2007/11/29


Amazônia para os amazonenses

Tem gente por aí falando em "vender a Amazônia." Seria algo como o Brasil abrir mão da posse dessa terra, e entregar ela pra, sei lá, pra Guiana Francesa, ou pro Henry Ford, e aí receber um dinheirinho, e então riscar do nosso mapa aquela região.

Outros falam sobre ajudar os habitantes da Amazônia. Falam que as pessoas que lá habitam, os "ribeirinhos", e etc, o fazem "em nosso nome". Falam que eles estão fazendo um esforço de ocupar aquela terra como um favor para os brasileiros.
Iu
Oras. Ambas visões são absurdas. São idéias carregadas de imperialismo e colonialismo. São a epítome do imperialismo sudestino. (aliás, já reparou que nos jornais sempre se fala em nordestinos, sulistas, amazonenses... Nunca se fala em sudestinos? Porque não existe uma palavra que designa o povo do sudeste? Porque eles nunca são referenciados?... Porque eles não são uma peça no xadrez da etno-política Brasileira? Eu acho que é porque eles são imperialistas, são "o centro", e portanto não precisam ser referenciados como os povos marginais precisam.)

A Amazônia pertence ao povo da Amazônia, e não é "nossa" para a vendermos. O Lula não pode decidir vender a Amazônia com uma canetada, muito menos o José Serra ou talvez o Césa Maia. Eles não podem discutir uma possível venda da Amazônia. O congresso também não, e quer saber, nem o senado!... O que o Arthur Virgílio diria pro Collor em um debate sobre esse assunto? Ele o ameaçaria de dar um golpe de jiu-jitsu!!...

Se um dia a Amazônia resolver parar de integrar a Federação Brasileira, não exisitrá motivo para que haja alguma forma de ressarcimento deles aos estados que sobrarem no Brasil. Se um dia a República do Grão-Pará resolver se tornar idepentende, ou talvez se integrar à Bolívia --- devolvendo o Acre ao Evo Morales, que morre de saudades daquela terra mesmo sendo originário do extremo oeste daquele País, se um dia isso acontecer, não vai se nada como uma venda, mas sim uma desintegração da união nacional, ao estilo da separação da Rep. Checa da Eslováquia, ou da separação da Iugoslávia, sei lá...

Da mesma forma como não faz sentido falar em venda da Amazônia, visto que ela está hoje tomada por instituições com soberanias próprias, não faz sentido falar dos cidadãos daquela região como cidadãos brasielrios de uma "classe" especial que está vivendo lá como uma espécie de favor aos outros. Não faz sentido dizer que algum habitante de Santarém vive lá como uma forma de favor a mim, Belo Horizontino residente em São Paulo. Porque não poderia eu dizer que estou aqui na Mata Atlântica, morando em São Paulo como um favor ao povo Amazonense?

Quem acha isso considera a Amazônia uma forma de colônia, no mau-sentido mesmo. Considera que é um sub-estado, não totalmente autônomo. Considera os cidadãos de lá são como pessoas que abriram mão de viverem "na metrópole". Isso é o pensamento colonialista que era pra ter ficado lá no século XVIII, XIX. Não dá mais pra pensar assim, cara.

O Acre não foi "vendido" pela Bolívia, (muito menos pelo preço de um cavalo, que aliás eram dois, brancos e lindos). Aquela terra estava antes de mais nada invadida por um grande número de brasileiros. Houve guerras, tentativa de independência, etc. O acordo de Petrópolis não "deu o Acre ao Brasil". A Bolívia reconheceu que não possuía mais soberania sobre o território, e o Brasil aceitou a integração do Estado do Acre na Federação. O ressarcimento foi justo porque a terra foi invadida...

Se as ONGs e missionárias dos EUA conseguirem trazer um grande número de colonos pra Amazônia, mesmo que sejam imigrantes mexicanos ilegais, e aí ainda convencer os índios a pedirem independência, etc, aí pode até ser que role um contexto pro resto do Brasil receber um tipo de ressarcimento... Mas ainda assim não seri a uma "Venda da Amazônia"...

Repito, A Amazônia não é "nossa" para a vendermos, mas sim do povo que a habita de forma soberana, e lá estão pelo mesmo motivo que nós no sudeste estamos aqui: "por sim".

Essa conversa de que os amazonenses moram lá como um favor para nós, sudestinos e o resto dos brasileiros, é um absurdo. O mesmo parece que é dito às vezes dos nordestinos da caatinga, carregando suas perenes latas d'água na cabeça... Amigos: por mim, vocês não precisam fazer isso não, tá?? Assim como aquele cara do Hair diz pro outro, que por ele ninguém precisava ir lutar no Vietnã, eu digo: por mim ninguém precisa se esforçar pra morar ali não. Se não é pra morar com vontade, por seu próprio e livre arbítrio, então esquece!...

Ouvi falar que ali na Amazônia tem muito é cearense, como aqui no sudeste. Eu mesmo tenho minha fração de sangue cearense (e até Amazônico na verdade). De onde surgiu esse sentimento de que os imigrantes de um destino tem alguma forma de obrigação para com os de outro? Nunca ouvi falar em japoneses do Paraná se preocuparem com os do Peru, ou dos italianos de lá sentirem empatia pelos que foram pra Eritréia...

Mais do que isso, de onde surgiu esse sentimento de metrópole e colônia, colocando o Sudeste (o Brasil rico, o "nós" que poderiamos escolher vender a Amazônia) como uma metrópole que está se esforçando para colonizar esse outro pedaço aí do Brasil? Isso é uma visão imperialista absurda. Ponto final.

Não tem que nem vender, nem dar apoio. Não tem que nada. Nenhum brasileiro tem obrigação nenhuma ou dever nenhum para com outros brasileiros, somos apenas cidadãos, habitantes normais, cada um em nossas terras, com seus próprios problemas. Os únicos brasileiros especiais são os que estão nas nossas bases de pesquisa lá na Missão Antártida, e talvez os da ilha de Matrim Vaz, essas coisas... Se tem que haver algum apoio financeiro, etc, é por uma decisão de governo negociada entre iguais, e não uma decisão colonial em que uma parte é hierarquicamente à outra.

No comments: