes hoje comentando sobre a produção de um certo trabalho em grupo. Um estudante jogou com a maior naturalidade no meio da conversa a frase: "vocês tavam trabalhando tipo tag né, meu?"
Os outros dois estudantes, obviamente, não faziam a menor idéia do que era esta palavra que o paulista utilizou com a maior naturalidade do mundo --- uma das formas de entretenimento favoritas por aqui, sair falando palavras estranhas com toda tranquilidade.
Mas o cara explicou: "É, tag. Tipo, um tá trabalhando, aí vem o outro, e o que tava sai, aí chega o outro..."
Eu não sei onde o cara viu isso, se foi no Slashdot, algum fórum de Ubuntu, vídeo no YouTube ou no Padrinhos Mágicos, mas pra mim é quase claro que ele não tinha idéia do que estava falando. Absorveu a palavra de maneira "sintática", de trás pra frente, quase como um dos papagaios que voam pelo Museu da Casa Brasileira na Av. Faria Lima, e começou a dotá-la de significado próprio, criando um neologismo anglicista aqui no português sem a menor necessidade. Considero inaceitável.
Eu acho que tenho idéia do que ele estava falando, mas jamais vamos poder saber com certeza. Minha hipótese é que o referido tag não passa da clássica brincadeira de pega-pega
Trabalhar tipo tag significaria que cada hora um é o pegador, até que você passa pro fulano, e a partir daí "está com o fulano"...
Então uma piada bacana, que faz todo o sentido, deixou de existir porque o seu mediador não quis fazer o menor esforço em tentar entender direito o negócio. Passou por sabido por usar palavras estrangeiras, mas na verdade é um bobalhão, que não entendeu uma piada interessante, não sabe identificar num certo discurso lido que se está falando de uma brincadeira absolutamente mundana, algo fácil de se traduzir para nossa língua e cultura.
E assim a gente vai despencando pela ribanceira do analfabetismo funcional.
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