Poeminha bobo aí que eu pensei outro dia no ônibus. Alguns argumentam que não teria nada de poésico, mas fazer o que, sorte que não sou poeta profissional!
De um lado da rua vem o caminhão de lixo,
Recolhendo.
Do outro o dos correios,
Entregando.
Poeminha bobo aí que eu pensei outro dia no ônibus. Alguns argumentam que não teria nada de poésico, mas fazer o que, sorte que não sou poeta profissional!
De um lado da rua vem o caminhão de lixo,
Recolhendo.
Do outro o dos correios,
Entregando.
Whiskey & Wimmin´: Vamos fazer um fanzine?
Poema (sacana) em tributo à iniciativa fanzineira e apoética do meu irmão...
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Neste momento mundano
comum como outro qualquer
sinto uma coisa mudando
formando-se inexorável
beirando o intolerável
e visível para quem quiser.
Sinto o cheiro de tonner.
Design igual do Hans Donner.
Diagramações ousadas
e tiradas incomparadas.
Livros, filmes e músicas.
Quadrinhos e RPG.
Piadas, protestos, pinturas.
Teatro, jornal e TV.
Quem sabe uma coisa moderna?
blogs, MMORPGS, casts,
iTunes e buscas no you-tube?
Só lhe rogo evite os poemas.
Sejam rimas brancas, negras, indígenas.
Concretos, sonetos, oníricos.
Sejam sapos acadistas,
soldados futuristas,
românticos realistas,
comunistas, cristãos.
Poupe-me de estrofes e rimas esnobes
Açúcar sintático, proezas métricas.
Flor, amor, loucura, dor, tá tá tá!!
A idéia, resumo, é a seguinte:
Papel, caneta, grafite.
Prepare o suco e o biscoito.
Craqueie o InDesign 8.
Agora responda, e não desatine.
Não fique nervoso e não alucine.
Me diz numa boa, e perdoe que eu rime:
Vamos fazer um fanzine???
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Podia ser pior, podia ter rimado fanzine com momento sublime!
Fiz um "poema" sobre a crise nos aeroportos.
aqui!
...tb vou colar aqui pra não dar trabalho :P
AEROPORTOS (27/03/2007) -- Nicolau Werneck
Em Congonhas os vôos nunca terminam, as naves nunca saem do céu.
Uma fina camada de água separa a borracha do asfalto. A pista de hectômetros de
comprimento e vários estádios de área jamais é alcançada pelos trens de pouso,
que buscam fracassadamente pelo atrito.
Como num paradoxo de Zenão contemporâneo, as gaivotas dumônicas de titânio são
impedidas de jamais chocarem-se com a rigidez áspera do solo, enquanto
cachorros e quero-queros povoam o almejado elíseo como tontas tartarugas.
E perpetuam-se no ar, voando em delírios, sonhando sem contato com a realidade,
com os amortecedores frios, sem transferência de energia cinética, sem troca de
calor ou de massa.
Em Cumbica, a paisagem é onírica, morfética. O ar transparente de brigadeiro dá
lugar a uma névoa espêssa, quase sólida, ectoplásmica. A substância se
esparrama entre as naves. Outrora não veríamos nada, além daquele ar que de
forma ingênua e freqüente taxamos de "vazio," mas que é na realidade o mar
atmosférico em que nossos pingüins de alumínio graciosamente deslisam e migram.
Mas agora, imersos no vapor opaco, as aves apenas erguem seus narizinhos
petulantes, como que aguardando pelo fim dum inconveniente inverno.
Só que havia ainda outro mar, outra substância para navegar. A luz frágil e
tênue não penetra a bruma coloidal, e nos torna cegos com nossos olhos
mundanos, olhos já confusos por visões bizarras. Mas era possível ainda
navegarmos pelas ondas de um éter de outro mundo, de dimensões ortogonais a
estas em que estamos. Podiamos fugir prum universo ainda não conspurcado,
ainda não anestesiado, guiados por leais espectros intangíveis.
Sim, era possível nos fiar naqueles que nasceram guerreiros, e hoje nos guiam
em incansável missão civil. Os sistemas de radio-navegação, beligerantes
veteranos da Segunda Guerra, filhos da Saxônia de Hertz e da Bretanha de
Maxwell, aquelas mesmas das nebulosas Valhöll e Avalon. Talvez com aquelas
antenas --- candeeiros eletromagnéticos de luz artificial, pudéssemos
empreender nossas jornadas, com a benção do padre Landell. Talvez estas
antenas, incansáveis bastiães vigilantes, pudessem soprar ondas grandes, lentas
e inexoraveis, e mandar para longe a neblina sobre nossas esperanças.
Qual o que. De novo furou-se a canoa, de novo soçobrou o barco. Parados ficaram
todos sem jamais cruzar a maré, sem jamais sofrer a transição crucial dos
pousos e decolagens. Uns do lado de cá, pés fincados na areia, mortos na praia
sem sair. Outros mortos sem chegar, com os pés molhados, olhos cansados da
passagem longa, encaram incrédulos aqueles que ainda não foram.
Encaram e aguardam em silêncio, enquanto lhes é proibido cruzar a linha de
espuma da maré inerte. A linha que define uma superfície infinita e
intransponível, lençol dúctil de um fantasma inexorcisável. Aguardam sem poder
tocar os irmãos, sem poder dar-lhes as mãos para lhes oferecer assento no bote
viajante, e sem poder abordar o navio de pedra continental. Aguardam sem
poderem ao menos jogar uma partida de frescobol.