O mundo, o universo, as pessoas, a sociedade, a natureza, são todos grandes foguetes desgovernados, empurrados por um potente e errático motor nuclear. Um pêndulo invertido que segue uma trajetória caótica, sem jamais cair. Mas a lentidão do processo todo é ilusória.
De central importância na natureza são processos de realimentação positivos. Os negativos também estão lá, são fáceis de estudar, úteis pras atividades mais corriqueiras de engenharia. Mas se houvessem apenas estes, tudo haveria de convergir para "small-crunches", em todos lugares e o tempo inteiro, e nada sairia mais do lugar. Um universo absolutamente "bem-comportado" entraria logo num estado de letargia completa.
Quando estudamos eletrônica aprendemos a fazer osciladores. A técnica é criar uma realimentação positiva, com uma ligeira não-linearidade que limita o crescimento. São essas realimentações positivas que dão origem a alguma coisa. Crescimentos biológicos, fusões nucleares, fissão nuclear em cadeia... Realimentações positivas onde alguma coisa "explode", sendo segurada apenas por alguma forma de não-linearidade. Apenas com estes mecanismos podemos ter revoluções sociais, evoluções de espécie...
É uma dobradinha vencedora, a realimentação positiva e a limitação não-linear.
Tava hoje tentando enxergar isso numa árvore decídua. Não conheço na verdade o processo de crescimento delas, mas dá pra imaginar algo como: mais folhas capturam mais energia e mais nutrientes, mais folhas crescem, até que uma hora as folhas começam a consumir demais alguma coisa, a árvore 'não dá mais conta", atingindo um certo limite de alguma coisa, e as plantas caem, voltando pra um estado onde dá pra elas nascerem de novo, e daí vai... E em ressonância com as estações do ano... Se não são osciladores são pelo menos filtros não-lineares...
As coisas existem, crescem e produzem interessantes estruturas porque são impulsionadas por alguma energia. São sempre essencialmente átomos/moléculas/células/agentes de um gás aquecido e sob pressão. E não-linearidades permitem que estas entidades grudem uma na outra, girem, se partam... Em todo estudo da ciência é fundamental conhecer quais são estas formas de interação entre os elementos. É daí que sai alguma coisa. São regras minimamente complexas em autômatas celulares que permitem a eles fazerem desenhos fascinantes. Regras muito simples só criam coisas que desaparecem rapidamente, ou que andam de forma muito elementar...
Átomos, moléculas, bolhas, células, pessoas, sociedades e países são todos bastante parecidos: bolhas fervendo numa panela, sendo criadas, crescendo e explodindo. É tudo um grande caldeirão de coisas estranhas grudando umas nas outras. Às vezes mais lento, às vezes mais rápido.
2008/05/16
Apologia às não-linearidades e realimentações positivas
Marcadores:
ciência no dia-a-dia,
não-linearidade
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