2008/12/05


A mensagem de Pessoa

Finalmente achei na Internet um bom depósito de poemas de Fernando Pessoa. Lá tem na íntegra o único livro (em Português) publicado pelo poeta em vida, Mensagem, que fala sobre os gloriosos navegadores portugueses. Esse livro contem o famoso poema Mar Português, com os versos “quanto do teu sal/são lágrimas de Portugal”.

Lendo esse livro num livraria outro dia, vi um outro poema que achei muito bom. É sobre Fernão de Magalhães. Pra quem não conhece, a Wikipédia informa: navegador português, liderou uma expedição espanhola que buscava atingir a região da Indonésia através do oceano pacífico, e eventualmente circumnavegar o planeta. Magalhães morreu no meio do caminho, entretanto, na Batalha de Mactan. O navegador basco Juan Sebastián Elcano liderou o resto da viagem até a Espanha. Mas Magalhães ainda foi um dos primeiros homens a cruzar todos meridianos, entretanto, porque já estivera lá na Indonésia anteriormente, só que vindo pelo caminho desbravado por Vasco da Gama.

(O primeiro capitão a sair e voltar pra casa comandando sua expedição acho que foi o inglês James Cook.)

Aí vai o poema...


No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.

De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto -
Cingi-lo, dos homens, o primeiro -,
Na praia ao longe por fim sepulto.

Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.

Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.

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